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Ex-sub da ONU nega plano para depor Karzai
Acusado por membros da organização, ex-número dois no Afeganistão diz que denúncias são tentativa de desacreditá-lo
À Folha Peter Galbraith diz ter debatido saídas após fim de mandato de presidente; cotado para substituir líder afegão afirma ignorar plano
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Acusado de formular um plano para derrubar o presidente
do Afeganistão, Hamid Karzai,
o ex-número dois da ONU no
país, o americano Peter Galbraith, afirmou à Folha que
não só nunca conspirou por um
golpe como as afirmações nesse sentido são parte de ação para denegri-lo por denunciar
fraudes no pleito afegão.
As acusações sobre o planejamento do golpe foram feitas
em carta pelo ex-chefe de Galbraith no Afeganistão, Kai Eide; corroboradas por outros altos funcionários da ONU e pela
Embaixada dos EUA em Cabul;
e divulgadas pelo "New York
Times" anteontem.
Segundo o diário, Galbraith
propôs há cerca de três meses
uma "missão secreta" que levaria à Casa Branca um plano para forçar Karzai a renunciar e
instituir um novo governo, liderado possivelmente pelo ex-ministro do Interior Ali Jalali,
popular entre ocidentais.
Em entrevista à Folha, por
telefone da Noruega, Galbraith
disse que o que ocorreu foi uma
discussão interna na ONU após
o primeiro turno da eleição afegã, em 20 de agosto, na qual ele
denunciou graves fraudes.
"Nos disseram à época que não
seria possível organizar um segundo turno antes de maio de
2010. O mandato de Karzai tinha terminado, e a oposição
não queria deixá-lo continuar
no poder. Discutimos algum tipo de governo interino. Mas foi
algo muito informal, não era
para derrubar Karzai."
O diplomata foi demitido das
Nações Unidas em 30 de setembro, após acusar publicamente a ONU -e principalmente Kai Eide- de ignorar
intencionalmente as fraudes
na eleição afegã. Ele entrou
com processo judicial interno
na ONU contestando a demissão e pedindo retratação.
Karzai foi reeleito após a desistência de seu rival do segundo turno, que estava marcado
para novembro, desatando crise de legitimidade.
Eide acabou isolado pelas
acusações, chegando a ter o
cargo pedido por ONGs como o
influente International Crisis
Group. Foi depois de um relatório crítico desse grupo que
Eide escreveu a carta em que
acusa Galbraith, na qual diz ter
rejeitado categoricamente o
suposto plano contra Karzai.
"É mentira", contesta o diplomata. "Inicialmente Eide se
mostrou interessado [em um
governo interino], mas no dia
seguinte mudou de ideia. A
questão é que eu causei embaraços à ONU. Tudo o que eu
disse se provou correto [sobre
as fraudes]. Desde então, estão
lutando para se explicarem."
O "New York Times" ouviu
um auxiliar do vice-presidente
dos EUA, Joe Biden, que diz
que Galbraith o procurou para
"falar sobre o Afeganistão"
-possivelmente para apresentar o plano-, mas a reunião
não aconteceu. O diplomata
nega. "Mas se eu tivesse tentado falar com Biden, seria algo
natural, o conheço há anos."
Galbraith nega ainda que tenha sugerido o nome de Ali Jalali para substituir Karzai, pois
não o conhecia à época. À Folha, por e-mail, Jalali confirmou a versão: "Esta é a primeira vez que ouço falar dessa história. Só conheci Galbraith depois que ele saiu do Afeganistão". O ex-ministro diz ainda
que pensou em concorrer à
Presidência afegã, "mas desistiu devido ao ambiente pouco
saudável da campanha".
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