São Paulo, sábado, 20 de fevereiro de 2010

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Pacto Mercosul-Israel é objeto de pressão

Palestinos querem excluir mercadorias produzidas em assentamentos judaicos do acordo e tentam influenciar Brasil

Premiê da Autoridade Nacional Palestina diz que discutirá a questão com o presidente Lula na visita do brasileiro à região em março


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BILIN (CISJORDÂNIA)

Um jogo de pressão envolvendo o comércio exterior do Brasil precede a visita que o presidente Lula fará a Israel e aos territórios palestinos em março. A disputa é em torno do acordo de livre comércio entre o Mercosul e Israel, já aprovado pelo Congresso Nacional, e que depende do aval da Presidência para entrar em vigor.
A expectativa do governo israelense é que Lula assine o acordo o quanto antes. "Esperamos que isso aconteça antes da chegada do presidente a Israel", disse a embaixadora Dorit Shavit, chefe do departamento de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores israelense.
Mas os palestinos temem que o formato atual ampliará a participação no comércio bilateral de mercadorias produzidas em assentamentos judaicos nos territórios ocupados, e pedem que o Brasil os exclua de suas transações com Israel.
A mensagem foi transmitida a Lula pessoalmente pelo premiê da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Salam Fayad, em encontro durante a recente Conferência do Clima, em Copenhague, na Dinamarca.
Em entrevista à Folha durante os protestos contra a barreira de segurança israelense em Bilin, na Cisjordânia, Fayad contou ter explicado a Lula que o comércio de produtos dos territórios ocupados com o selo israelense contraria a lei internacional.
"Não somos contra o comércio com Israel, ao contrário", disse Fayad. "Mas os produtos dos assentamentos são como os assentamentos: ilegais. Não sou eu quem diz isso, é a lei internacional. O Brasil, com todo o seu peso na comunidade internacional e seu respeito aos valores básicos de respeito à lei, tenho certeza de que está levando isso em consideração."
Assinado em 2007, o acordo de livre comércio com Israel, o primeiro do Mercosul com um país de fora da região, foi aprovado pelo Congresso brasileiro em dezembro. Paraguai e Uruguai já ratificaram o acordo. Na Argentina ele ainda aguarda aprovação tanto do Congresso como da Presidência.
Israel tem mostrado cada vez mais interesse em fortalecer as relações comerciais com o Brasil. Em novembro, na visita oficial que fez ao Brasil, o presidente israelense, Shimon Peres, foi acompanhado de uma delegação de 40 empresários.
Em 2009, as exportações do Brasil para Israel foram de R$ 486,9 milhões, e as importações, de R$ 1,2 bilhão. O saldo do intercâmbio comercial entre os dois foi de R$ 685,9 milhões em favor de Israel.
Fayad disse à Folha que repetirá o recado a Lula no encontro que terá com o presidente brasileiro no próximo mês. "Não estou aqui para dizer ao presidente Lula o que fazer. Mas tenho total confiança de que o Brasil compreenderá a importância da lei internacional", observou.
Um acordo de livre comércio do Mercosul com os palestinos também está em estudo. O projeto foi confirmado por Lula em novembro, durante a visita ao país do presidente da ANP, Mahmoud Abbas.
O premiê Fayad acrescentou que apoia o desejo do Brasil de ter um papel político ativo no Oriente Médio.
A chegada de Lula está marcada para o dia 14 de março. Segundo a programação, ainda não finalizada, ele passará cinco dias entre Israel, territórios palestinos e Jordânia. O governo israelense está tentando prolongar a sua parte da visita, revelou a embaixadora Shavit.


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