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Longe de um consenso, UE escolhe hoje seu presidente
Países têm divergências sobre perfil e origem de novo homem forte do bloco
Nome mais cotado até ontem era o premiê belga, Herman Van Rompuy, mas candidatura de Tony Blair ainda mantinha adeptos
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A União Europeia escolhe
hoje seu primeiro presidente,
mas o cabo de guerra político
que por dois anos protelou a
aprovação do Tratado de Lisboa (o documento que moderniza a estrutura política do bloco) não vai acabar no jantar
desta noite.
A horas de a decisão inédita
ser tomada em Bruxelas pelos
líderes dos 27 países-membros,
ninguém fazia ideia de quem
seria o presidente, de que país
deveria vir ou qual perfil político deveria ter. Até agora, a presidência rodava a cada semestre entre os integrantes, mas o
inchaço do bloco tornou o modelo inviável.
O escolhido terá mandato de
dois anos e meio renovável uma
vez. O atual favorito é o premiê
belga, Herman Van Rompuy,
um político de centro-direita
há menos de um ano no cargo
que superou o colega Jean-Claude Juncker, cujas chances
diminuíram por vir ele do diminuto Luxemburgo.
Sua liderança nas apostas, no
entanto, é tão tíbia quanto sua
experiência e seu nome, que carece do apoio dos governos de
esquerda e daqueles para quem
o bloco precisa de um líder que
ressoe globalmente se quiser
fazer frente a EUA e China.
Os que endossam essa visão
continuam a apostar no ex-premiê britânico Tony Blair, mas
suas chances se esvaem na proporção que cresce o rechaço
dos países centro-europeus, favoráveis a alguém mais à direita, e as discussões dentro do
próprio Reino Unido, onde a
oposição o descreve como um
líder que privilegiou os EUA em
detrimento da Europa.
Nessa linha, a alternativa
mais citada é o ex-premiê sueco
de centro-direita Carl Bildt.
Rumores de acordos de bastidores irritaram alguns políticos lançados como candidatos
-não há lista oficial, mas mais
de 20 nomes já foram citados.
Noite longa
As três semanas que decorreram desde a decisão do presidente tcheco, Vaclav Klaus, de
assinar o tratado e derrubar o
último obstáculo à sua implementação em 2010 foram pouco para afinar um coro com vozes tão dissonantes política,
econômica e historicamente.
A julgar pelas declarações
mais recentes dos líderes e pelas análises na mídia europeia,
o jantar desta noite, quando os
chefes de Estado e de governo
apontarão um nome, deve refletir todas essas polarizações.
Ainda ontem, o premiê direitista Silvio Berlusconi (Itália) disse que ele e seus colegas estavam longe do entendimento.
O Tratado de Lisboa visa modernizar estruturas que ficaram anacrônicas quando a UE
cresceu de 15 para 27 membros.
O estatuto cria cargos com real
poder -embora não defina
quem representará o bloco- e
estabelece a maioria qualificada para agilizar um processo
decisório por consenso que frequentemente trava.
Essa dificuldade congênita
que fez da UE um parceiro disfuncional em fóruns globais deve ser levada à mesa hoje, como
adiantou o premiê sueco Fredrik Reinfeldt, na presidência
rotativa do bloco. "Temos os
nomes [para os cargos]? Não
sei. Pode levar horas. Pode levar a noite toda. É para isso que
estou me preparando."
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