São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

"Se 60 mortos por dia não são guerra civil, então Deus sabe o que é", diz Allawi; americanos minimizam cenário

Iraque está em guerra civil, diz ex-premiê

DA REDAÇÃO

O ex-premiê do Iraque Iyad Allawi, árabe xiita, disse ontem que o Iraque está imerso "desgraçadamente em uma guerra civil", cujas conseqüências afetarão a Europa e os EUA. "Talvez não tenhamos alcançado o ponto sem retorno, mas estamos perto."
O tema da guerra civil tem dominado o terceiro aniversário da invasão americana (que, pelo horário de Brasília, começou às 23h35 do dia 19 de março de 2003). Os analistas estão divididos sobre o assunto, e o clima no país é cada dia mais tenso.
"Estamos perdendo uma média de 60 pessoas por dia, senão mais, em todo o país. Se isso não é uma guerra civil, então Deus sabe o que é uma guerra civil", disse Allawi. A declaração foi rebatida pelo presidente iraquiano, o curdo Jalal Talabani, mas sem muita convicção -o próprio Talabani recentemente havia alertado sobre a ampliação do conflito entre xiitas e sunitas.
"Não se pode descartar totalmente o risco de guerra civil", disse o presidente. "O povo iraquiano não pode aceitar uma guerra civil. Temos dificuldades, mas o apego dos iraquianos a seu país impedirá uma guerra dessas."
Do lado americano, as autoridades também se esforçaram para minimizar os sinais de conflito generalizado no Iraque. O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney disse que os "terroristas" estão fazendo "sérios esforços" para fomentar a guerra civil, mas "eles não estão sendo bem-sucedidos". Já o comandante militar americano no Iraque, general George Casey, afirmou que a guerra civil não é nem iminente nem inevitável: "Há violência terrorista no Iraque? Há. Más temos um longo caminho até uma guerra civil."
Para Talabani, o Iraque se encaminha a uma "fórmula de acordo nacional". Mas árabes sunitas, árabes xiitas e curdos ainda não chegaram a um consenso sobre um governo de união nacional.
A expectativa é sobre a participação do xiita Irã, que tem fortes laços com o governo interino iraquiano, nas negociações para estabilizar o Iraque. Talabani defendeu essa mediação. Diplomatas americanos devem se encontrar com representantes iranianos na próxima semana, segundo fontes políticas iraquianas citadas pela agência Reuters.
Mas os EUA, que consideram o Irã parte do "eixo do mal", expressaram desconfiança sobre os iranianos. "Eles estão jogando um jogo muito delicado", disse o general Casey. "Por um lado, eles querem um vizinho estável; por outro, eu não acredito que eles queiram que nós [os americanos] sejamos bem-sucedidos lá."
Em Teerã, um funcionário iraniano disse à agência Reuters que espera que as negociações foquem "num prazo para a retirada das forças de ocupação".
Casey, no entanto, disse que as tropas americanas devem ficar no Iraque por "mais um par de anos", com redução gradual à medida que as forças iraquianas esteja mais bem preparadas.
O terceiro aniversário da Guerra do Iraque foi marcado por protestos em várias partes do mundo, inclusive nos EUA. Em Chicago, mais de 7.000 pessoas marcharam anteontem exigindo a retirada dos soldados americanos.
Em um ataque em Duluiya, forças americanas mataram oito pessoas, depois que uma patrulha foi emboscada. Segundo a polícia iraquiana, entre os mortos estão um menino de 13 anos e seus pais. O comando dos EUA disse que os mortos eram "terroristas".


Com agências internacionais


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