São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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Ilegais brasileiros temem vitória de Sarkozy

Políticas antiimigrantes do direitista, que lidera corrida para eleição de domingo, levam clandestinos a pensarem em deixar a França

Trabalhando em condições ilegais e com baixo nível de instrução, brasileiros são assombrados pelo aumento das batidas e deportações

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A perspectiva de vitória do direitista Nicolas Sarkozy nas eleições presidenciais na França, cujo primeiro turno ocorre neste domingo, virou um fantasma para os brasileiros que vivem ilegalmente no país.
Empunhando a bandeira antiimigrantes -e junto dela, a da segurança- antes mesmo de ser escolhido candidato da UMP (União por um Movimento Popular), Sarkozy já anunciou que, se eleito, vai reforçar sua política de "imigração seletiva", priorizando estrangeiros com qualificação profissional.
O ex-ministro do Interior afirma que vai implementar um sistema de pontos baseado em critérios como língua e escolaridade para "adaptar o fluxo anual de imigração às necessidades econômicas e capacidade de acolhimento da França".
Também anunciou a criação de um Ministério da Imigração e Identidade Nacional -antiga reivindicação do partido da extrema direita, a Frente Nacional, do candidato Jean-Marie Le Pen- e fixou metas para a expulsão de clandestinos. Somente em 2006, 25 mil imigrantes ilegais foram expulsos.

Retorno forçado
A Embaixada do Brasil não tem números confiáveis sobre os brasileiros clandestinos na França, mas estima-se que estejam na casa dos milhares.
Um deles é Josélio Resplandes, 33, que deixou Brasília em 2003 e hoje trabalha ilegalmente como pedreiro para uma empresa francesa.
Josélio diz que, se fosse francês, votaria em Ségolène Royal, do Partido Socialista, que defende a concessão de nacionalidade a imigrantes vivendo há dez anos na França e a regularização mediante contrato de trabalho e escolaridade dos filhos. Mas corrige em seguida: "Pensando bem, se eu fosse francês votaria no Sarkozy, porque hoje há uma obsessão contra estrangeiros aqui".
Mesmo sem seguir de perto a disputa, ele e seus amigos têm medo do que pode acontecer se o candidato da UMP vencer. "A gente acha que vão aumentar as batidas policiais, o controle nos transportes públicos, as prisões e, finalmente, as deportações."
Para o faxineiro Itamar, 39, a política de segurança de Sarkozy já mostra conseqüências. "As batidas e revistas policiais nos transportes e periferias de Paris são cada vez mais freqüentes. O problema é que a regra não é a mesma para todos. São principalmente africanos e árabes os visados."
Tamanha apreensão leva alguns a cogitarem deixar a França caso "Sarkô" vença.
Pedagoga, a baiana Walnízia Ramos, 45, trabalha como faxineira e vive com o filho de 11 anos em um estúdio de 15 m2 no norte de Paris. "Se Sarkozy for eleito, não vou continuar na França. Acho que tudo será muito mais difícil, pois ele tem traços autoritários e um temperamento quase obsessivo."
Não é a única. Segundo o pastor evangélico Cláudio Rodrigues Santos, a maioria de seus fiéis está assustada. "Muitos me perguntam o que vai mudar e o que devem fazer. Tem quem ache que Sarkozy pode ser uma espécie de ditador."
Opinião unânime entre os brasileiros clandestinos: a França precisa de imigrantes.
"Fazemos o que os franceses não querem fazer. Trabalho há cinco anos na construção civil e nunca vi um pedreiro francês", diz o mestre-de-obras Agesandro Barros, hoje legalizado.
O cientista político Stéphane Monclaire, da Sorbonne, concorda. E lembra que, para aprovar sua política de imigração seletiva, Sarkozy terá que enfrentar o forte lobby dos setores que utilizam mão-de-obra pouco especializada.


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