São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

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Futuro embaixador dos EUA no Brasil será sabatinado durante jogo com Japão

DE WASHINGTON

Sua assessoria vazou que ele está fazendo um curso-relâmpago de português; agora só falta alguém que lhe dê dicas sobre a paixão dos locais por futebol. O empresário Clifford M. Sobel, indicado pelo presidente George W. Bush para ser o próximo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, teve sua sabatina de confirmação no cargo marcada no Senado norte-americano para a tarde desta quinta-feira. Ou seja, a sessão de perguntas e respostas coincidirá com o jogo do Brasil contra o Japão, o último da primeira fase da Copa do Mundo.
Sobel será sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, presidida por Richard G. Lugar, republicano do Estado de Indiana. Fazem parte do comitê outros 17 senadores, entre eles Barack Obama, de Illinois, atual estrela em ascensão do Partido Democrata e um dos nomes cogitados à pré-candidatura nas eleições presidenciais de 2008.
O empresário foi indicado pelo presidente no final do mês passado, sete meses depois da saída de John Danilovich, que ficou dezessete meses num cargo que enfrenta certa rotatividade na gestão Bush. Sua indicação é uma solução conciliatória entre os que defendiam um funcionário de carreira e os que achavam que a nomeação deveria ser política. É que Sobel foi embaixador dos EUA na Holanda, mas é também um dos grandes arrecadadores e contribuintes das campanhas presidenciais que elegeram o republicano em 2001 e 2005.
A Folha apurou que o Departamento de Estado justificou a demora de certa maneira inusual na indicação dizendo que o presidente buscava alguém de seu "círculo íntimo" de amigos, devido à importância estratégica do Brasil na política externa norte-americana. Respeitando o protocolo, o embaixador do Brasil nos EUA, Roberto Abdenur, só terá sua primeira conversa com Sobel depois da aprovação pelo Senado.

Fogo amigo
Seja como for, o futuro embaixador deve enfrentar fogo amigo na sessão de quinta-feira. Apesar de republicano, Richard G. Lugar, 74, o presidente da comissão que o sabatinará, é conhecido por ser um "maverick", um político com opiniões próprias em relação à cartilha da Casa Branca.
Uma vez pré-candidato a sucessor de Colin Powell como titular do Departamento de Estado, cargo que seria ocupado por Condoleezza Rice, Lugar é crítico da maneira com que os EUA conduzem a reconstrução do Iraque e deu trabalho a John Bolton na audiência que confirmou o linha-dura como o embaixador norte-americano nas Nações Unidas.
Na audiência de quinta, Lugar deve focar suas perguntas no etanol brasileiro como alternativa ao problema de combustível dos EUA, um dos temas queridos do senador, mas não é improvável que questione o papel desempenhado por Sobel na inauguração do Tribunal Penal Internacional em Haia, quando o então embaixador deixou de comparecer à cerimônia -os EUA não reconhecem a legitimidade da entidade.
Outros assuntos a dominar a sabatina serão as relações comerciais Brasil-EUA, que passam por momento delicado por conta das negociações da chamada Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), o papel do país como contraponto ao crescente peso do venezuelano Hugo Chávez no continente e os problemas da região da Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai), considerada pelo Departamento de Estado um "paraíso para terroristas" na América do Sul.
Nascido em 1949, Clifford M. Sobel fez fortuna como CEO de empresas de tecnologia em Nova Jersey, entre elas a Net2Phone, que fornece programa para ligações telefônicas via internet, as chamadas VOIP. Pela Net2Phone, um telefonema entre Nova Jersey, onde Sobel mora, e Brasília, onde passará a viver se for confirmado no Senado norte-americano, custa US$ 0,17, em média, por minuto. (SD)


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