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HAITI EM RUÍNAS
Otimismo começa a surgir em meio ao caos
Tour por Porto Príncipe revela comércio local começando a se reerguer após sismo
Falta de dinheiro, porém, ainda é problema grave, e reportagem vê corpo com pés amarrados em principal avenida da capital haitiana
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
Um carrinho vendendo cana-de-açúcar infestada de moscas
é o que restou do comércio de
rua de Cité Soleil, a maior favela de Porto Príncipe, após o terremoto que arrasou o país. Mas
já é um começo, dizem moradores do local.
"Algumas pessoas voltaram a
comprar depois de vários dias
de serviço parado", disse o vendedor, Jean Baptiste, que vende um saquinho de seu produto
descascado por 100 gourdes
(cerca de R$ 4).
Uma semana após o terremoto, a Folha percorreu ontem
durante três horas as principais ruas da capital, num comboio organizado pelo Exército
brasileiro, protegido por seis
soldados armados com fuzil.
Em meio às pilhas de destroços e aos prédios inteiros inclinados em ângulos de 45 graus,
é possível vislumbrar alguns
traços de otimismo. Perto do
aeroporto, tomado pelos americanos, a barbearia Perfect
Hair Design estava aberta, funcionando e lotada. Numa rua
do centro, um restaurante simplório oferecia pratos de milho
e arroz a cerca de R$ 5.
Nos arredores do estádio nacional, interditado porque ainda pode desabar, um semáforo
funcionava perfeitamente no
que já foi um cruzamento movimentado, adicionando um
toque de surrealismo ao apocalipse haitiano.
O movimento do comércio
não deixa de ser surpreendente, tendo em vista que a maior
reclamação continua sendo a
falta de dinheiro.
"Não tenho mais nada para
fazer aqui. Vou embora para a
República Dominicana", disse
Michella, mãe de quatro filhos.
Os saques continuam a mercados e lojas, e a retribuição
imediata da população, também. Na avenida Jean Jacques
Dessalines, a principal da capital, o corpo de um homem negro e pelado, com os pés amarrados, jazia de costas no asfalto
quente, coberto de moscas.
Em Cité Soleil, uma multidão quebrou um cano de esgoto, fazendo jorrar uma fonte
poluída pela rua. Dezenas se
acotovelavam por um balde de
água.
Perto dali, nos escombros de
um antigo posto de observação
do Exército brasileiro que desabou, três haitianos escavavam as ruínas em busca de barras de ferro.
Nas ruas de Porto Príncipe, a
presença das tropas americanas ainda é pouco visível, mas
no aeroporto a situação é oposta. A principal ligação do Haiti
com o mundo exterior é hoje
uma cidadela dos EUA, com
dezenas de tendas abrigando
seus militares.
Ontem, três aviões Galaxy,
da Força Aérea americana, usados para transporte de carga e
homens, tomavam grande parte da pista.
Também era possível ver dezenas de militares se exercitando na pista. A cerca de 5 km da
orla, um porta-aviões e outros
dois navios americanos podem
ser vistos da cidade.
Os jornalistas FÁBIO ZANINI e ALAN MARQUES viajaram a convite da FAB
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