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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Tensão marca passagem para o lado sírio
Espera para sair do Líbano no posto fronteiriço pode chegar a 6 horas até obtenção de visto das autoridades migratórias
Já em Beirute, atividade
comercial se restringe à
venda de alimentos e de
celulares e às operações
de conversão de moedas
KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
"Alahu Akbar, Alahu Akbar"
("Deus é grande"), repetia na
madrugada de ontem um taxista, enquanto transportava um
sírio, um jordaniano e um libanês que se dirigiam a esta capital a partir da cidade de Hims,
no norte da Síria, e discutiam
enfaticamente sobre a nova
guerra. De repente, a fúria do
motorista se transformou em
lágrimas. Ele é testemunha de
que, depois do sétimo dia de
ataques israelenses, os libaneses tentam cruzar a fronteira
com a Síria buscando refúgio da
crescente ofensiva militar.
Desde as primeiras horas da
manhã, o posto fronteiriço de
imigração de Al Areeda, no norte do país, se converteu em um
dos pontos de passagem obrigatórios para a retirada. Dezenas de veículos de distintas
marcas e modelos cruzaram os
postos de controle -angustiadas, pessoas em fuga lutavam
com as autoridades migratórias
sírias pelo visto.
Um combalido Renault 11
com uma numerosa família
competia com uma luxuosa caminhonete Chevrolet Cruiser
para tentar o cruzamento desejado. Enquanto a angústia reinava nesses homens e mulheres, centenas de estrangeiros,
sem menos preocupação, abandonavam o país, mas sempre
amparados por fortes operativos de segurança implementados por seus governos.
Nas seis horas de espera para
tentar cruzar a linha síria, uma
dezena de diplomatas alemães
e mais de 450 cidadãos cruzaram a fronteira por terra em direção a Damasco, escoltados
por forças especiais desse país.
O capitão Lerzner foi o encarregado de tramitar os passes
para seus compatriotas. Uma
hora mais tarde, um comboio
composto por cidadãos italianos e belgas que somavam uns
15 veículos chegaram às estradas vindos de Beirute -e com
proteção motorizada-, escapando do perigo de uma ofensiva maciça depois que um caminhão foi atacado por quatro
mísseis israelenses em uma estrada próxima à cidade.
Ao mesmo tempo, uma ambulância do Crescente Vermelho jordaniano tentava cruzar a
fronteira em direção ao Líbano
com o objetivo de dar ajuda aos
feridos, e os funcionários da
ONU no local manifestaram
sua preocupação com a situação de mais de 30 mil refugiados internos.
Enquanto o nervosismo
crescia no lado sírio, no posto
de controle libanês a calma era
incomum para um país atacado
por uma das potências militares mais poderosas do mundo.
Funcionários militares amáveis recebiam com cordialidade
os taxistas locais que haviam
trazido seus compatriotas do
território em perigo -e a única
estrangeira em horas, proveniente da América Latina- que
as autoridades sírias haviam
permitido passar.
A rota costeira do Mediterrâneo, que se estende desde a
fronteira até Trípoli, é adjacente às paupérrimas casas dos ciganos instalados à beira-mar e
também faz divisa com as precárias casas dos palestinos refugiados. Em Trípoli podem ser
vistas as instalações do Exército libanês destruídas por ataque aéreo sofrido dois dias antes, visão que introduz um
mundo inesperado quando o
céu se transforma em inferno.
Ao chegar à bela e imponente
capital libanesa, a expectativa
se centra nos lugares que podem ser atacados. Na estação
de ônibus e na porta dos hotéis
de luxo se concentram os cidadãos, enquanto a atividade comercial da cidade ficou concentrada na troca de moeda, na
venda maciça de telefones celulares e de alimentos.
Os libaneses concordam que
estão todos tristes quando os
membros e simpatizantes do
Hizbollah chamam a uma guerra total. Os cristãos libaneses
culpam o chamado Partido de
Deus por arrastá-los a um conflito que pode destruir novamente a capital e se estender
em toda a região.
Crimes de guerra
Em entrevista em Genebra, a
alta comissária da ONU para os
Direitos Humanos, Louise Arbour, afirmou que as "atrocidades" contra civis ensejam responsabilidade criminal e podem levar a julgamentos. "As
vítimas e sua previsibilidade
poderiam implicar responsabilidade criminal dos envolvidos,
em particular daqueles em posição de comando."
A comissária disse ainda que
a lei é "clara" sobre a proteção
aos civis e que essa obrigação
consta da lei criminal internacional, "que define os crimes de
guerra e os crimes contra a humanidade".
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