São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel mata 63 e promete usar mais força

Abrigo do Hizbollah é bombardeado; Exército inicia incursões terrestres e orienta 300 mil libaneses a deixarem região fronteiriça

Mortos superam 300 no Líbano e 30 em Israel; Beirute pede intervenção internacional, e Israel prevê ação por mais 10 ou 14 dias


Issam Kobeisi/Reuters
Civis libaneses observam ruínas da sede do Hizbollah em Beirute que foi alvo de ação israelense


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM HAIFA

A ofensiva israelense no Líbano teve ontem seu dia mais violento, em que ao menos 63 pessoas morreram, e aviões despejaram 23 toneladas de explosivos ontem sobre um abrigo subterrâneo em Beirute que, crêem militares de Israel, se esconde o líder do grupo terrorista Hizbollah, Hassan Nasrallah, e outros dirigentes.
Um dos objetivos de Israel é eliminar a liderança do Hizbollah. O grupo, no entanto, negou em comunicado que o local no bairro de Bourj al Barajneh, (sul de Beirute) fosse um esconderijo e que algum dos líderes tenha sido morto.
A última mensagem de Nasrallah, transmitida pelo canal de TV do grupo, Al Manah, foi na sexta, quando prometeu "guerra total" aos israelenses após seu apartamento em Beirute ser destruído por bombas.
Israel também iniciou ontem oficialmente incursões terrestres pelo sul do Líbano e advertiu os moradores, por mensagens de rádio e panfletos, a deixarem a região, em sinal de que pode estar preparando operações terrestres ou bombardeios ainda mais pesados a bases do Hizbollah. O país já convocou reservistas e concentrou tanques e blindados na fronteira.
A mensagem foi dirigida a cerca de 300 mil pessoas em uma área de 20 km, da fronteira até o rio Litani. Em nove dias, segundo Beirute, os bombardeios israelenses já mataram mais de 300 pessoas no país -inclusive sete brasileiros (leia texto na página A18).
Já os israelenses mortos em ataques do Hizbollah a Israel chegam a 31, sendo 15 civis e 16 soldados. Duas crianças morreram ontem em Nazaré (leia texto na próxima página).
Cerca de 500 mil pessoas foram desalojadas no Líbano-ou um sexto da população. O premiê Fouad Siniora fez um apelo por cessar-fogo, pediu intervenção internacional para acabar com os ataques e levar ajuda de emergência e disse que vai pedir indenização a Israel por destruir a infra-estrutura, como pontes e aeroportos.

Batalha terrestres

Ontem, dois soldados israelenses morreram, e nove foram feridos, em combate com membros do Hizbollah em território libanês. Foi a batalha terrestre mais intensa desde que o conflito começou, no último dia 12, após o seqüestro de dois soldados israelenses pelo grupo.
Uma unidade de elite do Exército de Israel cruzou a fronteira em busca de bases do Hizbollah. Guerrilheiros que estavam escondidos em uma rede de túneis abriram fogo.
O Exército admite ter planos de uma ofensiva terrestre e diz que já foram realizadas outras ações em território libanês na semana, mas negou intenção imediata de ampliar o envio de tropas e blindados. "São ataques restritos e localizados", disse um porta-voz do Exército.
Membros do governo do premiê Ehud Olmert vêm repetindo que uma operação terrestre pode provocar muitos mortos e que o Hizbollah instalou minas terrestres e armou-se com mísseis antitanque e antiaéreos. Mas membros do gabinete e militares defendem a ação como a única forma de neutralizar o arsenal do grupo.
Os ataques israelenses por ar e com navios de guerra continuaram. Caças bombardearam um bairro cristão de Beirute e aldeias no sul. Dez pessoas, inclusive crianças, morreram em um ataque em Srifa. Outros 34 civis morreram em bombardeios em Balbek e Nabatyia.
Segundo o Exército, foram atacados bancos ligados ao Hizbollah em Beirute e Nabatiya e um lançador de mísseis de longa distância do tipo Zilzal.
Dois caminhões foram atingidos no bairro cristão de Asharfiya, na capital. Os caminhões levavam guindastes, que podem ter sido confundidos com lançadores de mísseis. Israel diz que seguirá atacando caminhões, picapes e vans que possam ser usados no transporte de foguetes e mísseis.

Ataques em Israel

O Hizbollah também manteve intensos ataques no norte de Israel. Foram pelo menos 115 foguetes Katyusha, muitos recheados com bolas de ferro para ampliar o raio da destruição.
Além de Haifa, foram atingidas 15 cidades da Galiléia e da costa, e cerca de 1 milhão de pessoas passou a maior parte do dia em abrigos subterrâneos, sob o som das sirenes acionadas cerca de 30 segundos antes da queda do foguete.
A chanceler de Israel, Tzipi Livni, recebeu em Jerusalém o representante da política externa da União Européia, Javier Solana. Ela conduz oficialmente os debates, mas negociações mais profundas cabem a assessores próximos de Olmert, em contato com os EUA.
Depois do encontro com Solana, Livni rejeitou críticas de que Israel use desproporcionalmente a força: "A proporção não é em relação a fatos, mas à ameaça do Hizbollah, não só a Israel, mas a toda a região".
O comando militar de Israel estima que levará ainda entre 10 e 14 dias para reduzir ao máximo a capacidade do Hizbollah. "Precisamos de paciência. Outras operações duraram mais tempo", afirmou o chefe do Estado-Maior, Dan Halutz.


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