São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA prendem mais latinos por imigração

Grupo, que constitui 13% da população do país, responde por um terço dos detidos em prisões federais e 40% dos condenados em 2007

Quase metade dos detentos latinos foi condenada por crimes ligados à imigração; número de sentenciados quadruplicou desde 1991

SOLOMON MOORE
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

O crescimento acentuado da imigração ilegal e a implementação maior das leis de imigração vêm modificando de modo dramático a composição étnica da população de criminosos sentenciados em tribunais federais americanos. Em 2007, os latinos formaram 40% de todos os condenados por crimes federais e um terço de todos os detentos em prisões federais. Os números constam de estudo do Centro de Pesquisas Pew. Quase metade de todos os criminosos latinos -48%- foram condenados por crimes ligados à imigração. Crimes relacionados a drogas são os segundos mais comuns entre os condenados federais latinos. Ao mesmo tempo em que o número anual de criminosos federais mais que dobrou entre 1991 e 2007, o número de infratores latinos sentenciados em cada ano quase quadruplicou, subindo de 7.924 para 29.281. Hoje os condenados latinos representam a maior população no sistema carcerário federal americano, apesar de os latinos representarem apenas 13% da população do país. Dos infratores federais latinos, 72% não são cidadãos americanos, e a maioria foi sentenciada em cortes de um dos cinco Estados que fazem fronteira com o México. Os presos federais sem documentos costumam ser deportados a seus países de origem depois de cumprir suas penas de prisão. "O sistema de imigração foi criminalizado, a um custo enorme para o sistema de Justiça criminal, as cortes, os juízes, as prisões e os promotores", disse Lucas Guttentag, advogado da União Americana de Defesa das Liberdades Civis. No mês passado o "New York Times" informou que os processos federais ligados à imigração aumentaram nos últimos cinco anos, tendo dobrado no último ano fiscal, chegando a 70 mil processos. O sistema de Justiça federal é responsável por 200 mil detentos, ou seja, 8,6% do total de 2,3 milhões de presos americanos. Dezenove por cento dos detentos estaduais e 16% dos detentos municipais são latinos. Deborah Williams, defensora federal assistente em Phoenix, disse que o grande número de latinos no sistema carcerário federal, especialmente os que não são cidadãos americanos e têm fluência limitada no inglês, modificou dramaticamente a cultura das prisões federais. "Tenho clientes anglo-saxões e indígenas que me contam que são os únicos a não falar espanhol em seus setores", disse Williams. "Dez anos atrás, as coisas não eram assim. Tudo está mudando ali, incluindo a língua falada e os programas de TV que os detentos assistem, e frequentemente os carcereiros não falam a língua dos detentos. Como se pode guardar pessoas que podem não entender suas ordens?" "É difícil entender se o que estamos testemunhando é uma mudança de política ou só um aumento no número total de imigrantes que vêm para este país", disse Mark Hugo Lopez, coautor do estudo. O número de imigrantes ilegais nos EUA subiu de 3,9 milhões em 1992 para 11,9 milhões em 2008. Sob programas federais de combate à imigração ilegal, como a Operação Guarda da Entrada, que contratou milhares de funcionários para implementar as leis anti-imigração na fronteira sudoeste do país, e a Operação Enxugar, que instituiu a "política de tolerância zero" das travessias ilegais de fronteira, os crimes de imigração subiram vertiginosamente. O grande número de crimes de imigração e de infrações de baixo nível relacionadas a drogas explica as sentenças pequenas que os latinos costumam receber -em média 46 meses de prisão, contra 62 meses no caso dos brancos e 91 meses no caso dos negros.


Tradução de CLARA ALLAIN



Texto Anterior: Repressão: Opositor egípcio é libertado após três anos
Próximo Texto: França ultramarina protesta contra Paris
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.