São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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EUA fracassam em abrandar Paquistão

Número dois do Departamento de Estado deixa Islamabad sem obter da ditadura suspensão do estado de emergência

Para Negroponte, ditador deveria sustar estado de exceção para permitir eleições; governo marca data do pleito, sob o decreto

Asim Tanveer/Reuters
Jornalistas paquistaneses protestam contra fechamento de duas emissoras de TV, em Multan


DA REDAÇÃO

O Paquistão rejeitou ontem formalmente as pressões americanas para suspender o estado de emergência e libertar os prisioneiros políticos. O porta-voz da Chancelaria, Mohammed Sadiq, disse "não haver nada de novo" nas propostas feitas em Islamabad pelo número dois do Departamento de Estado, John Negroponte.
O fracasso da missão americana já era previsível, já que no sábado o ditador Pervez Musharraf afirmou à BBC ser necessária a exceção constitucional para proteger o arsenal nuclear de seu país. Ontem o "New York Times" divulgou que os EUA gastaram nos últimos seis anos US$ 100 milhões para dar segurança às instalações nucleares paquistanesas, mas que não há certeza sobre a invulnerabilidade do arsenal, em razão das dúvidas sobre a possibilidade de Musharraf sobreviver a atual crise.
Musharraf se mantém em seu posto em razão da fragmentação da oposição, que ainda não se firmou como alternativa. No poder desde 1999, ele provocou uma crise institucional ao expurgar a Corte Suprema, que tendia a bloquear sua reeleição, porque ele também detém a chefia militar do país.
O general tem argumentado que apenas levantaria o estado de emergência, baixado no último dia 3, caso cheguem ao fim as agitações internas. Numa concessão à pressão, porém, Musharraf anunciou ontem que "recomendará" à Comissão Eleitoral que convoque eleições legislativas para 8 de janeiro, dentro do prazo legal.

Radicalismo islâmico
O regime militar paquistanês também é contestado nas cidades por radicais muçulmanos, ligados ou não aos campos de treinamento da Al Qaida, na região montanhosa que faz fronteira com o Afeganistão.
Pouco antes de voltar a Washington, Negroponte exortou ontem o governo a suspender o estado de emergência, que "não é compatível com eleições livres", numa menção às legislativas. O diplomata também insistiu na necessidade de diálogo entre Musharraf e Bhutto -ela teve suspensa a prisão domiciliar na semana passada.
Um dos assessores do ditador disse que, ao receber no sábado Negroponte, ele argumentou ser preciso o estado de emergência para que se tenham eleições razoáveis.
A administração Bush é de certo modo refém de Musharraf, já que sua queda poderia, em tese, colocar os arsenais atômicos ao alcance dos radicais islâmicos. O ditador tem-se sustentado em parte com o dinheiro americano, liberado em Washington em nome da "guerra ao terrorismo".
O "New York Times" diz que Washington treinou agentes de segurança paquistaneses em território americano e montou um centro de treinamento para agentes no Paquistão. Forneceu ainda veículos, helicópteros e equipamentos de vigilância de alta tecnologia.

Mútua desconfiança
Mas, em contrapartida, a ditadura não demonstra o mesmo grau de confiança, tanto que responsáveis pelo arsenal atômico não informaram aos americanos em que local estão armazenadas as ogivas e a quantidade de combustível existente para a construção de novas bombas.
Essa relação de desconfiança determinou o não-fornecimento ao Paquistão de tecnologia de segurança para os disparos da bomba. Os paquistaneses temiam que a ativação desses dispositivos permitisse aos EUA a imobilização das espoletas que detonam as ogivas.


Com agências internacionais


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