São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Tensão marca passagem para o lado sírio

Espera para sair do Líbano no posto fronteiriço pode chegar a 6 horas até obtenção de visto das autoridades migratórias

Já em Beirute, atividade comercial se restringe à venda de alimentos e de celulares e às operações de conversão de moedas


KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE

"Alahu Akbar, Alahu Akbar" ("Deus é grande"), repetia na madrugada de ontem um taxista, enquanto transportava um sírio, um jordaniano e um libanês que se dirigiam a esta capital a partir da cidade de Hims, no norte da Síria, e discutiam enfaticamente sobre a nova guerra. De repente, a fúria do motorista se transformou em lágrimas. Ele é testemunha de que, depois do sétimo dia de ataques israelenses, os libaneses tentam cruzar a fronteira com a Síria buscando refúgio da crescente ofensiva militar.
Desde as primeiras horas da manhã, o posto fronteiriço de imigração de Al Areeda, no norte do país, se converteu em um dos pontos de passagem obrigatórios para a retirada. Dezenas de veículos de distintas marcas e modelos cruzaram os postos de controle -angustiadas, pessoas em fuga lutavam com as autoridades migratórias sírias pelo visto.
Um combalido Renault 11 com uma numerosa família competia com uma luxuosa caminhonete Chevrolet Cruiser para tentar o cruzamento desejado. Enquanto a angústia reinava nesses homens e mulheres, centenas de estrangeiros, sem menos preocupação, abandonavam o país, mas sempre amparados por fortes operativos de segurança implementados por seus governos.
Nas seis horas de espera para tentar cruzar a linha síria, uma dezena de diplomatas alemães e mais de 450 cidadãos cruzaram a fronteira por terra em direção a Damasco, escoltados por forças especiais desse país. O capitão Lerzner foi o encarregado de tramitar os passes para seus compatriotas. Uma hora mais tarde, um comboio composto por cidadãos italianos e belgas que somavam uns 15 veículos chegaram às estradas vindos de Beirute -e com proteção motorizada-, escapando do perigo de uma ofensiva maciça depois que um caminhão foi atacado por quatro mísseis israelenses em uma estrada próxima à cidade.
Ao mesmo tempo, uma ambulância do Crescente Vermelho jordaniano tentava cruzar a fronteira em direção ao Líbano com o objetivo de dar ajuda aos feridos, e os funcionários da ONU no local manifestaram sua preocupação com a situação de mais de 30 mil refugiados internos.
Enquanto o nervosismo crescia no lado sírio, no posto de controle libanês a calma era incomum para um país atacado por uma das potências militares mais poderosas do mundo. Funcionários militares amáveis recebiam com cordialidade os taxistas locais que haviam trazido seus compatriotas do território em perigo -e a única estrangeira em horas, proveniente da América Latina- que as autoridades sírias haviam permitido passar.
A rota costeira do Mediterrâneo, que se estende desde a fronteira até Trípoli, é adjacente às paupérrimas casas dos ciganos instalados à beira-mar e também faz divisa com as precárias casas dos palestinos refugiados. Em Trípoli podem ser vistas as instalações do Exército libanês destruídas por ataque aéreo sofrido dois dias antes, visão que introduz um mundo inesperado quando o céu se transforma em inferno.
Ao chegar à bela e imponente capital libanesa, a expectativa se centra nos lugares que podem ser atacados. Na estação de ônibus e na porta dos hotéis de luxo se concentram os cidadãos, enquanto a atividade comercial da cidade ficou concentrada na troca de moeda, na venda maciça de telefones celulares e de alimentos.
Os libaneses concordam que estão todos tristes quando os membros e simpatizantes do Hizbollah chamam a uma guerra total. Os cristãos libaneses culpam o chamado Partido de Deus por arrastá-los a um conflito que pode destruir novamente a capital e se estender em toda a região.

Crimes de guerra
Em entrevista em Genebra, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Louise Arbour, afirmou que as "atrocidades" contra civis ensejam responsabilidade criminal e podem levar a julgamentos. "As vítimas e sua previsibilidade poderiam implicar responsabilidade criminal dos envolvidos, em particular daqueles em posição de comando."
A comissária disse ainda que a lei é "clara" sobre a proteção aos civis e que essa obrigação consta da lei criminal internacional, "que define os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade".


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