|
Próximo Texto | Índice
Bush fala em "sucesso inegável" no Iraque
Presidente vê exagero em estimativas de custo da guerra, promete vitória e acena com possibilidade de reduzir tropas
Discurso, cinco anos depois de invasão, contrasta com pesquisa que aponta que só 32% dos americanos ainda são favoráveis ao conflito
Joshua Roberts/ Reuters
|
Manifestantes protestam contra a guerra, em Washington |
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na manhã do dia em que a invasão do Iraque pelos Estados
Unidos completou cinco anos,
o presidente norte-americano,
George W. Bush, disse que a escalada ordenada por ele está
funcionando, definiu a guerra
como "sucesso" e acenou com a
possibilidade de começar a diminuir o número de tropas dos
EUA atualmente no Iraque.
"Como resultado de nosso
sucesso no Iraque, estamos começando a trazer parte de nossas tropas para casa", afirmou,
em discurso no Pentágono, onde era interrompido por aplausos de uma platéia composta na
maioria por militares. "A escalada fez mais do que transformar a situação no Iraque
-abriu a porta para uma grande vitória estratégica na guerra
ao terror mais abrangente."
É a primeira vez que o republicano acena com a diminuição do efetivo em ação no Iraque, depois da escalada que elevou o total para os atuais 160
mil soldados. Ele tomará sua
decisão após o testemunho no
Congresso que o general David
Petraeus, comandante militar
da região, e o embaixador dos
EUA no Iraque, Ryan Crocker,
darão no mês que vem.
"Qualquer retirada será baseada nas condições em campo
e nas recomendações de nossos
comandantes e não pode colocar em risco os duros ganhos de
nossas tropas e nossos civis no
último ano", disse Bush.
Custo alto
De fato, segundo levantamento independente da Brookings Institution, em Washington, o cenário no Iraque mostra
melhora em alguns setores.
No último ano diminuíram,
por exemplo, os números de
iraquianos civis mortos, de baixas de soldados americanos, de
ataques de milícias e insurgentes às forças invasoras e do êxodo de iraquianos pela guerra.
Ainda assim, a situação no país
é longe de estável, segundo relatórios da Cruz Vermelha e da
Anistia Internacional.
A primeira define o cenário
humanitário como "um dos
mais críticos do mundo" e
aponta, entre outros dados, que
o iraquiano médio gasta até um
terço da renda média mensal
(cerca de R$ 250) para comprar
água potável; já a segunda afirma que um terço da população,
ou 8 milhões de pessoas, é dependente de alguma ajuda humanitária para sobreviver.
Bush tocou em outro ponto
polêmico da guerra em seu discurso: o custo. "O sucesso que
estamos vendo no Iraque é inegável", disse. "Críticos do conflito não podem mais argumentar com credibilidade que estamos perdendo a guerra, então
agora eles argumentam que a
ação custa muito."
Segundo o presidente, as estimativas "são exageradas", e os
gastos, "necessários quando se
leva em conta o custo de uma
vitória estratégica para nossos
inimigos no Iraque". Cálculos
do governo colocam valor no
Iraque e Afeganistão em torno
de US$ 700 bilhões. Para o Nobel de economia Joseph Stiglitz, no entanto, a conta está
próxima dos US$ 3 trilhões.
Pouco apoio
O valor ganha importância
no momento em que a economia norte-americana luta para
evitar uma recessão que a
ameaça. A preocupação já se reflete em pesquisas de opinião.
Num levantamento divulgado
ontem pela CNN, 71% dos ouvidos acreditam que o gasto do
governo com a guerra é culpado
pelos problemas econômicos
que o país enfrenta.
Na mesma pesquisa, apenas
32% responderam que ainda
apóiam a guerra, e somente
36% dizem que a invasão valeu
a pena -esse contingente era
de 68%, ou quase o dobro do
atual, em março de 2003, quando o conflito teve início.
Ainda, 61% dos 1.019 adultos
norte-americanos ouvidos entre os dias 14 e 16 últimos defendem que o próximo presidente deveria retirar a maioria
dos soldados norte-americanos
"poucos meses após tomar posse". Essa imbricação entre economia e guerra foi um dos motivos que levaram os dois pré-candidatos de oposição à sucessão de Bush a se manifestar sobre o assunto ontem.
"O país precisa de um comandante-em-chefe que termine essa guerra e traga nossos
soldados para casa", disse a senadora Hillary Clinton. Seu colega Barack Obama prometeu:
"Eu vou encerrar esta guerra,
porque é a coisa certa a fazer
para nossa segurança".
Por fim, Bush falaria em "vitória". "Há cinco anos, prometi
ao povo americano que na luta
que se seguiria nós não aceitaríamos outro resultado que não
a vitória", afirmou. "Hoje reafirmo o compromisso. Com
nossa coragem, a batalha no
Iraque acabará em vitória."
Nas horas seguintes, mesmo
com chuva, milhares foram às
ruas de Washington fazer manifestações contra a guerra.
"Não queremos nossos dólares
de imposto gastos no Iraque e
no Afeganistão", afirmou Ed
Hedemann.
Próximo Texto: Frases Índice
|