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Lula afirma que futuro só pertence aos cubanos
Presidente elogia "transição pacífica" e diz que Fidel Castro é "único mito vivo"
Para ministros brasileiros, haverá renovação política e abertura econômica na ilha; vice-presidente pede que "democracia prevaleça"
JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Lula defendeu
ontem que o povo cubano defina o seu próprio regime político após o anúncio da renúncia
de Fidel Castro. "Se cada um tomar conta do seu nariz, já está
bom demais. O que complica é
quando a gente começa a dar
palpite nas coisas dos outros.
Acho que os cubanos têm maturidade para resolver todos os
seus problemas sem precisar
da ingerência brasileira ou
americana", disse Lula.
A iniciativa de Fidel de renunciar ao poder foi elogiada
pelo presidente, que destacou
uma transição sem conflitos na
ilha. "O grande mito continua.
Fidel é o único mito vivo na história da humanidade. Acho que
ele construiu isso à custa de
muita competência, de muito
caráter, força de vontade, muita divergência e muita polêmica", disse.
Lula afirmou que já havia
percebido na visita a Cuba, no
início do ano, que Fidel cogitava a renúncia: "Eu tive a impressão, sentia que ele estava
analisando a situação política e
querendo criar as condições
para que isso pudesse acontecer". As declarações de Lula foram feitas em conversa com
jornalistas na manhã de ontem,
durante visita ao gasoduto Cabiúnas-Vitória.
Lula elogiou o irmão de Fidel
Raúl Castro, que exerce o comando do país desde julho de
2006. Lula afirmou que já o havia convidado para vir ao Brasil
e que pretende reiterar o convite em breve.
Amante da revolução
Lula destacou o relacionamento próximo com Fidel Castro e disse que sua geração se
transformou em uma "amante
da Revolução Cubana". Lula
lembrou que, após perder as
eleições presidenciais em 1989
para Fernando Collor, recebeu
uma visita do ditador. "Quando
ele veio para a posse do Collor,
participou do ato oficial e foi a
São Bernardo para almoçar comigo, numa deferência que para mim é inesquecível."
O presidente afirmou que espera continuar mantendo contato com Fidel porque ele "ainda vai viver muito tempo". Disse que há uma missão de Cuba
fazendo treinamento com a Petrobras e que em breve deverão
ser assinados acordos entre os
países nas áreas de saúde, construção de estradas e recuperação da estrutura hoteleira.
Outros integrantes da cúpula
do governo brasileiro aderiram
ao coro dos elogios ao ditador.
O ministro da Justiça, Tarso
Genro, disse que Fidel Castro é
"uma figura mítica da nossa
época, assim como foi Nelson
Mandela, que soube renovar a
revolução sul-africana no momento adequado".
Genro elogiou a escolha de
Fidel de se retirar do poder.
"Foi uma decisão madura, não
só porque suas condições de
saúde apontam para a necessidade de sua retirada mas também porque tudo indica que está em curso, em Cuba, um processo de renovação política."
Amorim
O chanceler Celso Amorim
afirmou, em entrevista exclusiva à Folha, que "não haverá nenhuma mudança drástica em
Cuba" após a saída de cena de
Fidel Castro. "Ele continuará a
fazer suas reflexões e a escrever, mas essa saída do plano
mais imediato naturalmente
gerará mudanças de estilo, e
mudanças de estilo não deixarão de ter sua importância."
O ministro, que conversou
com a reportagem por telefone,
se disse otimista sobre o futuro
da ilha. "Há uma visão, sobretudo do ponto de vista econômico, bastante pragmática na
liderança com quem tivemos
contato durante a recente visita do presidente Lula. Isso vai
levar a uma intensificação ainda maior das relações, sobretudo nos aspectos econômico e
comercial", disse Amorim.
Amorim culpa o embargo comercial imposto pelos Estados
Unidos a Cuba por muitos dos
problemas que afetam o país e
destacou que o futuro dos cubanos depende em grande parte da eleição presidencial americana, no fim do ano ano.
"Grande parte do que ocorre
ou deixa de ocorrer em Cuba é
resultado do embargo. É uma
via de duas mãos. Vamos esperar para ver o que ocorre nos
EUA, que também estão em fase de mudança de governo. Se
for possível um diálogo, será
bom para todo mundo", disse o
chanceler brasileiro.
Um dos poucos que mencionaram o autoritarismo de Fidel
foi o vice-presidente, José
Alencar. "Sua saída pode abrir
realmente oportunidades para
que o regime democrático prevaleça naquele país."
Com a Sucursal de Brasília
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