|
Próximo Texto | Índice
Silêncio de atirador assustava parentes
Familiares do sul-coreano Cho Seung-hui, autor do massacre na Virgínia, falam em público pela primeira vez sobre o estudante
Avô de assassino pensava
que neto tinha problema de
fala; pais estão sob proteção
do FBI, e polícia encerra
"investigações principais"
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BLACKSBURG
Silêncio. Essa a característica
de Cho Seung-hui que desde a
sua infância mais preocupava
parentes do estudante sul-coreano. Três dias depois do massacre que matou 32 pessoas no
campus de uma universidade
no Estado da Virgínia, familiares do autor do maior ataque do
tipo na história dos EUA começam a aparecer. Entretanto, os
pais de Cho, que se matou após
o crime, continuam eles próprios em silêncio.
Seu avô materno, Kim
Hyong-shik, 81, chegou a pensar que, aos oito anos, o neto tinha problemas de audição. "O
menino era muito diferente da
irmã mais velha, que é superinteligente. Sua timidez extrema
preocupava os pais. Achei que
ele poderia ser surdo e mudo",
disse ao jornal sul-coreano
"Hankyoreh".
Diria ainda que o pai de Cho
"vivia para seus filhos". "Agora
acontece isso. É como se todo o
esforço não tivesse servido para nada. É como se eles nem tivessem vivido", lamentou.
Opinião semelhante tem a
tia-avó materna. "Ele era muito
frio", disse Kim Yang-soon, 84,
em entrevista a uma emissora
sul-coreana retransmitida pela
CNN. "Era bonitinho, mas não
falava. Eu o provocava e tentava falar com ele, mas ele não
respondia." "Eu suponho que
ele deveria ter problemas mentais desde o nascimento", completou a tia-avó. Cho, os pais e
sua irmã mais velha deixaram a
Coréia do Sul em 1992.
Pais sob proteção
Cho Sung, 61, e Cho Hyang,
56, continuam sem aparecer
em público ou na casa em que
moram em Centreville, cidade
da Virgínia a 40 minutos de
Washington. Estão sob proteção do FBI, segundo a polícia
estadual da Virgínia, e não se
sabe se darão entrevistas -ambos falam pouco inglês.
A polícia da Virgínia negou
também que eles tivessem tentado se matar, um dos rumores
mais persistentes no campus
do Virginia Tech. "Eles estão
bem", disse a porta-voz Corrine
Geller. "Tem havido muitos rumores sobre eles, mas eles estão atualmente sob proteção
das autoridades." Jornais coreanos chegaram a publicar
que eles teriam sido internados
"em estado de choque".
Já a irmã do estudante teria
ligado para um líder religioso
em Princeton e dito a ele que
pedisse desculpas a todos, especialmente os sul-coreanos
daquela universidade de Nova
Jersey onde ela se formou em
2004. A informação foi publicada no "The Daily Princetonian" e atribuída ao reverendo
David Kim. "Quando ela me ligou, uma das primeiras coisas
que fez foi se desculpar."
Cho Sun-kyung presta serviços ao escritório de informação
de gerenciamento de recursos
do Departamento de Estado
norte-americano, embora não
seja contratada do governo. Em
e-mail enviado na quarta-feira,
ela teria pedido desculpas também aos colegas de trabalho e
dito que sairia de licença.
Reação ao vídeo
Depois de dizer que as "investigações principais" sobre o
massacre estavam encerradas e
que o pacote enviado por Cho à
NBC só confirmava o que os policiais já sabiam e pouco acrescentava como prova, o chefe da
Polícia Estadual da Virgínia se
disse "desapontado" com a decisão da emissora de exibir o vídeo, depois retransmitido por
todas as TVs dos EUA.
Nos trechos exibidos, Cho faz
uma espécie de confissão antecipada do massacre, lendo um
texto errático de 1.800 palavras
em que cita Jesus Cristo, Moisés e os autores do massacre de
Columbine, ocorrido numa escola do Colorado em 1999, a
quem chama de "mártires". Em
algumas fotos, aparece armado.
"Sinto que vocês tenham sido
expostos a essas imagens", disse Steve Flaherty.
O ressentimento ecoava pelo
campus. Em meio a memoriais
improvisados espalhados pela
praça principal, um deles com
32 pedras em semicírculo, uma
em homenagem a cada vítima,
estudantes reclamavam das
imagens. "Olhar para aquelas
cenas só as tornaram mais
reais", disse Laura Sink, 22,
com lágrimas nos olhos.
Parentes e amigos das vítimas chegaram a cancelar entrevistas à NBC. Steve Capus,
diretor de jornalismo da emissora, se defendeu: "Era apropriado divulgar as informações,
pois são o mais próximo que
chegaremos ao interior da
mente de um assassino".
Segundo Larry Hincker, porta-voz da universidade, os estudantes mortos receberão diplomas póstumos e as aulas voltam ao normal na segunda.
"Não podemos deixar o horror
definir a universidade", disse.
Próximo Texto: Cho Seung-hui, segundo parentes e conhecido Índice
|