São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2011

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EUA estagnaram na questão palestina, afirma analista

Parag Khanna, consultor do governo dos EUA, diz à Folha que falta estratégia abrangente no Oriente Médio

Segundo ele, há muito improviso na política americana; país deverá manter bases militares na região, declara


CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O discurso de Barack Obama não trouxe avanço na posição dos EUA sobre a questão palestina. Seu trecho mais importante foi o que afirma que é política americana "apoiar as transições para a democracia" no Oriente Médio.
Essa é a avaliação do pesquisador Parag Khanna, consultor eventual dos Departamentos de Estado e da Defesa dos EUA, que lança no Rio seu livro "Como Governar o Mundo" (editora Intrínseca).
A menção à solução de dois Estados baseada nas fronteiras anteriores a 1967, segundo ele, apenas reafirma uma posição já conhecida de Obama -e que sempre foi a dos EUA (e da ONU) antes do governo George W. Bush (2001-2009).
Haveria novidade, afirma, se o presidente tivesse estabelecido um cronograma para um acordo.
"Já existe uma dinâmica pela qual os palestinos vão declarar independência neste ano. Obama tinha a chance de romper com a política tradicional e se mover na direção de seu objetivo declarado", afirma Khanna, que é ligado à New America Foundation, próxima ao Partido Democrata.
Khanna afirma que os EUA ainda não têm uma estratégia abrangente para o Oriente Médio. "Tem havido muito improviso."
A Casa Branca, diz, não sabe se atende à pressão de Arábia Saudita e Israel para continuar a protegê-los a todo custo ou se conclui que uma região menos dependente é melhor para os EUA.
"A estabilidade não é mais representada por um autocrata aliado, nosso SOB [son of a bitch, filho da p.]. Eles estão caindo um a um. Isso força os sauditas a fazer reformas, rumo a uma monarquia constitucional, e força Israel a perceber que não pode mais continuar se negando a fazer concessões."
Khanna defende que os EUA encorajem um diálogo regional sobre segurança, incluindo o Irã. Reconhece, porém, que está em minoria entre uma maioria de assessores que vieram do governo Bill Clinton (1993-2001) e são "muito ruins".
A ausência de uma estratégia não quer dizer, ressalta, que os militares americanos vão se retirar do Oriente Médio. Os EUA manterão bases no golfo Pérsico e no Iraque, mesmo após a saída das tropas de combate. O problema é que essa presença não está articulada com uma visão de longo prazo.

"ÁSIA INSTÁVEL"
Para ele, se tivessem de fato uma nova "grande estratégia" de política externa, os EUA estariam dando maior atenção à América Latina -por seus recursos energéticos e naturais, a região teria condições de tornar autossuficiente o Ocidente geopolítico, frente a um continente asiático "instável".
Khanna confirma também que os EUA manterão bases no Afeganistão, mesmo após a retirada dos combatentes. Entre outras razões, para vigiar a China. "Vão ficar até serem expulsos de lá."


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