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Disputa de 2008 desafia tradições políticas dos EUA
Democrata Hillary Clinton e republicano Rudolph Giuliani saem na frente nas pesquisas
Fato de que nem presidente nem vice vão concorrer adianta corrida sucessória; pela primeira vez negro e mulher têm chances reais
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Desde 1953, um dos dois ocupantes da Casa Branca concorre na eleição presidencial seguinte. Nas eleições de 2008,
isso não ocorrerá. Desde 1960,
nenhum senador é eleito presidente. Nas próximas eleições, a
regra pode mudar. Nunca, na
história do país, uma mulher ou
um negro tiveram chances
reais de vitória na principal
corrida. Daqui a dois anos, segundo as pesquisas de intenção
de voto de hoje, um deles pode
vir a comandar os EUA.
A corrida sucessória de George W. Bush já começou -a 717
dias de 4 de novembro de 2008,
data em que os americanos vão
escolher quem chefiará o país a
partir de 2009. "Começou mais
cedo e com menos definição",
diz o sociólogo Barry C. Burden, especialista de Harvard
em campanhas presidenciais.
O motivo principal para o
adiantamento e a indefinição é
o fato de Bush já estar no segundo mandato, portanto impedido de concorrer, e de seu
vice já ter declarado que se aposentará da política após o atual
mandato. Ex-fumante, Dick
Cheney já teve quatro ataques
cardíacos e passou por três cirurgias no coração. Sua saúde já
deixava dúvidas de que conseguiria ser eleito vice em 2000;
em 2008, terá 67 anos.
No último meio século, foi o
presidente ou seu vice que deram o tom da campanha sucessória. Não mais. "Esse campo
totalmente aberto encoraja todo tipo de candidato", diz Burden, que também é professor
de sociologia da Universidade
de Wisconsin-Madison e escreveu ou editou três livros sobre o
processo eleitoral americano.
Decisão histórica
Na última semana, dois republicanos de peso anunciaram
ou deram indícios de que vão
tentar a indicação de seu partido: o senador John McCain
(Arizona) e o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. E a
democrata Hillary Clinton decidiu manter a estrutura do escritório de campanha que a reelegeu ao Senado por Nova York.
Os três são os primeiros colocados em pesquisa recente feita
pelo Instituto Ipsos a pedido da
emissora CNN. Entre os que se
dizem democratas, Hillary tem
28% dos votos, seguida pelo colega Barack Obama (Illinois),
com 17%. Entre os republicanos, Giuliani e McCain estão
empatados, com 29% e 27%.
Se os resultados valessem, a
disputa pelas indicações dos
dois partidos majoritários se
daria entre uma mulher, um
negro, um ex-prefeito e um senador, todos com chances. É
histórico. Os últimos oito presidentes eram ou tinham sido vices (Lyndon Johnson, Richard
Nixon, Gerald Ford, George
Bush pai) ou governadores
(Jimmy Carter, Ronald Reagan, Bill Clinton e Bush).
Nenhum dos 43 presidentes
já eleitos era negro ou do sexo
feminino. Embora o reverendo
Jesse Jackson tenha concorrido duas vezes à indicação democrata, nunca teve chances
reais. E, embora 25 mulheres
tenham concorrido à Presidência, nenhuma era dos dois grandes partidos. A que chegou
mais perto da Casa Branca foi
Geraldine Ferraro, que em
1984 foi indicada vice na chapa
de Walter Mondale. Perderiam
para a dupla Reagan-Bush pai.
Isso se os resultados da pesquisa valessem. Mas costumam
não valer. Pelo menos não as
que são feitas tão cedo. "De modo geral, os favoritos do começo
nunca são escolhidos pelos partidos", diz Burden, citando como exemplo os dois primeiros
colocados entre os democratas
no início da sucessão de 2004: o
senador Joe Lieberman (Connecticut) e o ex-governador
Howard Dean (Vermont).
Quem acabou levando nas
primárias foi um senador azarão de Massachusetts, John
Kerry -e Lieberman virou candidato a vice. É que o gosto dos
eleitores comuns e dos eleitores das primárias -convenções
estaduais que escolhem o pré-candidato- costuma diferir.
No campo democrata, por
exemplo, os primeiros preferem governadores; os segundos, senadores.
Mudanças
Mas essa é uma eleição sui
generis, na qual provavelmente
novas regras serão escritas. "O
que os eleitores fizeram foi
abrir uma porta para uma nova
era na política", escreveu Joe
Trippi, autor de "The Revolution Will Not Be Televised" (a
revolução não será televisionada). "E seu apetite por uma nova direção não terminou nas
eleições legislativas do dia 7
[vencidas pelos democratas]."
Para o ex-estrategista de Howard Dean, entre as novidades
da próxima eleição estará o fato
de que um dos candidatos deve
arrecadar meio bilhão de dólares, um recorde, e a maior parte
do dinheiro virá não de lobbys e
empresas, mas de contribuições individuais.
Deve ainda ser considerado o
"fator azarão". Nessa categoria
entram nomes tão variados
quanto a atual secretária de Estado, Condoleezza Rice, que já
disse várias vezes que pretende
voltar a dar aulas na Universidade Stanford quando sair do
governo, e o governador da Califórnia, o republicano Arnold
Schwarzenegger, hoje impedido pela Constituição de concorrer ao cargo (leia abaixo).
Cabem também nomes como
o governador da Flórida, o primeiro-irmão Jeb Bush, que
tem a seu favor o cargo, a vontade de concorrer e o sangue azul
(o que, dependendo da situação
do Iraque em 2008, pode jogar
contra). Ou o prefeito de Nova
York, Michael Bloomberg, ex-democrata que virou republicano e teria dito a amigos que
pode concorrer de forma independente, como já fez outro
milionário, Ross Perot.
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