São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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Abordagem de Obama para Irã frustra Israel

EUA acreditam que há tempo para fazer Teerã abandonar programa nuclear por via diplomática; para Israel, tema é urgente

Aposta de Washington é em cenário mais favorável após eleições iranianas em junho; israelenses creem que nada fará Irã desistir de bomba


DO "NEW YORK TIMES"

Após a primeira visita do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, anteontem, à Casa Branca, parece claro que ele e Barack Obama ainda não concordam sobre a questão básica de quanto tempo resta para impedir o Irã de conseguir construir armas nucleares.
Começa agora, portanto, a corrida diplomática de Obama. Sua declaração de que "não vamos conversar para sempre" foi um aviso aos iranianos de que sua abordagem -um engajamento americano sério com Teerã pela primeira vez em três décadas- precisa render frutos antes que o Irã supere os últimos obstáculos tecnológicos à construção de uma arma. É uma estratégia que funcionários do governo descrevem como "negociações com pressão".
"Há uma corrida em três pistas acontecendo", disse um dos estrategistas de Obama. "Estamos correndo para fazer progresso diplomático. Os iranianos estão correndo para fazer de sua capacidade nuclear um fato consumado. E os israelenses estão correndo para propor uma alternativa militar convincente que possa impor um revés ao programa iraniano."
As divergências entre EUA e Israel começam com a questão fundamental de quanto tempo ainda resta para frear o programa iraniano. "Estamos analisando os mesmos indícios", disse o general Michael Herzog, chefe de gabinete do Ministério da Defesa israelense. "Mas os interpretamos de maneira diferente."
A interpretação dos EUA é que o Irã pode atingir a capacidade de construir uma bomba em qualquer momento entre 2010 e 2015. Funcionários da inteligência americana dizem crer que o Irã não vai possuir uma capacidade nuclear séria até o final desse prazo. "Dispomos de algum tempo", disse recentemente o secretário da Defesa, Robert Gates.
O general Herzog faz estimativa mais sombria. "Se os iranianos decidirem apressar o processo, eles poderão ter uma primeira arma no final de 2010 ou início de 2011, e para isso não falta muito tempo."
No encerramento de sua visita aos EUA, Netanyahu repetiu ontem ao Congresso o discurso de que a suposta ameaça iraniana é o maior obstáculo à paz no Oriente Médio.

Aposta
A estratégia de Obama para o Irã se baseia numa aposta gigantesca: que, depois das eleições de 12 de junho, o caminho ficará aberto para convencer os iranianos de que é de seu interesse de longo prazo chegar a um acordo, trocando sua capacidade de produzir seu próprio combustível nuclear por uma série de recompensas tentadoras. Os possíveis incentivos começam com a perspectiva de abrir as torneiras do investimento na decrépita infraestrutura petrolífera do Irã e de até mesmo reconhecer -e auxiliar- uma capacidade nuclear civil para o Irã, desde que o país não ponha as mãos sobre o combustível nuclear.
Nos bastidores, trabalho vem sendo feito no outro lado do balcão: como intensificar a pressão. Algumas táticas envolvem persuadir os chineses a parar de obstruir a imposição de sanções contra o Irã. E, se até o final do ano os iranianos ainda se negarem a encetar negociações sérias, os assessores de Obama já vêm discutindo sanções mais extremas. Uma delas envolve o corte de garantias de crédito a empresas europeias que fazem negócios com o Irã.
Mas autoridades israelenses expressam ceticismo quanto às chances de funcionar qualquer combinação de nova abertura diplomática e uma escalada gradual das pressões. A avaliação deles é que o Irã quer a bomba e ponto final.
Um alto funcionário israelense que conversou com jornalistas após o encontro dos dois líderes disse que, na visão dele, o único marco que importa realmente este ano será a interrupção dos trabalhos de enriquecimento de urânio pelo Irã. Se isso não acontecer, disse ele, a cada dia que as conversações se arrastam, o Irã apenas chega mais perto da capacidade de construir a bomba nuclear.


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