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Irã tem sua segunda chance de expansão
Behrouz Mehri - 24.04.2006/ France Presse
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Ahmadinejad, presidente do Irã, dá entrevista em Teerã; ataques a Israel rendem popularidade |
Especialista diz que políticas erráticas dos EUA favoreceram ambição de Teerã de aumentar a sua influência no Oriente Médio
Queda de inimigos como Saddam Hussein e o regime do Taleban e simpatia pelo também xiita Hizbollah aumentam o poder do Irã
GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE NOVA YORK
O Irã teve duas oportunidades históricas para expandir a
sua influência pelo Oriente
Médio, onde os iranianos, que
são persas e xiitas, sempre foram minoritários em meio aos
árabes majoritariamente sunitas. A diferença é que, desta vez,
o país busca esse objetivo com
uma força maior.
A primeira foi no fim dos
anos 60 e começo dos 70, quando o país era governado pelo xá
Reza Pahlevi, um dos líderes
mais pró-Ocidente do mundo
islâmico até hoje. A segunda
ocorre agora, graças às erráticas políticas americanas na região, afirmou à Folha o professor Trita Parsi, autor de um estudo publicado no "The Middle
East Journal" -mais prestigiosa publicação acadêmica sobre
o Oriente Médio- intitulado
"Israel and the Origins of Iran's
Arab Option" (Israel e as origens da opção árabe do Irã).
Para Parsi, o Irã sempre teve
ambições de expandir sua influência pelo Oriente Médio. O
país não teve a opção da Turquia, que decidiu se voltar para
a Europa, integrando-se à
Otan. Com a forte presença
russa na Ásia Central, os iranianos tampouco puderam
exercer hegemonia em países
islâmicos da ex-URSS, com os
quais possuem laços culturais
mais fortes que com os árabes.
Barreira
Afora essas duas oportunidades, os iranianos sempre tiveram um líder árabe para impedi-los de se expandir. Até 1967,
a barreira era personificada pelo líder egípcio Gamal Abdel
Nasser. Mas esta foi eliminada
por Israel na massacrante vitória na Guerra dos Seis Dias, que
enfraqueceu o pan-arabismo. A
segunda era Saddam Hussein,
derrubado pelos EUA em 2003.
Dois presentes para o Irã,
que fracassou nos anos 70 na
sua busca de hegemonia na região, segundo Parsi. O único rival é Israel, que tem armas atômicas. Com o seu programa nuclear, o Irã quer se igualar aos
israelenses e se sobrepor aos
árabes militarmente.
"Os EUA derrubaram Saddam no Iraque e o Taleban no
Afeganistão, ambos inimigos
declarados de Teerã. Hoje o Irã
olha para as suas fronteiras e
não vê as tropas americanas como uma ameaça, mas sim como
um alvo fácil em regimes amigos em Bagdá e em Cabul", disse Parsi à Folha.
Sem o Iraque e com a sua
fronteira afegã ao leste mais
calma, resta ao líder iraniano
Mahmoud Ahmadinejad lançar-se para o oeste contra Israel. O regime de Teerã sabe
que o que mais o aproxima dos
árabes é o caráter islâmico do
país, ainda que xiita. Mas, no
Oriente Médio de hoje, ser xiita
não é tão ruim como ser judeu.
Por isso, os ataques a Israel do
presidente iraniano.
E o Irã tem mais uma cartada: Israel em 1967 era visto como incontestável vitorioso;
agora, após o embate com o
Hizbollah, aliado de Teerã, os
israelenses mostraram uma face vulnerável. E os xiitas passaram a ser admirados por muitos sunitas após o Hizbollah
guerrear contra Israel.
Para Parsi, um dos poucos
acadêmicos que tiveram liberdade para fazer pesquisas tanto
em Israel como no Irã, os objetivos de Teerã são geopolíticos.
O islamismo é apenas uma arma para agregar apoio entre as
populações árabes.
O xá tentou exercer a influência iraniana de uma maneira mais sutil, mantendo as
suas relações informais com Israel e especiais com os EUA.
Sionismo e racismo
Porém, traindo americanos e
israelenses, o xá já tentava ganhar o mundo árabe, de acordo
com Parsi. O Irã foi signatário
de resolução da Assembléia Geral da ONU em 1975 que comparava o sionismo ao racismo.
Reza Pahlevi acabou derrubado
pela Revolução Islâmica.
Um dos poucos ideais do antigo regime mantidos pelos aiatolás foi o de expandir a influência do Irã no mundo árabe. Porém, os iranianos tiveram
que enfrentar Saddam Hussein
por toda a década de 80.
Nos anos 90, segundo Parsi,
os EUA perderam a oportunidade de dialogar com o Irã em
um patamar superior quando o
regime de Teerã ainda sofria a
ameaça do Iraque e era governado pelo moderado Mohammad Khatami. Além disso, na
época, os americanos não eram
vistos como tão pró-Israel no
mundo islâmico.
Porém, os EUA desistiram
após enfrentar os primeiros
obstáculos em Teerã, uma vez
que o poder no Irã não é totalmente controlado pelo presidente, que enfrentava resistência dos conservadores religiosos, contrários a dialogar com
os americanos. Os EUA deveriam ter insistido. Era uma
grande oportunidade".
Para ele, os EUA precisam
balancear a sua política no
Oriente Médio, o que poderia
fortalecer os países árabes moderados, que serviriam de barreira a Ahmadinejad.
Mas, acima de tudo, os americanos deveriam negociar com
Teerã. "O Irã, como a Turquia, é
um país antigo, diferentemente
dos Estados árabes. O Irã tem
experiência em diplomacia. O
próprio Ahmedinejad enviou
uma carta a Bush tentando dialogar, mas os EUA ignoraram.
Isso apenas fortaleceu ainda
mais o presidente do Irã."
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