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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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Pacifistas perdem, mas se revelam uma nova força em escala global

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O movimento pela paz não conseguiu evitar uma nova guerra no Golfo. Mesmo assim, descentralizado ao extremo, deu inequívoca demonstração de força em escala mundial ao levar às ruas multidões de tamanho inédito.
São duas as datas a serem retidas: 15 de fevereiro e 15 de março. Em cada uma delas ocorreram atos públicos simultâneos em cerca de 600 cidades de 134 países, segundo a Resist, coligação de grupos pacifistas alemães.
Impossível saber com precisão quantas pessoas participaram. Na primeira data, que atraiu mais gente, foram com certeza mais de 10 milhões. Havia 1,5 milhão nas ruas de Londres, ao todo 3 milhões nas principais cidades espanholas, 2 milhões na França.
Até Holland, cidade de 35 mil habitantes no interior do Estado norte-americano de Michigan, reuniu pequena passeata contra os planos do presidente George W. Bush de invadir o Iraque.
O grupo local foi mobilizado pelo pastor evangélico Wes Rehberg. Ele disse à Folha que as relações de vizinhança são motivadoras quando há uma casa forte a ser defendida.

Mistura
Na Alemanha, disse à Folha o ativista Clemens Ronnefeldt, os pacifistas reúnem católicos e protestantes, ambientalistas do Partido Verde e adversários da globalização. São grupos que se misturaram pela primeira vez.
Não há uma estrutura em forma de pirâmide, com chefes no topo e militantes na base. A postura de George W. Bush com relação ao Iraque foi o pretexto para que se formassem redes horizontais de organizações.
Só nos Estados Unidos, são pelas últimas contas 249 agrupamentos regionais.
Dentro deles há praticamente de tudo, afirma à Folha Michael Smolek, da "National Network to End the War Against Iraq" (Rede Nacional para Pôr Fim à Guerra contra o Iraque) um dos quatro grandes conglomerados de pacifistas nacionais.
São congregações religiosas, estudantes, grupos que militam contra a violência e pelos direitos humanos, acadêmicos e cientistas, grupos profissionais que praticam determinado esporte.
Essa diversidade se juntou mais facilmente em razão da internet. Redes nascidas de grupos eletrônicos de discussão não têm chefe ou ortodoxia doutrinária. Entra quem quer.
Nas vésperas de passeatas não são os chefes que encomendam a impressão de cartazes e panfletos. Cada pacifista faz o download de seu próprio material -cartazes, adereços, máscaras, panfletos.
Mas a diversidade pode se tornar também uma fraqueza. Nos EUA e no Reino Unido os pacifistas se dividiram ao discutir a "objeção de consciência", ou seja, estimular militares que pretendam desertar ou abandonar a carreira por acreditarem que a nova guerra é injusta.
O movimento pela paz, diz Smolek, sabia que era difícil convencer Bush. Mas seu crescimento fará dele uma força importante nos distritos eleitorais. Os grupos prometem influir nas eleições, infernizar os falcões do Partido Republicano.


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