São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

País vai ter de racionar energia, diz especialista

Tremor e tsunami fecharam 11 reatores nucleares e paralisaram seis refinarias

Para suprir oferta, país precisará aumentar o número de usinas térmicas a gás, o que vai elevar os custos

JULIANA ROCHA
DE SÃO PAULO

O fechamento de usinas nucleares no complexo de Fukushima deve obrigar o Japão a racionar energia. O período de racionamento pode durar até dois anos, estimam especialistas.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), depois do terremoto e do tsunami da sexta-feira da semana passada, foram fechados 11 reatores nucleares. Seis refinarias de petróleo foram paralisadas temporariamente, reduzindo em 30% a produção de combustível.
Especialistas ouvidos pela Folha disseram que, para suprir a oferta de energia dos reatores nucleares parados, a melhor alternativa para o Japão é aumentar o número de usinas térmicas a gás. Essas plantas levam de um a dois anos e meio para serem construídas.
"O custo da energia no país vai subir. E o Japão vai ter que adotar uma política de racionamento muito séria até as fontes alternativas de energia estarem em funcionamento", avalia o coordenador do grupo de estudos do setor elétrico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Nivaldi Castro.

TERMELÉTRICAS
O Japão já usa usinas térmicas como sua principal fonte de geração de energia. Somando-se as movidas a gás e a carvão, essa fonte responde por 54% da energia produzida. Os dados são de 2009, da IEA.
As usinas nucleares eram 27% do total -a segunda principal fonte de energia. A estimativa é que o percentual já tenha ultrapassado os 30% neste ano.
Mas a política energética japonesa previa que, até 2030, a geração nuclear responderia por 50% da energia produzida no país.
As usinas hidrelétricas significam apenas 8% da energia do Japão, que não tem quedas d'água suficientes para aumentar essa produção. O país utiliza 2% de fontes alternativas, como eólica e solar. Nivaldi Castro explica que não é possível aumentar a dependência dessas fontes, porque não há vento e sol o tempo todo.

IMPORTAÇÃO DE GÁS
Silvio Areco, diretor da consultoria de energia Andrade&Canelas, lembra que o uso de carvão como combustível em usinas térmicas é muito poluente, e o uso de filtros para conter a poluição aumentaria os custos.
O GNL (Gás Natural Liquefeito) se apresenta como a melhor opção para a geração térmica porque pode ser transportado de navio.
"Qualquer que seja a opção do governo japonês, o combustível terá que ser importado, o que aumenta a dependência na geração de energia", alerta Areco.
O Japão é o terceiro maior importador de gás natural do mundo, segundo a Agência Internacional de Energia. O país tem a seu favor o fato de já ter infraestrutura apropriada para comprar esse material, como portos adaptados com terminais específicos.
Os países que mais fornecem gás natural ao Japão são Indonésia, Malásia, Austrália e Qatar.
Os especialistas ainda não calcularam em quanto deve subir o custo da energia no Japão. Mas, além de a geração térmica ser mais cara pelo fato de o combustível ser importado, a demanda será mais alta que a oferta nesse período de racionamento.


Texto Anterior: Opinião: Expandir reatores nucleares não é uma solução, mas fonte de problemas
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.