|
Próximo Texto | Índice
Ataques na costa somali aumentam 140%
Ação de piratas no golfo de Áden explode entre 2007 e 2008; petroleiro saudita seqüestrado é ancorado no país africano
Birô Marítimo Internacional contabiliza 95 ataques no Chifre da África; 17 navios com 339 reféns estão em poder dos criminosos
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
O petroleiro Sirius Star,
maior navio já seqüestrado por
piratas, alcançou a costa somali
e foi ancorado ontem em Harardhere, bastião dos criminosos. Com carga avaliada em
US$ 100 milhões, o navio saudita de bandeira liberiana foi capturado a 830 km da costa, na
mais ousada ação dos grupos
que desafiam a crescente presença de Marinhas estrangeiras na região. Acredita-se que
os 25 tripulantes estejam bem.
"Não existem mais águas seguras enquanto os piratas estiveram em atuação", disse à Folha o vice-diretor do Birô Marítimo Internacional, Michael
Howlett. Dezessete navios com
339 reféns estão em poder dos
criminosos na área, conta Howleet, que registrou 95 ataques
neste ano no Chifre da África.
Os dados incluem o Delight,
cargueiro de Hong Kong que
transportava trigo para o Irã e
foi seqüestrado ontem, e o
ucraniano MV Faina, dominado quando levava tanques e armamentos russos para o Quênia, em setembro
A ação dos criminosos torna
a costa somali, passagem estratégica entre o oceano Índico e o
canal de Suez, a zona mais perigosa do mundo para a navegação. O aumento dos ataques
apenas no golfo de Áden entre
2007 e setembro deste ano foi
de 140%. Algumas transportadoras, como a norueguesa Odfjell, abandonaram a rota.
O Sirius Star fazia, porém, caminho mais longo e relativamente seguro, pelo cabo da Boa
Esperança, na África do Sul. Foi
seqüestrado a centenas de quilômetros do chamado "Beco
dos Piratas", provocando perplexidade internacional.
A utilização de navios-mãe,
com orientação por GPS, explica como os piratas conseguiram expandir dramaticamente
o alcance das ações. Antes restritos à costa, os criminosos
passaram a atuar em distâncias
cada vez maiores.
A indústria do seqüestro
prosperou e o preço dos seguros de embarcações aumentou
dez vezes, segundo relatório do
instituto de pesquisas internacionais Chatham House. A conta é rateada por consumidores
de todo o mundo, obrigados a
pagar mais pelos importados.
Howlett conta que os piratas
somalis normalmente usam
um navio como base, partindo
em direção ao alvo em pequenas lanchas. Às vezes usam foguetes para forçar embarcações a diminuir a velocidade e
permitir que escalem os cascos
dos navios. Armados com fuzis
automáticos, como os AK-47,
dominam a tripulação e conduzem o navio à costa somali, onde negociam resgate por telefone via satélite.
O Birô Maritimo Internacional cataloga dados sobre embarcações usadas pelos criminosos e critica a inação as Marinhas internacionais, autorizadas a combater a pirataria em
águas somalis por resolução do
Conselho de Segurança da
ONU, aprovada em junho.
"O consenso internacional
demora em produzir efeito prático porque depende da disponibilidade dos países desenvolvidos e da articulação com governos da região", diz o analista
político Paul Burton, do Conselho Internacional em Segurança e Desenvolvimento.
Com base naval em Djibuti,
os EUA são a principal força
ocidental na área. No mês passado, os ministros da Defesa da
União Européia aprovaram
uma missão naval no golfo de
Áden, com objetivo de "dissuadir, prevenir e reprimir" a pirataria. Os quatro a seis navios
prometidos pelo bloco, porém,
são pouco, dizem analistas.
"Uma das soluções de curto
prazo é o uso de escoltas privadas", diz Burton. O tempo médio entre o momento em que o
piratas são avistados e a tomada do navio não supera 10 minutos, o que torna inviável que
peçam socorro.
"Os piratas são uma conseqüência da falência do Estado",
resumiu em entrevista à Folha
o autor do relatório da Chatham House, Roger Middleton,
pessimista sobre as perspectivas de estabilidade no país,
conflagrado há 17 anos. Os
principais prejudicados são os
somalis. A ajuda internacional
chegou a ser paralisada, em
meio à seca e grave crise humanitária, por falta de segurança.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Comentário: Vácuo de governo permite ações Índice
|