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Ilegais brasileiros temem vitória de Sarkozy
Políticas antiimigrantes do direitista, que lidera corrida para eleição de domingo, levam clandestinos a pensarem em deixar a França
Trabalhando em condições ilegais e com baixo nível de instrução, brasileiros são assombrados pelo aumento das batidas e deportações
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A perspectiva de vitória do
direitista Nicolas Sarkozy nas
eleições presidenciais na França, cujo primeiro turno ocorre
neste domingo, virou um fantasma para os brasileiros que
vivem ilegalmente no país.
Empunhando a bandeira antiimigrantes -e junto dela, a da
segurança- antes mesmo de
ser escolhido candidato da
UMP (União por um Movimento Popular), Sarkozy já anunciou que, se eleito, vai reforçar
sua política de "imigração seletiva", priorizando estrangeiros
com qualificação profissional.
O ex-ministro do Interior
afirma que vai implementar
um sistema de pontos baseado
em critérios como língua e escolaridade para "adaptar o fluxo anual de imigração às necessidades econômicas e capacidade de acolhimento da França".
Também anunciou a criação
de um Ministério da Imigração
e Identidade Nacional -antiga
reivindicação do partido da extrema direita, a Frente Nacional, do candidato Jean-Marie
Le Pen- e fixou metas para a
expulsão de clandestinos. Somente em 2006, 25 mil imigrantes ilegais foram expulsos.
Retorno forçado
A Embaixada do Brasil não
tem números confiáveis sobre
os brasileiros clandestinos na
França, mas estima-se que estejam na casa dos milhares.
Um deles é Josélio Resplandes, 33, que deixou Brasília em
2003 e hoje trabalha ilegalmente como pedreiro para uma
empresa francesa.
Josélio diz que, se fosse francês, votaria em Ségolène Royal,
do Partido Socialista, que defende a concessão de nacionalidade a imigrantes vivendo há
dez anos na França e a regularização mediante contrato de
trabalho e escolaridade dos filhos. Mas corrige em seguida:
"Pensando bem, se eu fosse
francês votaria no Sarkozy,
porque hoje há uma obsessão
contra estrangeiros aqui".
Mesmo sem seguir de perto a
disputa, ele e seus amigos têm
medo do que pode acontecer se
o candidato da UMP vencer. "A
gente acha que vão aumentar as
batidas policiais, o controle nos
transportes públicos, as prisões
e, finalmente, as deportações."
Para o faxineiro Itamar, 39, a
política de segurança de Sarkozy já mostra conseqüências.
"As batidas e revistas policiais
nos transportes e periferias de
Paris são cada vez mais freqüentes. O problema é que a regra não é a mesma para todos.
São principalmente africanos e
árabes os visados."
Tamanha apreensão leva alguns a cogitarem deixar a França caso "Sarkô" vença.
Pedagoga, a baiana Walnízia
Ramos, 45, trabalha como faxineira e vive com o filho de 11
anos em um estúdio de 15 m2 no
norte de Paris. "Se Sarkozy for
eleito, não vou continuar na
França. Acho que tudo será
muito mais difícil, pois ele tem
traços autoritários e um temperamento quase obsessivo."
Não é a única. Segundo o pastor evangélico Cláudio Rodrigues Santos, a maioria de seus
fiéis está assustada. "Muitos
me perguntam o que vai mudar
e o que devem fazer. Tem quem
ache que Sarkozy pode ser uma
espécie de ditador."
Opinião unânime entre os
brasileiros clandestinos: a
França precisa de imigrantes.
"Fazemos o que os franceses
não querem fazer. Trabalho há
cinco anos na construção civil e
nunca vi um pedreiro francês",
diz o mestre-de-obras Agesandro Barros, hoje legalizado.
O cientista político Stéphane
Monclaire, da Sorbonne, concorda. E lembra que, para aprovar sua política de imigração
seletiva, Sarkozy terá que enfrentar o forte lobby dos setores que utilizam mão-de-obra
pouco especializada.
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