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SUCESSÃO NOS EUA / RELAÇÕES PERIGOSAS
Árabes e bancos lideram doações a Clinton
Para que Hillary possa ser chanceler, ex-presidente divulga nomes de mais de 200 mil contribuintes de sua fundação
Arábia Saudita é um dos maiores financiadores na lista, que inclui instituições ajudadas pelo governo, grupos de mídia e brasileiros
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Confirmando o pesadelo dos
especialistas em conflitos de
interesse do futuro governo de
Barack Obama, a lista dos
maiores doadores à fundação
do ex-presidente Bill Clinton é
dominada por governos de países estrangeiros, principalmente árabes, instituições financeiras recentemente auxiliadas pelo Tesouro americano
e empresas com interesses na
política externa do país.
Entre os maiores doadores
da entidade beneficente, com
quantias que vão de US$ 1 milhão a US$ 25 milhões, estão a
Arábia Saudita (um conflituoso
aliado dos EUA no Oriente Médio, fornecedor de petróleo e
berço de Osama bin Laden e de
15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro), os governos do Kuait;
de Qatar, do Brunei, de Omã e
entidades ligadas a eles.
Da lista consta também o
centro de treinamento da polêmica Blackwater, empresa de
segurança que presta serviços
ao Departamento de Estado a
ser comandado por Hillary
Clinton e que teve funcionários
recentemente indiciados nos
EUA pela morte de 17 civis iraquianos.
A divulgação de mais de 200
mil nomes faz parte de um
acordo feito entre o ex-presidente (1993-2001) e o futuro
governo como precondição para que Hillary Clinton fosse
convidada para o cargo de secretária de Estado. Desde sua
criação, em 1997, até hoje, a entidade levantou US$ 492 milhões em doações.
O dinheiro serve para pagar a
biblioteca que leva o nome do
ex-presidente e financiar as atividades filantrópicas do político pelo mundo. A lei norte-americana não exige a divulgação dos nomes, e Bill Clinton se
recusava a torná-los públicos.
Lobby
Navegar pela lista de doadores, que contribuíram sob a garantia de anonimato e agora
vêem seus nomes divulgados
no mundo inteiro, é confirmar
um jogo de influências que até
hoje analistas políticos apenas
intuíam. Entre os maiores estão, por exemplo, os governos
de Noruega, Taiwan, Itália e Jamaica, mas também a AIG, seguradora que foi o principal receptor de ajuda financeira do
governo de George W. Bush.
Instituições financeiras beneficiadas de alguma maneira
pelas sucessivas operações-resgate recentes do Tesouro, aliás,
pululam entre os principais
doadores: Lehman Brothers,
Merrill Lynch, a fundação do
Citigroup, Bank of America,
Goldman Sachs, Freddie Mac.
Montadoras em crise? Tem a
GM. Entidades exóticas? A loteria da Holanda.
A mídia também comparece
em peso, com a News Corporation Foundation, do conservador Rupert Murdoch, dono da
Fox e do "Wall Street Journal",
entre outros; o gigante Google;
a Thomson Reuters e a Bloomberg, das agências de notícias
homônimas; Gustavo Cisneros,
dono de um dos maiores grupos
de telecomunicações em língua
hispânica do mundo; e a emissora de TV paga HBO.
Há também a gigante farmacêutica Pfizer e a multinacional
Procter & Gamble, além de personalidades como o ex-piloto
de Fórmula 1 alemão Michael
Schumacher e a atriz norte-americana Cameron Diaz.
Entre as empresas brasileiras, controladas por brasileiros
ou com origem no país, aparecem a Odebrecht Overseas Limited, o banqueiro Joseph Safra e o grupo Orsa, de celulose.
Um dos dois maiores doadores, com contribuição de mais
de US$ 25 milhões, é a Unitaid,
organização que subsidia remédios a pacientes de Aids, malária e tuberculose formada por
Brasil, Chile, França, Noruega e
Reino Unido. O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva participou
do lançamento da entidade, em
Nova York, em 2006.
O ex-presidente não comentou a lista diretamente -só
agradeceu aos doadores. Assim
que Hillary assumir o cargo, ele
terá de submeter futuras doações e compromissos a um painel de ética do departamento.
Da lista de 205 mil doadores
-2.922 páginas- posta no ar
no site da fundação ontem, 12
mil deram menos de US$ 10.
NA INTERNET
Consulte a lista completa clintonfoundation.org/contributors
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