São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Sem sanção, Otan adverte Moscou por conflito

Decisão expõe incapacidade americana de impor linha dura; em Poti, Rússia captura 21 soldados georgianos

Inna/Reuters
Russos vigiam georgianos em Senaki; tropa deixará Geórgia

DA REDAÇÃO

A reunião extraordinária da Otan, a aliança militar ocidental, realizada ontem em Bruxelas para tratar do conflito na Geórgia terminou com muita retórica contra a ação da Rússia, mas poucas medidas concretas. O saldo explicita a divisão dos 26 países-membros entre a linha dura defendida por Washington e a contemporização pregada pelas potências européias, que querem preservar as relações com Moscou.
Em comunicado emitido após a reunião dos chanceleres, o secretário-geral da aliança, Jaap de Hoop-Scheffer, disse que a relação com a Rússia não pode mais ser a mesma de antes até que o país cumpra o acordo de cessar-fogo mediado pela União Européia e se retire da Geórgia. "O futuro das nossas relações dependerá de ações concretas da Rússia", afirmou.
Scheffer disse que as reuniões do conselho de diálogo que a Rússia e a Otan mantêm estão suspensas nas "circunstâncias atuais", mas garantiu que não em caráter definitivo. Ele anunciou ainda uma comissão conjunta da Otan com a Geórgia para supervisionar a cooperação bilateral, mas sem que se definissem prazos ou iniciativas para acelerar o ingresso do país na aliança.
Abrandando o discurso, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, que participou da reunião, disse que Washington não irá pressionar para acelerar a adesão da Geórgia. Ela voltou a afirmar que os EUA, aliados de Tbilisi, não permitirão que a Rússia estabeleça uma "nova linha" na Europa entre a Otan e o restante.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que a Otan apóia o "regime criminoso" de Mikhail Saakashvili e que o comunicado terá conseqüências nas relações da aliança com Moscou. A Rússia cancelou ontem manobras conjuntas que realizaria com a Otan no mar Báltico.
Também ontem, o presidente russo, Dmitri Medvedev, comprometeu-se com o francês Nicolas Sarkozy a completar a retirada da Geórgia, inicialmente prevista para segunda, até depois de amanhã, à exceção de 500 pessoas que ficarão encarregadas das medidas adicionais de segurança.
Paralelamente ao encontro da Otan, a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) anunciou que enviará mais 20 monitores militares internacionais desarmados para a Ossétia do Sul e o entorno da região autonomista georgiana, pivô do conflito da semana passada. O total pode subir a cem para facilitar a saída russa.

Prisões
No front do conflito, novas movimentações foram relatadas. No litoral do mar Negro, a cidade portuária de Poti continua cercada, e 21 georgianos em uniformes militares foram capturados. Mais tarde, um fotógrafo da Associated Press registrou blindados russos levando os homens vendados e de mãos atadas.
Segundo autoridades georgianas, eram militares e policiais que vigiavam o porto e haviam impedido a entrada dos veículos russos e agora estão sendo mantidos em uma base militar na cidade de Senaki. O Estado-Maior da Rússia confirmou a prisão de 21 georgianos "fortemente armados" e agindo sob nenhum tipo de controle.
Um repórter da France Presse testemunhou também uma coluna de blindados russos deixando Gori em direção à fronteira da Rússia. Segundo autoridades militares, movimentações similares estão ocorrendo por todo o país. Para o Ministério do Interior georgiano, trata-se de mero "espetáculo", e nenhum tanque ou soldado russo deixou a Geórgia até agora.

Com agências internacionais



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