São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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Chávez não irá à cúpula do Mercosul no fim deste mês

É a primeira ausência desde que a Venezuela aderiu ao bloco, em dezembro de 2005; caso RCTV causou tensões

Presidente venezuelano visitará a Rússia e o Irã; parceiros regionais não deram apoio formal ao fim da concessão de emissora

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em meio a incertezas sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, o presidente Hugo Chávez cancelou sua participação na próxima reunião do bloco, marcada para o final deste mês, em Assunção. É a primeira vez que o mandatário venezuelano perderá uma cúpula desde que formalizou a adesão do seu país, em dezembro de 2005.
Chávez trocará a capital paraguaia por Moscou, onde estará no dia 29, data da cúpula. Um dos temas da visita é a compra de cinco a nove submarinos -a Rússia é o principal fornecedor de armas do governo venezuelano. O negócio, segundo o jornal econômico russo "Kommersant", pode chegar a US$ 2 bilhões. De lá, a comitiva segue para o Irã.
O governo venezuelano diz que ausência em Assunção não está relacionada com problemas recentes dentro do bloco e que se trata apenas de uma coincidência de datas entre a cúpula e um convite feito a Chávez pelo presidente russo, Vladimir Putin.
"A Venezuela crê que seja positiva a aliança ao bloco", disse à Folha ontem o deputado chavista Saul Ortega, presidente da Comissão de Política Exterior da Assembléia Nacional. "Agora, há interesses de multinacionais que financiam políticos em diferentes países e que, em geral, atacam essa vontade integracionista."
Desde a adesão da Venezuela, na cúpula de Montevidéu, há um ano e meio, Chávez havia participado dos dois encontros presidenciais seguintes, nos quais defendeu uma "profunda reforma" do Mercosul. No último, realizado em janeiro, no Rio, prometeu "descontaminá-lo do neoliberalismo".
Desde então, a Venezuela sofreu dois reveses dentro do bloco, ambos envolvendo sua decisão de não renovar a concessão do canal oposicionista RCTV, que expirou no final de maio, sob o argumento de que a emissora apoiou a tentativa de golpe contra Chávez, em 2002.
Dias antes do fim das transmissões, a Venezuela tentou, durante reunião de chanceleres do Mercosul em Assunção, uma declaração de apoio à decisão de Chávez, que vem gerando uma série de protestos na Venezuela. Nenhum dos outros quatro países respaldou o pedido de Caracas.
Mas a crise veio depois que Chávez chamou o Congresso brasileiro de "papagaio" de Washington, em resposta a um requerimento do Senado para que o presidente venezuelano revisse o caso da RCTV.
As declarações de Chávez provocaram ameaças dos partidos oposicionistas PSDB e DEM (ex-PFL) de bloquear a entrada da Venezuela no Mercosul na votação do protocolo que permite a adesão desse país como membro pleno do bloco. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que haverá dificuldades para a aprovação.


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