São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Otimismo começa a surgir em meio ao caos

Tour por Porto Príncipe revela comércio local começando a se reerguer após sismo

Falta de dinheiro, porém, ainda é problema grave, e reportagem vê corpo com pés amarrados em principal avenida da capital haitiana


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Um carrinho vendendo cana-de-açúcar infestada de moscas é o que restou do comércio de rua de Cité Soleil, a maior favela de Porto Príncipe, após o terremoto que arrasou o país. Mas já é um começo, dizem moradores do local.
"Algumas pessoas voltaram a comprar depois de vários dias de serviço parado", disse o vendedor, Jean Baptiste, que vende um saquinho de seu produto descascado por 100 gourdes (cerca de R$ 4).
Uma semana após o terremoto, a Folha percorreu ontem durante três horas as principais ruas da capital, num comboio organizado pelo Exército brasileiro, protegido por seis soldados armados com fuzil.
Em meio às pilhas de destroços e aos prédios inteiros inclinados em ângulos de 45 graus, é possível vislumbrar alguns traços de otimismo. Perto do aeroporto, tomado pelos americanos, a barbearia Perfect Hair Design estava aberta, funcionando e lotada. Numa rua do centro, um restaurante simplório oferecia pratos de milho e arroz a cerca de R$ 5.
Nos arredores do estádio nacional, interditado porque ainda pode desabar, um semáforo funcionava perfeitamente no que já foi um cruzamento movimentado, adicionando um toque de surrealismo ao apocalipse haitiano.
O movimento do comércio não deixa de ser surpreendente, tendo em vista que a maior reclamação continua sendo a falta de dinheiro.
"Não tenho mais nada para fazer aqui. Vou embora para a República Dominicana", disse Michella, mãe de quatro filhos.
Os saques continuam a mercados e lojas, e a retribuição imediata da população, também. Na avenida Jean Jacques Dessalines, a principal da capital, o corpo de um homem negro e pelado, com os pés amarrados, jazia de costas no asfalto quente, coberto de moscas.
Em Cité Soleil, uma multidão quebrou um cano de esgoto, fazendo jorrar uma fonte poluída pela rua. Dezenas se acotovelavam por um balde de água.
Perto dali, nos escombros de um antigo posto de observação do Exército brasileiro que desabou, três haitianos escavavam as ruínas em busca de barras de ferro.
Nas ruas de Porto Príncipe, a presença das tropas americanas ainda é pouco visível, mas no aeroporto a situação é oposta. A principal ligação do Haiti com o mundo exterior é hoje uma cidadela dos EUA, com dezenas de tendas abrigando seus militares.
Ontem, três aviões Galaxy, da Força Aérea americana, usados para transporte de carga e homens, tomavam grande parte da pista.
Também era possível ver dezenas de militares se exercitando na pista. A cerca de 5 km da orla, um porta-aviões e outros dois navios americanos podem ser vistos da cidade.

Os jornalistas FÁBIO ZANINI e ALAN MARQUES viajaram a convite da FAB



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