São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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Pesquisador nega epidemia de obesidade

GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"

Pergunte a qualquer pessoa: os americanos estão ficando cada vez mais gordos. Campanhas publicitárias insistem nisso. E o mesmo se aplica a funcionários do governo e aos cientistas de cujos dados eles dependem.
Mas Jeffrey Friedman, da Universidade Rockfeller, argumenta que, ao contrário da opinião popular, os dados nacionais não mostram que os americanos estejam, de modo geral, engordando.
Em lugar disso, diz ele, as estatísticas demonstram claramente que, embora os muito gordos estejam ganhando ainda mais peso, as pessoas mais magras se mantiveram estáveis.
Vale a pena esclarecer que Friedman, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes e descobridor do gene da leptina -um hormônio liberado pelas células de gordura-, não é gordo.
Como pesquisador da obesidade, seria de esperar que ele endossasse a opinião dominante. Mas Friedman se diz indignado pela aceitação do que ele vê como um mito prejudicial, o qual encoraja as pessoas a acreditar que, caso sejam gordas, a culpa é delas.
Friedman aponta para análises estatísticas das mudanças no peso corporal dos americanos entre 1991 e este ano, conduzidas por Katherine Flegal, do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde.
No extremo inferior da escala de distribuição de peso, nada mudou. À medida que a análise se move escala acima, começando das faixas médias, temos pessoas entre 2,7 kg e 3,2 kg mais gordas, hoje, do que eram em 91. Só no caso dos morbidamente obesos, existe um aumento considerável no peso individual, da ordem de 11,3 kg a 13,5 kg, segundo Flegal.
Como resultado, a curva de distribuição do peso corporal se alterou ligeiramente, para mais, com número maior de pessoas ganhando alguns quilos e cruzando a linha que os especialistas usam para separar o peso normal da obesidade. Em 91, 23% dos americanos se enquadravam na categoria "obeso", e hoje 30% o fazem. Mas o peso médio da população cresceu apenas entre 3,2 kg e 4,5 kg no período.
"Falar de estatísticas é uma coisa, mas falar do que acontece com indivíduos é outra", disse Marion Nestle, professora de nutrição e saúde pública na Universidade de Nova York. "Todo mundo percebe que há mais gente com excesso de peso."
Friedman é uma figura improvável, no debate político acalorado que vem sendo travado quanto à obesidade.
A obesidade, diz, é um problema. Os gordos são vítimas de humilhação e sofrem riscos de saúde. Mas não ajuda que a extensão do problema da obesidade seja exagerada ou que os obesos levem a culpa por serem gordos. "Antes de classificar a situação como epidemia, as pessoas precisam compreender aquilo que os números fazem e não dizem."


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