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Fosso entre sul e norte põe Bélgica em perigo
Vitória de sigla separatista flamenga acirra racha cultural de país europeu
População de região de dialeto holandês, motor econômico do país, se ressente da parcela francófona dos belgas
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
Na principal livraria de
Vilvoorde, subúrbio pacato
na periferia de Bruxelas, há
uma variada sessão dedicada a lançamentos em inglês.
Mas em toda a ampla loja,
dominada por títulos em flamengo (dialeto do holandês), é impossível encontrar
qualquer livro em francês.
"É a política da loja", diz
uma vendedora, expressando com um sorriso constrangido a crescente rejeição que
a maioria flamenga do país
sente em relação à parcela
francófona da população.
Situada a menos de 10 km
da capital, Vilvoorde está fisicamente na fronteira linguística entre as duas principais regiões da Bélgica, Flandres (norte) e Valônia (sul).
A rivalidade entre as comunidades reacendeu com a
vitória de um partido separatista flamengo nas eleições
parlamentares do último domingo, que mergulhou o país
numa nova era de incerteza.
O triunfo da Nova Aliança
Flamenga (N-VA), liderada
pelo carismático Bart de Wever, despertou o antigo fantasma de separação entre
Flandres e Valônia.
Ventos separatistas não
são novos na Bélgica. Mas a
vitória de De Wever, que defende a "evolução" do país
rumo ao desaparecimento,
indica que eles se tornaram
mais intensos.
"Estamos discutindo o fim
da Bélgica há ao menos 30
anos, e sempre houve partidos separatistas", diz o cientista político Régis Dandoy.
"A novidade é que desta vez
eles se tornaram a maior força política do país."
RESSENTIMENTO
O principal combustível
da vitória do N-VA é o ressentimento crescente dos habitantes de Flandres. A região
tem 60% da população belga
e move a economia do país.
Enquanto a maioria dos
flamengos fala francês, pouquíssimos francófonos se interessam em aprender o idioma do norte. Para complicar
ainda mais o quadro, a capital Bruxelas é uma ilha francófona em Flandres.
A capital é apontada como
principal obstáculo ao plano
de separação entre as duas
regiões. A resposta para o impasse seria dar mais poderes
às regiões, sem enfraquecer o
governo central.
Mesmo que a política se
acomode, a guerra cultural
deve continuar.
Em Vilvoorde, a ausência
de obras em francês nas livrarias é apenas um dos sinais do contra-ataque flamengo. Letreiros das lojas e
cardápios dos restaurantes
estão só no dialeto holandês.
Em algumas cidades de
Flandres, crianças são proibidas de falar francês nas escolas, e o idioma foi banido
de prédios públicos.
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