São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 2009

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Ex-sub da ONU nega plano para depor Karzai

Acusado por membros da organização, ex-número dois no Afeganistão diz que denúncias são tentativa de desacreditá-lo

À Folha Peter Galbraith diz ter debatido saídas após fim de mandato de presidente; cotado para substituir líder afegão afirma ignorar plano

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Acusado de formular um plano para derrubar o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, o ex-número dois da ONU no país, o americano Peter Galbraith, afirmou à Folha que não só nunca conspirou por um golpe como as afirmações nesse sentido são parte de ação para denegri-lo por denunciar fraudes no pleito afegão.
As acusações sobre o planejamento do golpe foram feitas em carta pelo ex-chefe de Galbraith no Afeganistão, Kai Eide; corroboradas por outros altos funcionários da ONU e pela Embaixada dos EUA em Cabul; e divulgadas pelo "New York Times" anteontem.
Segundo o diário, Galbraith propôs há cerca de três meses uma "missão secreta" que levaria à Casa Branca um plano para forçar Karzai a renunciar e instituir um novo governo, liderado possivelmente pelo ex-ministro do Interior Ali Jalali, popular entre ocidentais.
Em entrevista à Folha, por telefone da Noruega, Galbraith disse que o que ocorreu foi uma discussão interna na ONU após o primeiro turno da eleição afegã, em 20 de agosto, na qual ele denunciou graves fraudes. "Nos disseram à época que não seria possível organizar um segundo turno antes de maio de 2010. O mandato de Karzai tinha terminado, e a oposição não queria deixá-lo continuar no poder. Discutimos algum tipo de governo interino. Mas foi algo muito informal, não era para derrubar Karzai."
O diplomata foi demitido das Nações Unidas em 30 de setembro, após acusar publicamente a ONU -e principalmente Kai Eide- de ignorar intencionalmente as fraudes na eleição afegã. Ele entrou com processo judicial interno na ONU contestando a demissão e pedindo retratação.
Karzai foi reeleito após a desistência de seu rival do segundo turno, que estava marcado para novembro, desatando crise de legitimidade.
Eide acabou isolado pelas acusações, chegando a ter o cargo pedido por ONGs como o influente International Crisis Group. Foi depois de um relatório crítico desse grupo que Eide escreveu a carta em que acusa Galbraith, na qual diz ter rejeitado categoricamente o suposto plano contra Karzai.
"É mentira", contesta o diplomata. "Inicialmente Eide se mostrou interessado [em um governo interino], mas no dia seguinte mudou de ideia. A questão é que eu causei embaraços à ONU. Tudo o que eu disse se provou correto [sobre as fraudes]. Desde então, estão lutando para se explicarem."
O "New York Times" ouviu um auxiliar do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, que diz que Galbraith o procurou para "falar sobre o Afeganistão" -possivelmente para apresentar o plano-, mas a reunião não aconteceu. O diplomata nega. "Mas se eu tivesse tentado falar com Biden, seria algo natural, o conheço há anos."
Galbraith nega ainda que tenha sugerido o nome de Ali Jalali para substituir Karzai, pois não o conhecia à época. À Folha, por e-mail, Jalali confirmou a versão: "Esta é a primeira vez que ouço falar dessa história. Só conheci Galbraith depois que ele saiu do Afeganistão". O ex-ministro diz ainda que pensou em concorrer à Presidência afegã, "mas desistiu devido ao ambiente pouco saudável da campanha".


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