São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Avaliação endossa opinião americana

Eleições diretas antes de 30 de junho são inviáveis, afirma ONU

DA REDAÇÃO

É inviável escolher em eleições diretas quem assumirá o governo do Iraque em 30 de junho, data fixada pelos EUA para devolver a soberania ao país. A avaliação foi anunciada ontem pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e endossa a opinião americana.
A declaração de Annan segue o trabalho de uma missão sob o comando do ex-chanceler argelino Lakhdar Brahimi que passou uma semana no país avaliando as possibilidades eleitorais.
Mas o secretário-geral e sua equipe ainda não chegaram a nenhuma conclusão sobre qual o sistema mais adequado de governo interino para administrar o país até as eleições diretas, possivelmente no fim de 2005, nem sobre a forma de escolhê-lo.
"Não será possível promover eleições diretas antes do fim de junho. A data para a devolução da soberania, 30 de junho, deve ser respeitada", afirmou Annan durante um encontro com 46 embaixadores. "Esperamos que, conforme avancemos, consigamos trabalhar com os iraquianos para encontrar um mecanismo para estabelecer um governo interino e para preparar eleições em um momento futuro."
A ONU -que nunca teve papel de destaque na reconstrução iraquiana e que se distanciou ainda mais após sua sede em Bagdá sofrer dois atentados em 2003- foi chamada pelos EUA a intermediar a questão eleitoral depois que os americanos encontraram resistência à sua proposta de transição por parte da maioria xiita.
A Autoridade Provisória da Coalizão (APC), liderada pelo diplomata americano Paul Bremer, e o Conselho de Governo Iraquiano, submetido à APC, aprovaram em novembro um plano de transição que fixou 30 de junho para a transferência de poder.
O plano prevê que, nessa data, assuma um governo interino escolhido em um sistema de convenções regionais, sem a participação popular -o pleito direto só seria realizado no fim de 2005.
Mas o plano foi rejeitado pelos xiitas, que, liderados pelo aiatolá Ali al Sistani, exigem que em 30 de junho assuma um governo eleito diretamente.
No ápice, a demanda chegou a atrair mais de 100 mil manifestantes para as ruas, mas diante das constantes declarações da ONU sobre as dificuldades de organizar a eleição imediatamente -o Iraque não conta com um registro eleitoral confiável nem com uma Constituição pós-ditadura- o grupo vem ensaiando um recuo.
Para isso, no entanto, exige que lhe seja garantida a hegemonia no governo interino -os xiitas perfazem mais de 60% da população, mas passaram os 24 anos da ditadura de Saddam Hussein reprimidos pela minoria sunita.
Os EUA, conforme reiterou Bremer ontem, já se disseram abertos a sugestões sobre o governo interino, contanto que a data da transição não seja alterada. O modelo melhor aceito até agora se baseia na expansão do Conselho de Governo Iraquiano, que de 25 membros passaria a ter 75 ou 100 e guardaria a relação com a representatividade de cada linha étnica e religiosa da população.

Estada indefinida
Mas o fim da APC não implica a retirada das tropas americanas do país. Segundo o general Richard Myers, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas americanas, o Pentágono deve manter cerca de 100 mil soldados no país por um tempo "inestimável".
Os EUA esperam que a devolução da soberania amenize a onda de violência no Iraque. Ontem, mais dois soldados foram mortos na explosão de uma bomba em Khalidiyah (oeste), elevando para 378 o número de militares americanos mortos em ataques no pós-guerra.


Com agências internacionais


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