São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO/ JUSTIÇA FINAL

Bush se despede da Casa Branca temendo processos

Obama descarta revisão de atos do antecessor, mas Congresso pode fugir do controle Bush e seu vice, Cheney, resistem a enviar troca de e-mails para arquivo público e usam argumento de que correspondência é pessoal

DE WASHINGTON

Às 13h25 locais de hoje (16h25 de Brasília), George W. Bush tem seu primeiro compromisso oficial como ex-presidente dos EUA. Fará um discurso de despedida no hangar 6 da base aérea de Andrews, em Maryland, Estado vizinho a Washington. De lá, voará com a mulher, Laura, para o Texas e para o julgamento da história.
Deixa o poder envolto no mesmo secretismo que dominou pelo menos 7 de seus 8 anos na Casa Branca. Até a conclusão desta edição, ainda dependia de decisão da Justiça o envio ou não de e-mails de seu vice-presidente, Dick Cheney, aos Arquivos Nacionais dos EUA, o mantenedor de todas as comunicações oficiais da Presidência, que após cinco anos podem ser requisitadas pelo público por meio de lei federal.
A dupla alega que os e-mails são pessoais, portanto não seriam alcançados pela lei, mas ações abertas por entidades de direitos civis e decisões iniciais de juízes dizem que toda a comunicação dos dois enquanto estavam nos cargos não pertence a eles, mas ao registro histórico. É esse registro que Bush e Cheney demonstram temer.
Suspeita-se que as comunicações do vice-presidente contenham detalhes do que de mais objetável aconteceu na passagem dos republicanos pela Casa Branca: o aumento exagerado dos poderes presidenciais, a invasão da privacidade dos cidadãos norte-americanos, a inteligência falha que ajudou a levar o país à invasão do Iraque, as medidas de exceção contra suspeitos.
Há um temor na administração que se encerra hoje de que alguns atos tomados em nome da chamada "guerra ao terror" venham a ser julgados ilegais no futuro, e seus autores, condenados. Barack Obama procurou se distanciar de iniciativas nesse sentido em entrevistas recentes, nas quais exortou a população a "olhar adiante".
Ainda assim, a decisão pode escapar de seu controle. Anteontem, Nancy Pelosi, sua companheira de partido e presidente do Congresso, não descartou a possibilidade. À conservadora Fox News, disse que pode ser "obrigada pela lei" a investigar alguns membros do governo de George W. Bush.
"Temos de examinar cada item e ver se houve violação da lei e se nós temos o direito de ignorá-la. E se, em outras coisas, talvez seja hora de gastar melhor o tempo olhando para o futuro do que para o passado."
Pensamento semelhante tem o representante (deputado federal) John Conyers, presidente da Comissão de Justiça da Câmara. O democrata pretende criar comissão bipartidária nos moldes da que investigou os erros cometidos antes e durante o 11 de Setembro.
Se não têm apoio do presidente eleito, os dois parecem encontrar respaldo no sentimento da população em geral, que despede Bush com uma das piores avaliações recentes, próxima dos 70% negativos.
O republicano chega ao fim do segundo mandato tendo escapado da chamada "maldição do ano 0", segundo a qual todo presidente norte-americano eleito ou reeleito num ano com essa terminação a cada 20 anos sofre atentado, é assassinado ou morre no cargo.
Foi assim com William Harrison (1840), Abraham Lincoln (1860), James Garfield (1880), William McKinley (1900), Warren Harding (1920), Franklin Roosevelt (1940), JFK (1960) e Ronald Reagan (1980).
O mais perto que Bush chegou de uma situação assim foi durante visita à Geórgia em 2005, em que um homem atirou uma granada -que não detonou- em direção ao pódio em que o presidente falava. Em dezembro último, em sua última visita ao Iraque, conseguiu desviar de duas sapatadas disparadas por jornalista local.
Agora, terá de contar com a ajuda do sucessor para driblar ataques vindos do Congresso.
(SÉRGIO DÁVILA)


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