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Comércio sobe, mas promessas chinesas de investimento custam a sair do papel
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Com 600 pessoas na comitiva, o presidente chinês, Hu Jintao, volta a prometer investimentos bilionários na América
Latina. Mas, pelo que se viu no
Brasil e na Argentina, esses investimentos podem ser mais
retórica de relações públicas do
que dinheiro vivo.
Ao contrário do que acontece
no comércio, os investimentos
patinam. Dos US$ 100 bilhões
que Hu prometeu investir no
Brasil e na Argentina em 2004,
quando visitou os dois países,
menos de 0,1% chegou ao Brasil
-em 2006, último dado oficial
chinês, só US$ 71 milhões foram investidos no país.
Uma siderúrgica orçada em
US$ 3,3 bilhões que a chinesa
Baosteel instalaria no Brasil
não saiu do papel, assim como
outros investimentos prometidos na Venezuela, na Argentina
e na Colômbia.
Já o comércio da China com a
América Latina cresceu dez vezes desde 2000. Só entre janeiro e setembro deste ano, foi de
US$ 111 bilhões. Ainda pouco,
se comparado com o comércio
com os EUA -US$ 560 bilhões.
Os maiores parceiros comerciais da China são Brasil, México, Chile e Argentina -só os
dois últimos têm superávit comercial com Pequim. A China
compra matérias-primas, principalmente ferro, cobre e soja, e
exporta produtos industrializados, incluindo computadores.
"Os chineses pensam a longuíssimo prazo, então preferem investir onde não haja mudanças repentinas de poder",
afirma o jornalista americano
Joshua Kurlantzick, autor do
livro "Charm Offensive -How
China's Soft Power Is Transforming the World" (Ofensiva de
Charme - Como o Poder de
Persuasão da China Está
Transformando o Mundo).
"Por isso, há muitos investimentos em ditaduras africanas
e asiáticas, assim como na democrática África do Sul, onde o
partido Congresso Nacional
Africano tem tudo para ficar
muitos anos no poder", disse
Kurlantzick à Folha.
Segundo a última estimativa
oficial chinesa, o país investiu
cerca de US$ 21 bilhões em
2006 no exterior, comprando
empresas e investindo em minas e poços de petróleo em países como Cazaquistão, África
do Sul, Sudão e Paquistão.
"Os empresários chineses ficam chocados quando vêem
países muito mais pobres e menores, como a Zâmbia, na África, com sindicatos fortes, protestos articulados, jornais independentes. Eles não estão
preparados para negociar com
problemas que são inexistentes
na China, como jornais ou sindicatos livres", diz Kurlantzick.
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