São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2011

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ANÁLISE

Desafio de sucessor de Hu é definir nova identidade política

Hoje em dia, as discussões não são sobre quem ocupa o poder. Elas são sobre quem vai comandar quais políticas

RUSSELL MOSES ESPECIAL
PARA A FOLHA

O ano que vem marcará o término do período de Hu Jintao na liderança do Partido Comunista chinês.
Embora Hu vá conservar seu cargo de presidente da China até 2013 e seu papel de chefe das Forças Armadas até renunciar, o próximo ano mostra o fim de uma era política na China. A agenda e as realizações de Hu Jintao são muitas, mas diferem das expectativas de muitos analistas ocidentais.
Hu e seus aliados chegaram ao topo porque eram conservadores, evitavam o diálogo com qualquer pessoa que pensasse que a sociedade chinesa deveria ser reformada de baixo para cima. Ele ascendeu porque era alguém que apertaria o controle do Estado sobre a sociedade, e não o afrouxaria.
E Hu contou com muito apoio para isso. A visão dos poderosos no partido era que, embora o crescimento econômico fosse bom, várias Províncias eram independentes demais e desenvolviam-se com pouca atenção ao que Pequim queria; que os empreendedores ameaçavam solapar o partido, e que o socialismo começava a se enfraquecer. O que queriam era alguém que pusesse fim aos excessos e gastos exagerados da reforma econômica e que impedisse que a reforma política ganhasse força.
Em relação à política externa, a abordagem de Hu Jintao era menos clara. Ele herdou uma China em ascensão, mas ninguém na burocracia tinha uma visão clara sobre o que Pequim faria. Diferentemente de sua política doméstica, a diplomacia da China visava evitar problemas, mais do que propor soluções. Os assessores de Hu queriam ampliar o alcance comercial das empresas chinesas, impedir Taiwan de tornar-se centro de uma disputa e tentar deslocar o foco da política externa de Pequim dos Estados Unidos para a Europa.
Hu e seus colegas têm se saído bem. Seu legado de um modelo desenvolvimentista mais equitativo tem tido problemas, mas há poucas chances de qualquer setor contestar os esforços do governo para combater a pobreza, construir uma nova zona rural, buscar urbanizar o país ou fazê-lo avançar nas pesquisas tecnológicas. A política externa é um campo um pouco mais incerto, na medida em que não existe uma estratégia ou um slogan dominante vinculados à diplomacia de Pequim. O problema de Taiwan vem sendo protelado com sucesso. Mas, à medida que cresce a influência internacional da China, cresce também seu potencial de provocar mal-entendidos e tentar exercer controle fora de suas fronteiras.
O que, então, podemos esperar da sucessão?
Com a morte de Mao, a ideia era que a liderança chinesa fosse tornar-se mais coletiva. Coalizões de dirigentes guiariam o país. Mas isso não impediu as disputas, nem fez com que fosse mais fácil chegar ao consenso.
De fato, o esforço para limitar o poder individual no topo do sistema político vem significando que boa parte das medidas políticas é criada nos municípios e Províncias, não em Pequim.
Quem vai suceder a Hu como líder é uma questão crucial. Mas ainda mais importante é o que a nova coalizão representará, especialmente na medida em que a política chinesa vem mudando.
Hoje em dia as discussões não são sobre quem ocupa o poder, mas quem vai comandar quais políticas. O controle monetário é muito mais importante que a manufatura. Uma reestruturação administrativa substancial vem ocorrendo. O partido vem tentando tornar-se mais responsável, especialmente na era da internet e das mídias sociais.
Ficam sem resposta por parte de qualquer um dos pretendentes ao trono da China quais são seus planos de reforma política. Essa é uma questão por muito tempo adiada, e por mais que integrantes da próxima liderança desejem que ela seja colocada de escanteio, a China é um país diferente desde a última sucessão. A tranquilidade daquela transição será uma memória distante, a não ser que alguém apareça para mostrar o tipo de política diferente que a China vai necessitar. A questão não será que Hu se foi ou quem vai liderar. A questão será o tipo de novo país que a China realmente planeja ser, politicamente.

RUSSELL LEIGH MOSES é americano, vive e leciona em Pequim e escreve sobre política chinesa para o "Wall Street Journal"


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