São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Próximo Texto | Índice

Dez franceses morrem em emboscada no Afeganistão

Seis homens-bomba se explodem em tentativa de invasão de base americana

Sarkozy viajou a Cabul; ataques ilustram a piora do quadro de segurança no país no momento em que os EUA pedem maior apoio europeu


DA REDAÇÃO

Dez militares franceses foram mortos ontem no Afeganistão durante emboscada seguida de pesados confrontos com o grupo radical islâmico Taleban. O incidente, em que 21 outros franceses foram feridos, ocorreu durante patrulha nas montanhas do distrito de Surobi, 60 km a sudeste de Cabul, e marca a piora da situação de segurança no país asiático, onde os EUA tentam obter maior apoio militar europeu.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que, apesar das mortes, permanecia "intata" sua determinação de prosseguir na luta contra o terrorismo. Afirmou ainda que, mesmo "duramente atingido", seu país reconhece que "a causa é justa, e que é uma honra defendê-la".
Sarkozy embarcou ontem à noite para o Afeganistão, onde deverá reiterar seu apoio ao contingente de 3.000 homens que mantém naquele país, onde militares de outros 30 países da Otan (aliança militar ocidental) procuram evitar o retorno ao poder do Taleban.
As milícias do grupo islâmico -deposto do governo no fim de 2001 por forças internacionais porque abrigava bases da Al Qaeda- vêm se fortalecendo nos últimos meses.
A França, depois do recente envio de 700 novos combatentes ao Afeganistão, possui o quarto maior contingente naquele país, depois do americano, do britânico e do alemão.
Porta-voz militar afegão disse que 23 insurgentes foram mortos no confronto com os franceses. O distrito de Surobi é um dos mais ativos no mapa da insurgência, que tem provocado confrontos em número inédito nos últimos sete anos.
Segundo o comandante do contingente francês, general Jean-Louis Georgelin, as mortes ocorreram no início da missão de patrulha, que escalava uma passagem montanhosa.

Derrocada da segurança
Já foram mortos neste ano 183 militares estrangeiros, entre eles 99 americanos. É possível que se superem os 232 registrados em 2007, até agora o ano de mais baixas para a Otan.
A emboscada contra os pára-quedistas e soldados da Legião Estrangeira -que são na França tropas de elite- foi o incidente com maior número de mortos desde que, em junho de 2005, 19 americanos morreram na queda de um helicóptero, na Província de Kunar, perto da fronteira oeste do Afeganistão.
Já a França sofreu sua maior perda militar desde que, em 1983, no Líbano, um homem-bomba matou 58 soldados. Foi também o combate mais letal desde a Guerra da Argélia, que terminou em 1962.
O presidente americano, George W. Bush, com 14 mil militares no Afeganistão -o maior dos contingentes- divulgou comunicado com condolências aos que "se sacrificaram em nome do empenho da França para que os afegãos tenham mais segurança".
Com a deterioração do quadro de segurança no Afeganistão e com suas forças de Defesa no limite ao lutarem simultaneamente duas guerras, ali e no Iraque, os EUA têm tentado angariar maior apoio em campo de seus aliados europeus.
A pressão americana gerou tensão dentro da Otan no início deste ano, quando o secretário de Defesa, Robert Gates, chegou a dizer que a aliança militar acabaria caso os europeus não cooperassem mais.
Desde então, só Paris atendeu ao chamado. Há também discussão sobre o reposicionamento das tropas -para os EUA, os contingentes europeus estão em regiões relativamente mais estáveis do país.
As mortes de ontem relançaram na França o debate sobre a presença militar no Afeganistão. O Partido Comunista disse que os soldados franceses deveriam ser retirados, enquanto Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional (extrema-direita), afirmou que militares da França não poderiam se deixar matar em nome dos interesses dos EUA. Já o Partido Socialista, mais moderado, criticou o que vê como falta de transparência na estratégia ocidental.
Também ontem, em Khost, na fronteira com o Paquistão, insurgentes tentaram penetrar em uma base militar dos EUA lançando mão de seis homens-bomba. Três soldados americanos ficaram feridos.

Com agências internacionais



Próximo Texto: Disputa divide governo após saída de Musharraf
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.