São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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Vítima liderava grupo de diálogo israelo-palestino

FREE-LANCE PARA A FOLHA

George Khoury, 20, é um símbolo da elite cristã e islâmica moderada árabe em Israel. Árabe-israelense, ele tinha como um de seus melhores amigos um muçulmano. Estudava economia e relações internacionais na Universidade Hebraica de Jerusalém. Era pianista, liderava grupos de diálogo israelo-palestinos e já havia representado os palestinos em simulação da Assembléia Geral da ONU para jovens ocorrida na China há alguns anos.
Elias Khoury, o pai, é um dos mais proeminentes advogados árabes de Israel. Sua família mora em uma típica casa árabe da parte oriental da cidade, onde o vinho consumido é feito com uvas do próprio pomar.
George, que praticava capoeira, corrida e musculação, costumava correr três vezes por semana na French Hill -uma área comum para o jogging no lado judaico de Jerusalém-, acompanhado da mãe e da irmã. Mas, no dia 19 de março, uma sexta-feira, as duas não foram.
Quando atravessava um ponto isolado dessas colinas, um carro passou perto de George e disparou contra ele. O estudante morreu na hora. Assim como o seu avô 30 anos antes, ironicamente George foi alvo do terrorismo palestino. O grupo Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, ligado ao Fatah, reivindicou o ataque. Os responsáveis já foram presos.
No domingo seguinte (no sábado os jornais não circulam em Israel), a foto de George estava nas primeiras páginas de todos os diários do país como uma vítima israelense da Intifada. No lado palestino, autoridades ligavam para Elias para lamentar a morte do filho dele. E, nas mesmas edições, as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa pediam desculpas, dizendo que o confundiram com um judeu.
"Dizer que o confundiram com um judeu é uma besteira. Se o morto fosse um israelense judeu não mudaria nada. Seria apenas um outro estudante correndo, inocente, sendo vítima desses estúpidos", diz David Khoury, que estava na Escócia quando recebeu a notícia da morte do irmão.
A melhor amiga de George, Gabriela Frey, das Ilhas Virgens e que estudou com ele em Jerusalém, soube da morte do amigo quando viu a foto dele na CNN durante uma entrevista de emprego em Atlanta (EUA), onde vive hoje. De férias em Jerusalém, ela disse que George era um exemplo de convivência entre os dois lados.
Ao contrário dos outros árabes, ele gostava do desafio de conviver com os israelenses e de ver o lado positivo no outro. Esse foi um dos motivos que o levaram a estudar em uma universidade judaica e não ir para o exterior como o seu irmão e muitos dos seus amigos.
O melhor amigo de George, Muhammad Alayan, que mora em Amã (Jordânia) atualmente, resume o sentimento em relação ao atentado: "Os assassinos estão presos, George morreu e a Palestina continua ocupada. Para que adiantou estragar mais uma família?". (GC)


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