São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Ativistas lamentam boicote a encontro contra o racismo

Ausências de EUA, Alemanha, Holanda, Polônia, Austrália, Itália, Israel e Canadá esvaziam conferência em Genebra

Ausentes alegam risco de antissemitismo; ministro brasileiro crítica "presidente negro que boicota uma reunião contra o racismo"

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A decisão da Casa Branca de boicotar a Conferência Contra a Discriminação Racial das Nações Unidas, que começa hoje em Genebra, causou enorme decepção entre grupos de direitos humanos, que esperavam o engajamento do primeiro governo dos EUA chefiado por um afro-americano.
Agora, a preocupação na ONU é que debate seja dominado por disputas entre o mundo islâmico e o Ocidente, como ocorreu no encontro de 2001, em Durban (África do Sul). Em uma dose adicional de polêmica, o encontro será aberto pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que prega o fim de Israel e já disse que o Holocausto é "um mito".
Israel, Canadá, Itália, Holanda e Austrália já haviam anunciado que ficarão fora. Ontem, Alemanha e Polônia ignoraram os apelos da ONU e também aderiram ao boicote. Vários países, entre eles o Brasil, estavam ontem envolvidos em intensas gestões para garantir a presença da França.
Entre os países da União Europeia, só o Reino Unido confirmou presença. Até a noite de ontem, não havia definição se a UE participaria como bloco. Caso o bloco siga o caminho dos EUA, estimam ativistas, além de esvaziar a cúpula, criarão risco real de que o consenso obtido em torno do documento da conferência vá por água abaixo.
Chefe da delegação brasileira na conferência, o ministro Edson Santos, da Igualdade Racial, lamentou a decisão dos EUA, mas disse que é preciso evitar que ela prejudique a reunião. "O problema de ter um presidente negro que boicota uma conferência contra o racismo é mais dos americanos do que da conferência", disse Santos. "É uma contradição."
Os EUA e os demais países que aderiram ao boicote alegam que o encontro caminha para se tornar uma plataforma de ataques antissemitas e contra o Ocidente, como ocorreu em 2001. Há oito anos, israelenses e americanos abandonaram as discussões em meio a pesadas críticas ao sionismo.
A aprovação, na última sexta, de um esboço do documento que será a base da conferência, reavivou esperanças na ONU de que os EUA e os demais países relutantes decidissem participar. Foram eliminadas referências diretas ao conflito entre israelenses e palestinos e o polêmico conceito de "difamação de religiões", reivindicado pelos países islâmicos.
Ao justificar a ausência nos debates que começam hoje, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Robert Wood, disse que o documento reafirma declaração de 2001, que os EUA não apoiaram.


Com agências internacionais

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