São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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Eleição leva Argentina a adotar tom anti-EUA

País também reage a exclusão por Obama

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Um incidente diplomático com os Estados Unidos foi o estopim para a Argentina encampar um discurso antiamericano digno dos países bolivarianos.
A escalada de críticas direcionadas a Washington vem num momento de agitação política interna, pela proximidade das eleições presidenciais, em outubro, e quando fica evidente, pelo menos para a população argentina, a perda de prestígio do país na região.
Além de ter sido preterida da agenda do presidente americano, Barack Obama, em seu primeiro giro pela América Latina, em março, a Argentina recebeu uma péssima análise da diplomacia americana, exposta pelo site WikiLeaks, que alertou sobre uma "corrupção oficial" em todos os níveis de governo.
A crise com os Estados Unidos começou há dez dias, quando o governo argentino barrou no aeroporto de Ezeiza, na grande Buenos Aires, um voo militar do Exército americano que transportava homens e equipamentos para um curso que seria dado à Polícia Federal, ligada à Presidência.
Um terço da carga, segundo a denúncia, não estava declarada. O carregamento incluía armas e uma mala com equipamentos de espionagem e drogas (como morfina) vencidas.
O material foi apreendido e será analisado pela Justiça. O governo da Argentina já avisou que pode destruir os equipamentos.
Os Estados Unidos questionaram a atitude "desrespeitosa" e "inédita" da Argentina, e exigem a devolução do material. Os governos também trocaram notas de protesto.
Para Rosendo Fraga, diretor do instituto Nova Maioria, a apreensão dos equipamentos parece uma resposta política da Argentina às revelações do WikiLeaks, que expuseram a opinião da diplomacia dos EUA de que há uma corrupção institucionalizada no país.
A relação diplomática entre os países era de moderação, que marcou, por exemplo, a atitude da Argentina, em dezembro, quando foi divulgado o primeiro lote dos documentos sigilosos pela organização. A diplomacia americana questionava a saúde mental da presidente Cristina Kirchner.

ELEIÇÕES
Em dois meses, e influenciado pelo período pré-eleitoral, a atitude mudou. Jorge Arias, especialista em política externa da consultoria Polilat, diz que o episódio é revelador da política externa "adolescente e pendular" da Argentina. "A postura é mais conjectural do que ideológica", opina.
Rosendo Fraga e Arias, contudo, questionam o efeito eleitoral das críticas. "Essa mania de apontar sempre um inimigo externo, ainda mais os EUA, já não cola em uma sociedade como a argentina", diz Jorge Arias.
Rosendo lembra que, dos mandatários estrangeiros mais bem avaliados pelos argentinos, Barack Obama só perdia para Lula.
Cristina ainda não anunciou se será candidata à reeleição em outubro, como esperado. Sobre o episódio, ela fez uma declaração indireta, sem citar os EUA. Evocou ao povo a defesa da soberania nacional.


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