São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / PAGANDO A CONTA

Democrata herdará maior déficit fiscal em 6 décadas

Rombo é de US$ 1,2 tri, mas poderá dobrar com ajuda a bancos e plano de Obama

Analistas são céticos quanto à eficácia das propostas de campanha; a dívida pública em relação ao PIB é de 50,5%, 15 pontos mais que no Brasil

FERNANDO CANZIAN
EM WASHINGTON

Barack Obama assume hoje a Casa Branca como o presidente mais endividado da história recente dos EUA. Mesmo sem computar nenhum centavo a mais de um novo plano de estímulo econômico bilionário já em gestação, o rombo orçamentário americano é o maior desde a Segunda Guerra.
O déficit fiscal em 2009 atingirá estratosférico US$ 1,2 trilhão. Somado a um novo pacote de gastos para reaquecer a economia, calculado em US$ 825 bilhões, e mais US$ 350 bilhões da segunda parcela da ajuda aos bancos (aprovada na semana passada no Congresso), o déficit fiscal dos EUA poderá ultrapassar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em breve.
Embora o novo pacote de estímulo seja a prioridade de Obama, muitos analistas avaliam que, para obter o dinheiro, por mais endividamento ou corte de impostos, o plano vai acabar tirando dólares de outras áreas da economia.
"É como se Obama enchesse uma caneca com água de um lago, andasse para o outro lado e despejasse a mesma água no mesmo lago, só que em um local diferente de onde a tirou", compara Grover Norquist, presidente da ONG América Pró-Reforma Tributária.
Durante a campanha eleitoral e depois de eleito, Obama reiterou a promessa de eventualmente elevar os impostos apenas dos americanos que ganham mais de US$ 250 mil (R$ 580 mil) por ano, o que torna limitada sua capacidade de arrecadar recursos para financiar seus planos.
Mesmo o pacote em análise pela equipe de Obama é visto com reservas. Ele destinaria US$ 550 bilhões em recursos para áreas como infraestrutura, seguro-desemprego e saúde e US$ 275 bilhões em estímulos fiscais diretos.
Cada indivíduo com renda anual até US$ 250 mil poderá receber US$ 500 por ano durante dois anos, o que equivale apenas a menos de US$ 10 por semana para cada pessoa.

Dívida pública
Além do déficit interno, a dívida pública norte-americana também atingiu um nível recorde. Equivale hoje a 50,5% do PIB. A Comissão de Orçamento do Congresso calcula que ela saltará a 54,2% do PIB até 2010.
Como comparação, no Brasil, onde a dívida pública sempre foi um problema, ela fechou o ano passado correspondendo a 34,9% do PIB.
Na esteira desse aumento do déficit e do endividamento, os EUA vêm se tornando cada vez mais dependentes de outros países para se financiar. Em 2000, quando o país tinha superávit fiscal, os títulos do Tesouro norte-americano em posse de estrangeiros equivaliam a apenas 31% do total. Hoje, 49,3% desses papéis estão nas mãos de estrangeiros.
"O que aconteceria se esses estrangeiros parassem de comprar esses títulos e, em vez disso, começassem a vendê-los? Vender títulos denominados em dólar é como vender dinheiro vivo, e isso pode colocar o dólar em uma forte espiral de queda", afirma Gene Epstein, ex-economista chefe da Bolsa de Valores de Nova York.
Epstein acrescenta que as consequências podem ser muito negativas, uma vez que os preços das ações nos EUA (também denominados em dólares) podem cair ainda mais à medida que investidores buscarem portas de saída para evitar perdas.
Hoje, muitos investidores têm procurado justamente comprar mais títulos do Tesouro dos EUA para se proteger. Mas, no futuro e em uma eventual reação da economia, as chances do cenário descrito por Epstein ocorrer crescem, especialmente se o déficit e o endividamento continuarem crescendo sem parar.


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