São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Um ano de Obama aumenta racha nos EUA

Após promessas de união, democrata vê reanimada uma oposição que fora dada como morta depois da eleição de 2008

Eleição especial ao Senado põe em risco maior trunfo doméstico, a reforma da saúde; aprovação média só fica acima da de Clinton


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A principal conquista na agenda doméstica de Barack Obama em seu primeiro ano na Casa Branca, que se completa hoje, foi a aprovação da maior e mais ampla reforma do setor de saúde pública dos EUA em décadas. Pelas versões do Senado e da Câmara dos Representantes (deputados federais), semelhantes mas não idênticas, o acesso ao sistema passa a ser de fato universal e subsidiado.
Essa conquista corria risco nas eleições especiais para a vaga do Senado de Massachusetts, que seriam concluídas às 23h de Brasília de ontem. Nas mãos dos democratas desde a década de 70, a vaga de Ted Kennedy (1932-2009) poderia ir para o partido da oposição, tirando assim a "supermaioria" de 60 votos necessária para que as medidas governistas sejam aprovadas sem o risco de obstrução pela oposição.
Se isso acontecesse e se uma versão unificada da lei da reforma da saúde tiver de voltar para votação no Senado antes de ir para assinatura de Obama, os republicanos já prometeram matar a medida antes mesmo de ela nascer. Eles poderão fazer isso, se passarem das atuais 40 cadeiras para 41.
O fato de o candidato eleito com a promessa de unificar um país rachado por oito anos de George W. Bush chegar ao fim de seu primeiro ano no poder se equilibrando num cenário político profundamente dividido é significativo da distância entre suas intenções e a realidade que encontrou no cargo.
Há um ano, naquela manhã fria de Washington, diante de milhares de pessoas emocionadas, Obama assumiu prometendo "a esperança no lugar do medo, a unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia" e proclamando o "fim dos conflitos mesquinhos e falsas promessas, das recriminações e dogmas desgastados que por muito tempo estrangularam nossa política".
Hoje, animados por ambos os partidos majoritários, os conflitos e as recriminações ameaçam paralisar a ambiciosa agenda doméstica do presidente, que é fortemente amparada na passagem de reformas pelo Congresso. Além da da saúde, esperam vez reformas de educação, governança financeira, educação e meio ambiente e energia limpa.
As negociações que levaram ao avanço das medidas nos trâmites legislativos cobraram um pedaço do capital político de Obama e reavivaram uma oposição que foi dada como morta logo após as eleições de novembro de 2008. Quando o democrata assumiu, seu índice de aprovação era de 68%, menor apenas que o do colega democrata John F. Kennedy (de 1961 a 1963), entre seus oito antecessores imediatos, no índice histórico do Gallup.
Um ano depois, o 44º presidente tem a média de 57% de popularidade nos últimos doze meses. "Comparada com as de outros presidentes eleitos desde a Segunda Guerra, a média inicial de Obama está entre as piores, empatada com a de Ronald Reagan (1981-1989) e melhor apenas que o piso histórico de Bill Clinton (1993-2001), de 49%", diz o instituto.
O governo se defende dizendo que na maior parte do tempo teve de lidar com problemas herdados da gestão anterior, como a crise econômica, que levou às decisões impopulares de implementar e ampliar o auxílio aos bancos e a intervenção nas principais montadoras.
Em entrevista à revista "People", Obama foi instado a apontar algo que não conseguiu realizar em seu primeiro ano. "Unir o país como conseguimos durante a posse. Foi isso que se perdeu no primeiro ano."


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