São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Disputa de 2008 desafia tradições políticas dos EUA

Democrata Hillary Clinton e republicano Rudolph Giuliani saem na frente nas pesquisas

Fato de que nem presidente nem vice vão concorrer adianta corrida sucessória; pela primeira vez negro e mulher têm chances reais

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Desde 1953, um dos dois ocupantes da Casa Branca concorre na eleição presidencial seguinte. Nas eleições de 2008, isso não ocorrerá. Desde 1960, nenhum senador é eleito presidente. Nas próximas eleições, a regra pode mudar. Nunca, na história do país, uma mulher ou um negro tiveram chances reais de vitória na principal corrida. Daqui a dois anos, segundo as pesquisas de intenção de voto de hoje, um deles pode vir a comandar os EUA.
A corrida sucessória de George W. Bush já começou -a 717 dias de 4 de novembro de 2008, data em que os americanos vão escolher quem chefiará o país a partir de 2009. "Começou mais cedo e com menos definição", diz o sociólogo Barry C. Burden, especialista de Harvard em campanhas presidenciais.
O motivo principal para o adiantamento e a indefinição é o fato de Bush já estar no segundo mandato, portanto impedido de concorrer, e de seu vice já ter declarado que se aposentará da política após o atual mandato. Ex-fumante, Dick Cheney já teve quatro ataques cardíacos e passou por três cirurgias no coração. Sua saúde já deixava dúvidas de que conseguiria ser eleito vice em 2000; em 2008, terá 67 anos.
No último meio século, foi o presidente ou seu vice que deram o tom da campanha sucessória. Não mais. "Esse campo totalmente aberto encoraja todo tipo de candidato", diz Burden, que também é professor de sociologia da Universidade de Wisconsin-Madison e escreveu ou editou três livros sobre o processo eleitoral americano.

Decisão histórica
Na última semana, dois republicanos de peso anunciaram ou deram indícios de que vão tentar a indicação de seu partido: o senador John McCain (Arizona) e o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. E a democrata Hillary Clinton decidiu manter a estrutura do escritório de campanha que a reelegeu ao Senado por Nova York.
Os três são os primeiros colocados em pesquisa recente feita pelo Instituto Ipsos a pedido da emissora CNN. Entre os que se dizem democratas, Hillary tem 28% dos votos, seguida pelo colega Barack Obama (Illinois), com 17%. Entre os republicanos, Giuliani e McCain estão empatados, com 29% e 27%.
Se os resultados valessem, a disputa pelas indicações dos dois partidos majoritários se daria entre uma mulher, um negro, um ex-prefeito e um senador, todos com chances. É histórico. Os últimos oito presidentes eram ou tinham sido vices (Lyndon Johnson, Richard Nixon, Gerald Ford, George Bush pai) ou governadores (Jimmy Carter, Ronald Reagan, Bill Clinton e Bush).
Nenhum dos 43 presidentes já eleitos era negro ou do sexo feminino. Embora o reverendo Jesse Jackson tenha concorrido duas vezes à indicação democrata, nunca teve chances reais. E, embora 25 mulheres tenham concorrido à Presidência, nenhuma era dos dois grandes partidos. A que chegou mais perto da Casa Branca foi Geraldine Ferraro, que em 1984 foi indicada vice na chapa de Walter Mondale. Perderiam para a dupla Reagan-Bush pai.
Isso se os resultados da pesquisa valessem. Mas costumam não valer. Pelo menos não as que são feitas tão cedo. "De modo geral, os favoritos do começo nunca são escolhidos pelos partidos", diz Burden, citando como exemplo os dois primeiros colocados entre os democratas no início da sucessão de 2004: o senador Joe Lieberman (Connecticut) e o ex-governador Howard Dean (Vermont).
Quem acabou levando nas primárias foi um senador azarão de Massachusetts, John Kerry -e Lieberman virou candidato a vice. É que o gosto dos eleitores comuns e dos eleitores das primárias -convenções estaduais que escolhem o pré-candidato- costuma diferir. No campo democrata, por exemplo, os primeiros preferem governadores; os segundos, senadores.

Mudanças
Mas essa é uma eleição sui generis, na qual provavelmente novas regras serão escritas. "O que os eleitores fizeram foi abrir uma porta para uma nova era na política", escreveu Joe Trippi, autor de "The Revolution Will Not Be Televised" (a revolução não será televisionada). "E seu apetite por uma nova direção não terminou nas eleições legislativas do dia 7 [vencidas pelos democratas]."
Para o ex-estrategista de Howard Dean, entre as novidades da próxima eleição estará o fato de que um dos candidatos deve arrecadar meio bilhão de dólares, um recorde, e a maior parte do dinheiro virá não de lobbys e empresas, mas de contribuições individuais.
Deve ainda ser considerado o "fator azarão". Nessa categoria entram nomes tão variados quanto a atual secretária de Estado, Condoleezza Rice, que já disse várias vezes que pretende voltar a dar aulas na Universidade Stanford quando sair do governo, e o governador da Califórnia, o republicano Arnold Schwarzenegger, hoje impedido pela Constituição de concorrer ao cargo (leia abaixo).
Cabem também nomes como o governador da Flórida, o primeiro-irmão Jeb Bush, que tem a seu favor o cargo, a vontade de concorrer e o sangue azul (o que, dependendo da situação do Iraque em 2008, pode jogar contra). Ou o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, ex-democrata que virou republicano e teria dito a amigos que pode concorrer de forma independente, como já fez outro milionário, Ross Perot.


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