São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2008

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Comércio sobe, mas promessas chinesas de investimento custam a sair do papel

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Com 600 pessoas na comitiva, o presidente chinês, Hu Jintao, volta a prometer investimentos bilionários na América Latina. Mas, pelo que se viu no Brasil e na Argentina, esses investimentos podem ser mais retórica de relações públicas do que dinheiro vivo.
Ao contrário do que acontece no comércio, os investimentos patinam. Dos US$ 100 bilhões que Hu prometeu investir no Brasil e na Argentina em 2004, quando visitou os dois países, menos de 0,1% chegou ao Brasil -em 2006, último dado oficial chinês, só US$ 71 milhões foram investidos no país.
Uma siderúrgica orçada em US$ 3,3 bilhões que a chinesa Baosteel instalaria no Brasil não saiu do papel, assim como outros investimentos prometidos na Venezuela, na Argentina e na Colômbia.
Já o comércio da China com a América Latina cresceu dez vezes desde 2000. Só entre janeiro e setembro deste ano, foi de US$ 111 bilhões. Ainda pouco, se comparado com o comércio com os EUA -US$ 560 bilhões.
Os maiores parceiros comerciais da China são Brasil, México, Chile e Argentina -só os dois últimos têm superávit comercial com Pequim. A China compra matérias-primas, principalmente ferro, cobre e soja, e exporta produtos industrializados, incluindo computadores.
"Os chineses pensam a longuíssimo prazo, então preferem investir onde não haja mudanças repentinas de poder", afirma o jornalista americano Joshua Kurlantzick, autor do livro "Charm Offensive -How China's Soft Power Is Transforming the World" (Ofensiva de Charme - Como o Poder de Persuasão da China Está Transformando o Mundo).
"Por isso, há muitos investimentos em ditaduras africanas e asiáticas, assim como na democrática África do Sul, onde o partido Congresso Nacional Africano tem tudo para ficar muitos anos no poder", disse Kurlantzick à Folha.
Segundo a última estimativa oficial chinesa, o país investiu cerca de US$ 21 bilhões em 2006 no exterior, comprando empresas e investindo em minas e poços de petróleo em países como Cazaquistão, África do Sul, Sudão e Paquistão.
"Os empresários chineses ficam chocados quando vêem países muito mais pobres e menores, como a Zâmbia, na África, com sindicatos fortes, protestos articulados, jornais independentes. Eles não estão preparados para negociar com problemas que são inexistentes na China, como jornais ou sindicatos livres", diz Kurlantzick.


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