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SOB NOVA DIREÇÃO/ JUSTIÇA FINAL
Bush se despede da Casa Branca temendo processos
Obama descarta revisão de atos do antecessor, mas Congresso pode fugir do controle
Bush e seu vice, Cheney, resistem a enviar troca de e-mails para arquivo público e usam argumento de que correspondência é pessoal
DE WASHINGTON
Às 13h25 locais de hoje
(16h25 de Brasília), George W.
Bush tem seu primeiro compromisso oficial como ex-presidente dos EUA. Fará um discurso de despedida no hangar 6
da base aérea de Andrews, em
Maryland, Estado vizinho a
Washington. De lá, voará com a
mulher, Laura, para o Texas e
para o julgamento da história.
Deixa o poder envolto no
mesmo secretismo que dominou pelo menos 7 de seus 8
anos na Casa Branca. Até a conclusão desta edição, ainda dependia de decisão da Justiça o
envio ou não de e-mails de seu
vice-presidente, Dick Cheney,
aos Arquivos Nacionais dos
EUA, o mantenedor de todas as
comunicações oficiais da Presidência, que após cinco anos podem ser requisitadas pelo público por meio de lei federal.
A dupla alega que os e-mails
são pessoais, portanto não seriam alcançados pela lei, mas
ações abertas por entidades de
direitos civis e decisões iniciais
de juízes dizem que toda a comunicação dos dois enquanto
estavam nos cargos não pertence a eles, mas ao registro histórico. É esse registro que Bush e
Cheney demonstram temer.
Suspeita-se que as comunicações do vice-presidente contenham detalhes do que de
mais objetável aconteceu na
passagem dos republicanos pela Casa Branca: o aumento exagerado dos poderes presidenciais, a invasão da privacidade
dos cidadãos norte-americanos, a inteligência falha que
ajudou a levar o país à invasão
do Iraque, as medidas de exceção contra suspeitos.
Há um temor na administração que se encerra hoje de que
alguns atos tomados em nome
da chamada "guerra ao terror"
venham a ser julgados ilegais
no futuro, e seus autores, condenados. Barack Obama procurou se distanciar de iniciativas
nesse sentido em entrevistas
recentes, nas quais exortou a
população a "olhar adiante".
Ainda assim, a decisão pode
escapar de seu controle. Anteontem, Nancy Pelosi, sua
companheira de partido e presidente do Congresso, não descartou a possibilidade. À conservadora Fox News, disse que
pode ser "obrigada pela lei" a
investigar alguns membros do
governo de George W. Bush.
"Temos de examinar cada
item e ver se houve violação da
lei e se nós temos o direito de
ignorá-la. E se, em outras coisas, talvez seja hora de gastar
melhor o tempo olhando para o
futuro do que para o passado."
Pensamento semelhante
tem o representante (deputado
federal) John Conyers, presidente da Comissão de Justiça
da Câmara. O democrata pretende criar comissão bipartidária nos moldes da que investigou os erros cometidos antes e
durante o 11 de Setembro.
Se não têm apoio do presidente eleito, os dois parecem
encontrar respaldo no sentimento da população em geral,
que despede Bush com uma das
piores avaliações recentes, próxima dos 70% negativos.
O republicano chega ao fim
do segundo mandato tendo escapado da chamada "maldição
do ano 0", segundo a qual todo
presidente norte-americano
eleito ou reeleito num ano com
essa terminação a cada 20 anos
sofre atentado, é assassinado
ou morre no cargo.
Foi assim com William Harrison (1840), Abraham Lincoln
(1860), James Garfield (1880),
William McKinley (1900),
Warren Harding (1920), Franklin Roosevelt (1940), JFK
(1960) e Ronald Reagan (1980).
O mais perto que Bush chegou de uma situação assim foi
durante visita à Geórgia em
2005, em que um homem atirou uma granada -que não detonou- em direção ao pódio
em que o presidente falava. Em
dezembro último, em sua última visita ao Iraque, conseguiu
desviar de duas sapatadas disparadas por jornalista local.
Agora, terá de contar com a
ajuda do sucessor para driblar
ataques vindos do Congresso.
(SÉRGIO DÁVILA)
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