São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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Ministra argentina da Defesa é indiciada

Governo Kirchner, que já perdeu titular de Economia, vê Garré depor sobre contrabando de material bélico aos EUA

Caso estoura no mesmo dia em que Cristina Kirchner, senadora e primeira-dama, lança sua candidatura para as eleições presidenciais

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

O dia do lançamento da candidatura de Cristina Fernández de Kirchner à Presidência da Argentina começou mal para o governo de seu marido, Néstor: mais uma ministra de Estado está sob investigação. A titular da Defesa, Nilda Garré, foi chamada a depor numa ação de contrabando de material bélico aos EUA. Segundo o jornal "La Nación", Garré foi indiciada como suspeita; a ministra diz que só foi chamada a testemunhar.
O juiz Guillermo Tiscornia investiga a apreensão de 6.739 kg de peças de fuzis que seriam exportadas pela estatal Fabricações Militares à JLD/PTR, fábrica de Connecticut (EUA) pertencente a um argentino. O material estava declarado por apenas US$ 2.644,45. Para Tiscornia, houve subfaturamento e contrabando agravado -por se tratar de material bélico.
Garré foi indiciada, diz o "La Nación", porque a autorização final para o embarque foi concedida pelo Ministério da Defesa. "Não fui indiciada. Estou sendo convocada pelo juiz para entregar elementos que sirvam para esclarecer os fatos", afirmou ela ontem.
A ministra atribuiu sua convocação a uma "sobreatuação" do juiz. "De aqui a outubro, vai haver muitas "sobreatuações". Estamos em campanha."
Garré disse não ter conhecimento técnico de armamento e que, por isso, não percebeu o subfaturamento. "É a Aduana que deve controlar se há subfaturamento. A Aduana não fez objeções ao preço."
A Aduana deu uma dura resposta. "Em todo o mundo, os preços das exportações são pactuados entre exportador e importador. Ocorre que no embarque que se ia realizar [...], o subfaturamento foi tão grosseiro que não foi necessário recorrer a um estudo de valor para tomar a decisão de bloquear a exportação", afirmou em nota.
O caso Garré vem à tona na mesma semana em que Kirchner se viu forçado a se desfazer da ministra da Economia, Felisa Miceli. Investigada porque foi achada, no banheiro de seu gabinete, uma bolsa com o equivalente a R$ 120 mil em dólares e pesos, Miceli renunciou depois que a Procuradoria pediu que ela fosse chamada a depor como suspeita de "encobrimento de uma operação financeira de origem duvidosa".

Contra-ataque
Desta vez, porém, o governo contra-atacou. A Comissão de Acusação do Conselho da Magistratura, controlada por kirchneristas, agilizou o trâmite de uma denúncia feita pela empresa Codere contra o juiz Tiscornia, que chamou Nilda Garré a depor.
A Codere acusa Tiscornia de cobrar propina; ontem a comissão aceitou a denúncia e recomendou que Tiscornia sofra juízo político, com o que pode levá-lo a perder o cargo.


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