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EUA devem liderar pelo exemplo, diz Obama
Ao final de 1ª visita à América Latina, presidente cita prestígio de médicos cubanos ao definir sua doutrina de política externa
Ele defende negociação com rivais, diz que não pode só "mandar armas" ao mundo e relativiza a exportação
do modelo norte-americano
Evan Vucci/Associated Press
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Barack Obama, Lula e outros presidentes no final da 5ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN
No último dia de sua primeira visita à América Latina, o
presidente Barack Obama elogiou o trabalho dos médicos cubanos e sugeriu que os Estados
Unidos deveriam seguir o
exemplo e mandar mais do que
armas à região e ao mundo como maneira de promover os interesses americanos. Disse que
duvidava que dialogar com Venezuela e Cuba feriria os interesses estratégicos americanos.
Ao fazer isso, Obama definiu
o "obamismo" -literalmente.
Instado a enunciar o que era a
Doutrina Obama, o presidente
brincou com o neologismo,
mas cedeu ao pedido. O importante era reconhecer que, na
interação de seu país com o resto do mundo, "o poderio militar
é apenas um braço".
Sob um sol inclemente, na
varanda de um hotel afastado e
para uma plateia de cerca de 30
jornalistas que o acompanharam no périplo, entre os quais a
Folha, Obama elencou os pontos de sua doutrina como se numa palestra de faculdade.
Três pontos
Basicamente, começou, os
EUA continuam a ser o país
mais poderoso e rico do mundo, mas têm de ouvir, não só falar. "Problemas que enfrentamos, como os cartéis de drogas,
mudança climática, terrorismo, o que você quiser, não podem ser resolvidos por um só
país", disse, distanciando-se do
unilateralismo do antecessor, o
republicano George W. Bush.
Segundo ponto, continuou:
os EUA, em seus melhores momentos, representam um conjunto universal de valores e
ideais que devem ser promovidos pelo exemplo, não pela força. "É a ideia de práticas democráticas, liberdade de expressão e religião, uma sociedade
civil em que as pessoas são livres para perseguir seus sonhos", disse.
Mas outros países têm culturas e perspectivas diferentes,
ponderou. Assim, "se praticamos o que pregamos e, ocasionalmente, confessamos nos ter
desviado de nossos valores e
ideais, isso nos fortalece e nos
permite falar com mais força
moral e clareza a respeito dessas questões. Os povos do mundo apreciarão se falarmos que
não vamos fazer sermão, mas
mostrar por meio de nossas
ações os benefícios desses valores e ideais".
Como consequência de ouvir, concluiu, é preciso levar em
conta interesses alheios. Esse
pragmatismo, afirmou, pode
mitigar o sentimento antiamericano e fazer com que a população dos países torne mais fácil para os governantes cooperarem com os EUA.
Dessa maneira, conciliatória
para o mandatário das mais poderosas Forças Armadas e da
maior economia do mundo,
Obama conclui seu périplo de
quatro dias, que se iniciou na
Cidade do México, na quinta, e
terminou ontem, em Port of
Spain, no encerramento da 5ª
Cúpula das Américas, que reuniu líderes dos 34 países da região, com exceção de Cuba.
Resposta a críticos
Numa turnê que se destacou
pela distensão entre os EUA e
seus mais ferrenhos críticos regionais, mas notável também
pela ausência de medidas concretas, o jovem presidente norte-americano passou a nova
mensagem de Washington:
queremos ouvir e conversar.
Em relação a Cuba, terminou
por citar um dos cartões-postais do regime castrista, o trabalho de médicos cubanos na
região, elogiado por dirigentes
latino-americanos. "São uma
lembrança para nós, nos EUA,
de que se nossa única interação
com muitos dos países é o combate às drogas, nossa única interação é a militar, poderemos
não desenvolver as conexões
que, no longo prazo, podem aumentar nossa influência."
Criticado pela oposição republicana e comentaristas conservadores nos EUA pelos contatos cordiais com o venezuelano Hugo Chávez durante a cúpula, Obama disse que não teme estender a mão a inimigos.
"A ideia de que mostrarmos
cortesia ou abrirmos diálogo
com governos que antes eram
hostis a nós seja uma demonstração de fraqueza não faz sentido", disse. "O povo americano
não comprou essa ideia."
Sobre a "ameaça" Chávez,
disse: "A Venezuela é um país
cujo orçamento de defesa é 1/600 do dos EUA. Eles são donos
da Citgo [distribuidora de combustíveis nos EUA]. É improvável que, como resultado de eu
apertar as mãos ou ter uma
conversa educada com o senhor Chávez, estejamos pondo
em risco os interesses estratégicos dos Estados Unidos".
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