São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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PERU

Presidente vai suspender a venda de duas estatais para aplacar protestos que deixaram um morto e prejuízos de US$ 100 mi

Toledo susta privatização que gerou crise

DA REDAÇÃO

O governo peruano anunciou hoje que vai suspender a privatização das empresas de energia elétrica do sul do país. A medida visa a aplacar os protestos violentos que têm ocorrido nas cidades da região desde o final de semana passado e que já resultaram em um morto, mais de cem feridos e US$ 100 milhões em prejuízos.
A venda da Egasa e da Egesur para a belga Tractebel por US$ 167,4 milhões levou manifestantes às ruas em Arequipa, Tacna, Cusco e outras cidades.
Por causa da violência dos protestos, o presidente peruano, Alejandro Toledo, decretou, no domingo, estado de emergência na região e enviou tropas do Exército para ajudar a polícia a implementar um toque de recolher.
Apesar disso, os protestos continuaram nos últimos dias, ocorrendo choques frequentes com os policiais e os soldados.
A comissão negociadora enviada pelo governo a Arequipa, chefiada pelo arcebispo da cidade, prometeu que as medidas de exceção seriam levantadas em 48 horas -inicialmente elas estavam previstas para durar ao menos 30 dias.
"O governo está muito satisfeito com o entendimento, o qual está devolvendo a tranquilidade ao sul do país e a Arequipa", disse o vice-presidente Raúl Diez Canseco, que também integra a comissão.
Canseco pediu "desculpas pelos mal-entendidos" e afirmou que a comissão de paz "sentiu na própria carne a preocupação do povo arequipenho".
A suspensão durará até que um recurso contra as privatizações proposto ante um juiz de Arequipa seja analisado. O governo diz que apelará se o recurso anular a privatização, mas que, em última instância, respeitará a decisão judicial final.
Os representantes da Tractebel não quiseram comentar os últimos acontecimentos.
O prefeito de Arequipa e líder da revolta, Juan Manuel Guillén, disse que o acordo será "um instrumento para devolver a paz e a tranquilidade ao país".
Guillén afirmou ainda que a suspensão será "o primeiro passo para realizar a aspiração dos arequipenhos de fazer uma consulta que dê ao povo a oportunidade de decidir os destinos do processo de privatizações no Peru".
Entretanto o ministro Roberto Dañino, que chefia o programa de privatizações, disse não acreditar que um referendo seja feito para decidir a anulação ou não das privatizações da Egasa e da Egesur.
"Francamente não vejo nenhuma possibilidade e não creio que seja desejável ou aconselhável porque abriria um precedente para as futuras privatizações", disse.
Sofrendo com uma desaprovação de 72% dos peruanos -a maior em seus 11 meses de Presidência-, Toledo disse estar satisfeito com a solução para a crise.
Em um comunicado lido pelo porta-voz Carlos Urrutia, Toledo afirmou que está oferecendo alternativas para resolver os "momentos difíceis e de desencontro que vive o sul peruano".
Arequipa é a segunda maior cidade do Peru, com aproximadamente 830 mil habitantes, e fica a 1.000 km de Lima.
Além de centro comercial importante, é uma das principais atrações turísticas do país andino.
Tacna, outro centro importante onde ocorreram protestos violentos, tem cerca de 250 mil habitantes. A cidade é um dos principais entroncamentos da rodovia Pan-americana, no movimentado trecho que liga o Peru ao Chile.


Com agências internacionais


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