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Pacifistas perdem, mas se revelam uma nova força em escala global
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O movimento pela paz não conseguiu evitar uma nova guerra no
Golfo. Mesmo assim, descentralizado ao extremo, deu inequívoca
demonstração de força em escala
mundial ao levar às ruas multidões de tamanho inédito.
São duas as datas a serem retidas: 15 de fevereiro e 15 de março.
Em cada uma delas ocorreram
atos públicos simultâneos em cerca de 600 cidades de 134 países, segundo a Resist, coligação de grupos pacifistas alemães.
Impossível saber com precisão
quantas pessoas participaram. Na
primeira data, que atraiu mais
gente, foram com certeza mais de
10 milhões. Havia 1,5 milhão nas
ruas de Londres, ao todo 3 milhões nas principais cidades espanholas, 2 milhões na França.
Até Holland, cidade de 35 mil
habitantes no interior do Estado
norte-americano de Michigan,
reuniu pequena passeata contra
os planos do presidente George
W. Bush de invadir o Iraque.
O grupo local foi mobilizado pelo pastor evangélico Wes Rehberg. Ele disse à Folha que as relações de vizinhança são motivadoras quando há uma casa forte a ser defendida.
Mistura
Na Alemanha, disse à Folha o
ativista Clemens Ronnefeldt, os
pacifistas reúnem católicos e protestantes, ambientalistas do Partido Verde e adversários da globalização. São grupos que se misturaram pela primeira vez.
Não há uma estrutura em forma
de pirâmide, com chefes no topo e
militantes na base. A postura de
George W. Bush com relação ao
Iraque foi o pretexto para que se
formassem redes horizontais de
organizações.
Só nos Estados Unidos, são pelas últimas contas 249 agrupamentos regionais.
Dentro deles há praticamente
de tudo, afirma à Folha Michael
Smolek, da "National Network to
End the War Against Iraq" (Rede
Nacional para Pôr Fim à Guerra
contra o Iraque) um dos quatro
grandes conglomerados de pacifistas nacionais.
São congregações religiosas, estudantes, grupos que militam
contra a violência e pelos direitos
humanos, acadêmicos e cientistas, grupos profissionais que praticam determinado esporte.
Essa diversidade se juntou mais
facilmente em razão da internet.
Redes nascidas de grupos eletrônicos de discussão não têm chefe
ou ortodoxia doutrinária. Entra
quem quer.
Nas vésperas de passeatas não
são os chefes que encomendam a
impressão de cartazes e panfletos.
Cada pacifista faz o download de
seu próprio material -cartazes,
adereços, máscaras, panfletos.
Mas a diversidade pode se tornar também uma fraqueza. Nos
EUA e no Reino Unido os pacifistas se dividiram ao discutir a "objeção de consciência", ou seja, estimular militares que pretendam
desertar ou abandonar a carreira
por acreditarem que a nova guerra é injusta.
O movimento pela paz, diz
Smolek, sabia que era difícil convencer Bush. Mas seu crescimento fará dele uma força importante nos distritos eleitorais. Os grupos prometem influir nas eleições, infernizar os falcões do Partido Republicano.
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