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Relatório revela "sala de tortura" dos EUA no país
ERIC SCHMITT
CAROLYN MARSHALL
DO "NEW YORK TIMES"
Como a resistência iraquiana
estava se intensificando no início
de 2004, uma unidade de elite de
Operações Especiais converteu
uma das antigas bases militares
de Saddam Hussein em um centro de detenção ultra-secreto. Lá,
os soldados norte-americanos
transformaram uma das câmaras
de tortura do ex-ditador iraquiano em sua própria sala de torturas. Chamam-na de Sala Negra.
Nessa sala sem janelas, alguns
soldados davam coronhadas nos
prisioneiros, cuspiam em suas
rostos e, em uma área próxima,
usavam detentos como alvo em
jogo de paintball (simulação de
combate por meio de armas carregadas de tinta).
A intenção dos soldados era extrair informações para ajudá-los a
caçar os terroristas mais procurados do Iraque, como Abu Musab
al Zarqawi, segundo funcionários
do Departamento dA Defesa que
serviram na unidade.
A Sala Negra fazia parte de um
campo de detenção temporária
em Camp Nama, os quartéis-generais secretos de unidade militar
conhecida como Força Tarefa 6-26. Situado no Aeroporto Internacional de Bagdá, o campo era a
primeira parada para muitos insurgentes em seu caminho para a
prisão de Abu Ghraib, algumas
milhas adiante.
Placas colocadas pelos soldados
na área de detenção advertiam:
"Sem sangue, sem violação". De
acordo com especialistas do Pentágono que trabalharam na unidade, freqüentemente prisioneiros de Camp Nama desapareciam
em um buraco escuro usado para
detenção e cujo acesso era proibido a advogados ou parentes, chegando a ficar confinados por semanas. "A realidade é que lá não
havia regras", disse uma autoridade do Pentágono.
Advertências
O relatório sobre a Força Tarefa
6-26, baseado em documentos e
entrevistas com dezenas de pessoas, é a primeira descrição detalhada de como a unidade de contraterrorismo mais bem treinada
dos EUA cometeu sérios abusos.
Ele vem se juntar ao quadro de
práticas interrogatórias severas
utilizadas em prisões militares
norte-americanas, como a de
Guantánamo, em Cuba, assim como nos centros de detenção secretos da CIA espalhados pelo
mundo. O novo relatório ajuda a
negar as afirmações do Pentágono segundo as quais os abusos nas
prisões estariam restritos a um
pequeno número de reservistas
em Abu Ghraib.
Os abusos em Camp Nama
prosseguiram apesar das advertências do Exército e da inteligência dos EUA, iniciadas em agosto
de 2003. Para uma unidade de elite que não ultrapassa mil pessoas,
a Força Tarefa 6-26 tem um grande número de soldados punidos
por abusos contra detentos. Desde 2003, 34 foram punidos por
maltratarem prisioneiros, e pelo
menos 11 foram afastados.
Choque cultural
Algumas das acusações sérias
contra a Força Tarefa 6-26 têm sido relatadas nos últimos 16 meses
por órgãos de comunicação dos
EUA. Muitos detalhes vieram à
tona em documentos requisitados pela União Americana pelas
Liberdades Civis.
Reunidos pela primeira vez, os
documentos e entrevistas com civis e militares do Departamento
da Defesa e de outros órgãos federais fornecem o retrato mais detalhado já feito do campo secreto e
do funcionamento da unidade
clandestina.
Os documentos e entrevistas
também refletem um choque cultural entre os comandantes militares e os civis -mais cuidadosos- do Pentágono que trabalham com eles.
A maior parte das pessoas entrevistadas era de civis e militares
que ocupavam cargos médios no
Departamento da Defesa e que
trabalhavam com a Força Tarefa
6-26. Eles afirmaram ter testemunhado abusos ou terem sido notificados a respeito deles. Foi garantido o anonimato a todos que
concordaram em falar, de modo a
encorajá-los a expressar-se sem
medo de retaliação.
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