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Reforma da saúde manterá latinos alijados
Mesmo que projeto defendido por Obama seja aprovado amanhã, imigrantes ilegais seguirão sem poder bancar atendimento médico
Clínicas comunitárias ou gratuitas, dependentes de trabalho voluntário e com dificuldades para se manter, seguirão como única opção
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Como faxineira na capital
americana, a imigrante salvadorenha Blanca Cruz, 55, não
tem dinheiro para pagar um seguro de saúde privado. Como
diabética, precisa de atendimento constante. Na semana
passada, ela conseguiu o que
queria: uma consulta médica
em Washington.
Cruz foi atendida por uma
clínica comunitária especializada em latinos no norte da cidade, a Clínica del Pueblo, que
recebe um dos grupos de pacientes mais vulneráveis dos
EUA: o dos imigrantes pobres.
"Acho que sem esse lugar eu já
estaria morta", afirmou ela à
Folha.
Com atuação discreta, mas
vital, clínicas comunitárias e
gratuitas se espalharam pelos
EUA. As primeiras recebem alguns fundos públicos, enquanto as segundas são inteiramente baseadas em trabalho voluntário e doações. Todas oferecem serviços básicos gratuitos
ou com cobrança simbólica, baseada em faixa de renda e tamanho da família.
Mas são apenas cerca de
1.200 clínicas do tipo (ou até
2.000, a crer nas contagens informais mais otimistas), e elas
só conseguiram fornecer atendimento primário, não emergencial, a 7 milhões de pacientes em 2008, segundo o jornal
"USA Today".
O restante dos não segurados
-que totalizam mais de 46 milhões de pessoas- ainda recorre às salas de emergência de
hospitais, que cobram valores
exorbitantes após os serviços. É
a forma mais ineficiente e mais
cara -mas ainda assim a mais
usada- de atendimento primário nos EUA.
Sem saída
Mesmo se a reforma do sistema de saúde proposta pelo presidente Barack Obama for
aprovada em votação amanhã,
como espera o governo, os imigrantes pobres -especialmente os ilegais- deverão continuar de fora da cobertura, mantendo a demanda sobre as clínicas comunitárias. A exclusão de
imigrantes sem documentos
foi exigida por congressistas ao
governo, e mesmo os legais, se
não forem naturalizados, terão
dificuldades.
"Para nossos pacientes, a reforma faria pouquíssima diferença", afirma Alicia Wilson,
diretora da Clínica del Pueblo.
A reforma poderá ajudar, porém, com o aumento dos fundos públicos revertidos às clínicas, o que terá importância especial em cenário de crise econômica. Em época de alta no
desemprego (a taxa passou de
4,5% em fevereiro de 2007 a
9,7% no mês passado), a pressão sobre essas organizações se
tornou uma ameaça. O grupo
Families USA calcula que para
cada ponto percentual de aumento no desemprego, o número de não segurados aumenta em 1,1 milhão de pessoas.
As clínicas sofrem ainda com
a queda nas doações -muitos
estabelecimentos foram fechados. "Não cortamos serviços,
mas fomos forçados a negar
atendimento a cada vez mais
pessoas no ano passado", diz
Wilson.
A situação é um pouco melhor em Washington do que no
resto do país, graças à chamada
Health Care Alliance (aliança
de atendimento de saúde), um
tipo de seguro público de baixa
renda oferecido aos residentes
na região.
Mas a clínica também acaba
atendendo pacientes de Estados vizinhos, como Maryland e
Virgínia, que não podem entrar
para a aliança e não têm outras
opções. "A única coisa que resolveria o problema dessas pessoas é a reforma migratória,
mas não estou otimista quanto
à rapidez com que isso será alcançado", diz Wilson.
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