São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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Santos tenta ir além da sombra de Álvaro Uribe

Candidato do popular presidente da Colômbia deve virar seu sucessor

Antes mesmo de ser eleito, ex-ministro da Defesa obtém apoio de sigla que faz oposição ao atual mandatário

Luis Robayo/France Presse
O candidato governista Juan Manuel Santos, com 65% nas pesquisas, dança salsa durante um evento eleitoral em Cali

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

Com mais de 30 pontos à frente do adversário segundo as pesquisas de opinião, o candidato governista Juan Manuel Santos deve sagrar-se hoje sucessor de Álvaro Uribe na Colômbia, já imerso nas vantagens e contradições de assumir o legado do presidente mais popular da história recente do país.
Os levantamentos projetam que o ex-ministro da Defesa de Uribe deve alcançar 65% dos votos, contra entre 27% e 29% de Antanas Mockus (Partido Verde), que viu seu movimento centrista pela ética desinflar e estancar após a votação do primeiro turno, em 30 de maio.
De lá para cá, foram três semanas de intensa negociação política e pré-montagem do governo Santos.
O franco favorito, que ficou a menos de quatro pontos da Presidência no primeiro turno (46,5%), propôs um "acordo nacional" e desde então só ganhou adesões dos demais partidos da atual coalizão uribista, assim como de parte expressiva do tradicional Partido Liberal, de oposição moderada a Uribe.
A convergência do sistema político em torno de Santos, 58, ex-ministro da Defesa, desenhou os primeiros desafios do novo governo: como repartir a torta de cargos da nova gestão e como acomodar o eloquente Uribe fora do palácio presidencial.
Ancorado em mais de 70% de popularidade, o presidente já mandou seu recado: disse publicamente que os comandantes da megacoalizão de Santos devem ser o seu Partido de La U, pelo qual o ex-ministro é candidato, e o Partido Conservador, sobre o qual tem bastante influência.
Foi uma resposta à declaração de apoio a Santos do ex-presidente liberal César Gaviria (1990-1994). O ex-mandatário instou o provável futuro presidente a corrigir os erros do atual governo e foi chamado de "covarde" e "oportunista" por Uribe.
"É preciso lembrar que Santos e sua família têm suas raízes no Partido Liberal e que ele tem seu projeto político próprio", diz o ex-ministro de Gaviria Rudolf Hommes.
A primeira queda de braço já está em curso: quem ficará com a presidência da Câmara dos Deputados. Os uribistas querem barrar o filho de Gaviria, Simón Gaviria, que lidera a bancada liberal, segunda maior da Casa.
Como lembra relatório de Alberto Ramos, do Goldman Sachs, mesmo o popular Uribe teve de negociar caso a caso com o pulverizado Congresso, e não se prevê que seja diferente agora.

REELEIÇÃO E JUSTIÇA
Ante a atração poderosa de Santos, o senador Gustavo Petro, ex-candidato do esquerdista Polo Democrático, mantém-se como a oposição resistente. "As circunstâncias são difíceis, mas nesses oito anos nos mantivemos e seguiremos assim", disse ele, que conseguiu quase 10% dos votos no primeiro turno.
Petro aposta que uma fissura entre Santos e Uribe crescerá sem muita pressa, mas sem pausa, porque um tema central os dividirá: a reeleição. "Vão se chocar pela ambição."
O senador, acompanhado por um punhado de analistas, diz que o atual presidente não abrirá mão de concorrer em 2014. Para tanto, é preciso ressuscitar o referendo para permitir um terceiro mandato, hoje vetado.
Antes disso, porém, Santos terá de lidar com os escândalos que herdará do atual governo. Está em pleno curso a investigação sobre os grampos ilegais do DAS, a agência de inteligência subordinada à Presidência, que abarcou até juízes da Corte Suprema.


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