São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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COMENTÁRIO

Os terroristas estão ganhando

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

O pior aconteceu. Os terroristas dominaram a agenda do conflito no Oriente Médio. Mesmo a Casa Branca, a paladina da "guerra contra o terrorismo" internacional, se curvou às últimas atrocidades em Jerusalém e adiou, ao menos por alguns dias, o anúncio de seu plano de paz para a região.
Ao longo de todo o processo de paz israelo-palestino, iniciado em 1993, ocorreram atentados promovidos pelos grupos extremistas palestinos. O objetivo, até hoje, sempre foi o mesmo: impedir o diálogo e um eventual acordo levando à criação de dois Estados independentes. Os extremistas querem apenas um Estado: palestino e islâmico.
Mas, antes da Intifada atual, os líderes políticos reagiam aos atentados dizendo que a melhor resposta era justamente seguir com o processo de paz. E que interrompê-lo seria recompensar o terrorismo. Não mais.
Ficou fácil torpedear mortalmente qualquer iniciativa política pela simples retomada do diálogo. Basta agora um palestino disposto a morrer e a levar junto o maior número de israelenses e um punhado de dólares para descarrilar o trem do entendimento.
O presidente dos EUA, George W. Bush, tinha previsto para o início desta semana anunciar seu plano de paz, que mencionaria, entre outras coisas, a eventual criação de um Estado palestino "provisório", ainda sem fronteiras ou status final definidos, desde que garantidas as necessidades de segurança de Israel.
As duas carnificinas em dois dias em Jerusalém inviabilizaram a iniciativa de Washington. O premiê de Israel, Ariel Sharon, deixou bem claro anteontem que não entendia como podiam falar de Estado palestino em meio aos ataques terroristas. Bush parece ter engolido o recado.
Embora criticada tanto por Israel quanto pelos líderes palestinos, a proposta dos EUA tinha o mérito de tentar recolocar o diálogo político no centro da questão. Todos sabem que só existe solução política para o conflito.
Mas é impossível politicamente para Sharon não reagir militarmente aos ataques, mesmo se quisesse. E parece ser impossível para o cada vez mais fraco Iasser Arafat conter os extremistas palestinos, mesmo se quisesse.
O resultado dos atentados, que só prejudicam a justa causa do Estado palestino, é cada vez mais sofrimento imposto pelo Exército israelense de ocupação, em punições coletivas que castigam inocentes e culpados. Que por sua vez alimentam ainda mais as fileiras de jovens desesperados que compram o discurso inflamado e messiânico dos extremistas muçulmanos.
Os terroristas estão ganhando.



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