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EUA relaxam repressão a uso de maconha
"Clubes" que vendem a droga nos 13 Estados em que é permitido seu uso medicinal não sofrerão mais batidas policiais
Política reverte prática da era Bush e é considerada vitória por entidades de ativistas favoráveis ao
uso terapêutico da droga
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Por ser um assunto polêmico, a ordem não teve assinatura
ou eventos públicos nem entrevista coletiva, mas anteontem o
secretário da Justiça de Barack
Obama afirmou que o governo
dos EUA não mais prenderá
produtores, vendedores e consumidores de maconha para
fins medicinais em Estados em
que a lei autoriza a atividade.
O uso medicinal da erva é liberado hoje em 13 Estados norte-americanos, sendo o principal a Califórnia. Ao mesmo
tempo, a produção, a venda e o
consumo de maconha são crimes federais. Sob George W.
Bush, o Departamento de Justiça autorizava blitze frequentes do DEA, a agência antidrogas, em estabelecimentos que,
apesar de obedecerem à lei estadual, infringiam a federal,
que se sobrepõe à primeira.
Eric Holder, o secretário
obamista, disse na quarta-feira
que isso não acontecerá mais. A
nova política será "ir atrás das
pessoas que violam tanto as leis
federais quanto as estaduais e
que usam as leis da maconha
medicinal como um escudo para atividades que não estão previstas na lei original", disse.
"Nosso alvo serão essas organizações e essas pessoas, e isso é
consistente com o que foi dito
na campanha presidencial."
Ele se refere aos grupos que
usam os chamados "clubes de
maconha", em que a venda para
fins medicinais é permitida, como fachada para traficar. A declaração de Holder foi considerada uma vitória por entidades
ativistas. "Sejam quais forem as
questões ainda não resolvidas,
o comentário representa uma
mudança clara na política de
Washington", disse Ethan Nadelmann, diretor da ONG ativista Drug Policy Alliance.
Essa modalidade do uso da
droga foi aprovada pela primeira vez em plebiscito há 13 anos,
na Califórnia. Desde então, outros 12 Estados norte-americanos adotaram medidas similares, na esteira de estudos científicos que afirmam que o uso
da droga pode aliviar alguns
sintomas de certos tipos de
câncer, dores intensas, ansiedade e insônia.
Na teoria, o paciente tem de
ser avaliado por um médico em
consulta, receber a receita, ter
seu nome registrado e só então
ser autorizado a comprar a erva, por sua vez produzida por
alguns poucos agricultores autorizados pelos Estados, em
áreas restritas. O funcionamento dos "clubes" de venda
também é restrito, assim como
sua localização nas cidades.
Na prática, no entanto, principalmente na Califórnia, a autorização para a compra de maconha medicinal é muito fácil.
Alguns "clubes" contam com
médicos vizinhos que dão receitas ao "paciente" em um minuto. Os estabelecimentos, por
sua vez, oferecem o produto de
forma lúdica, como nos famosos cafés de Amsterdã.
A mudança de política chega
num momento em que cresce o
apoio de economistas e governantes de diversas tendências à
legalização do consumo da maconha, ou pelo menos de apoio
à descriminalização do usuário.
Obama escreveu em uma de
suas biografias que fumou maconha na juventude; desde que
saiu candidato, no entanto, se
diz contrário à legalização.
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