São Paulo, sábado, 20 de junho de 2009

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Mais de 27% dos homens sul-africanos já estupraram

Prática pesa para alto índice de infecção pelo HIV no país

DA REDAÇÃO

Uma sondagem realizada pelo Conselho de Pesquisa Médica (CPM) da África do Sul revelou que 27,6% dos homens do país admitem já ter cometido estupro. A prática é considerada um dos principais motivos para o alto índice de infecção pelo vírus HIV entre os sul-africanos -12% de 47 milhões.
Foram entrevistados na pesquisa do CPM 1.738 homens em áreas rurais e urbanas das Províncias (Estados) do Cabo Ocidental e de KwaZulu-Natal.
A pesquisa aponta que 74% dos sul-africanos que admitem ter cometido estupro o fizeram pela primeira vez antes dos 20 anos de idade -e 10% antes dos dez anos de idade. Cerca de 5% dos entrevistados admitiram já ter violentado outros homens.
O estupro chamado "íntimo", de atuais ou ex-parceiras, foi cometido por 14%. É nesse grupo que, segundo os pesquisadores, foi verificada a maior relação entre a prática do estupro e a infecção por HIV. Já entre o total de homens que dizem ter cometido o crime e o total dos que dizem não tê-lo cometido a diferença não é significativa.
Quase a metade dos homens que já estupraram o fizeram duas ou mais vezes -7,7% estupraram mais de dez mulheres. E 1 em cada 10 deles afirmou tê-lo feito na companhia de "gangues" de estupradores.
"O estupro é um problema que vem das ideias de masculinidade na África do Sul. A posição do homem é superior à da mulher na sociedade e legitima esse tipo de comportamento", disse a diretora do setor de gênero do CPM, Rachel Jewkes.
Para os pesquisadores, a alta incidência entre os mais jovens aponta para o risco de reversão de avanços obtidos nos últimos anos em relação à desigualdade de gênero e para a necessidade de uma abordagem não apenas repressiva em relação ao tema.
"Uma mudança precisa estar ligada à existência de modelos alternativos sobre como ser homem, o que exige melhorias no sistema educacional e maiores oportunidades de emprego para os mais jovens", diz Jewkes.
O perfil dos homens que disseram ter estuprado não aponta, no entanto, relação direta com a pobreza. Segundo o relatório, eles se encontram geralmente em camadas intermediárias de renda e escolaridade.
Estupro e Aids são temas sensíveis na África do Sul. Além da alta incidência de ambos, posições públicas de autoridades como o atual presidente, Jacob Zuma, e o seu antecessor, Thabo Mbeki, têm gerado revolta nos últimos anos entre ativistas de combate à Aids.
Em 2006, Zuma enfrentou uma acusação de estupro e foi inocentado. No processo, o político, que preserva a tradição de poligamia, justificou o sexo sem proteção pelo fato de tomar uma ducha após o ato.

Com agências internacionais



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