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ANÁLISE
Fidelidade aos textos sagrados separa vidas no islã e Ocidente
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
"Se se encontrar um homem dormindo com uma
mulher casada, todos os dois
deverão morrer: o homem
que dormiu com a mulher, e
esta da mesma forma. Assim,
tirarás o mal do meio de ti."
Essa passagem não foi tirada
do Alcorão, mas da Bíblia
(Deuteronômio 22:22).
Os muçulmanos não inventaram o apedrejamento
de adúlteros. O Alcorão determina para aquele apanhado cometendo o delito uma
pena de cem chicotadas. É o
"Hadith" -a narrativa dos
atos do profeta que, com o Alcorão, forma a base da lei islâmica-, que autoriza, após
as chibatadas, a dilapidação.
Detalhes legais à parte, a
diferença entre islã e Ocidente hoje é que, enquanto este
assistiu a uma progressiva
laicização das instituições e
da vida, o primeiro permanece fiel a suas origens e seus
textos religiosos.
Talvez seja excessivo dizer
que o Ocidente se tornou irreligioso, mas é certo que ficou
pouco zeloso nessa matéria.
Isso fez com que as fogueiras inquisitoriais não voltassem a acender-se e permitiu
que a ciência avançasse por
terrenos antes vedados. É
dessa revolução iluminista
que o islã se ressente. Lá mais
que cá, Estado e religião se
confundem e tomam-se ao
pé da letra os textos que mandam assassinar apóstatas.
Para o filósofo Sam Harris,
é esse excesso de literalidade
que está por trás dos homens-bomba.
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