São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Opositores voltam a parar regiões em ato anti-Morales

Protesto, convocado por governadores e empresários, paralisou atividades em 5 capitais

Enfrentamento em encrave pró-governo em Santa Cruz deixa 5 feridos; greve ocorre dez dias após referendo, que ratificou Morales e rivais


DA REDAÇÃO

Os governos, o comércio e as principais empresas das capitais de cinco departamentos controlados pela oposição da Bolívia paralisaram atividades ontem em protesto contra o presidente Evo Morales. A mobilização de 24 horas provocou cancelamentos de vôos de La Paz às regiões e houve enfrentamentos entre grupos pró e contra a greve em um bairro na periferia da cidade de Santa Cruz, a mais rica do país. Os opositores prometem bloquear as principais estradas hoje.
Num sinal de que a crise política boliviana está longe de um desfecho, governadores e líderes empresariais e agrícolas do leste boliviano, apoiados pelo pobre departamento de Chuquisaca (centro), convocaram a paralisação para demonstrar força e unidade ante Morales após o referendo revogatório do último dia 10.
A consulta ratificou o presidente -com 67% de aprovação e vitória em duas regiões opositoras- e confirmou nos cargos, também com amplas votações, os governadores rivais de Pando, Beni, Tarija, que concentra a produção de gás, e Santa Cruz, que responde por 27% do PIB. Chuquisaca elegeu em junho também uma oposicionista.
Oficialmente, a greve ocorreu para exigir que La Paz devolva às regiões parte de um imposto sobre o gás, redirecionado pelo governo para pagar um benefício a idosos. A disputa sobre a verba, que os opositores consideram chave para ter autonomia administrativa, começou em dezembro passado.
De lá para cá o governo não cedeu. Os opositores tampouco aceitam o texto constitucional aprovado por governistas em 2007, embora Morales prometa uni-lo às propostas autonômicas. A mais recente tentativa frustrada de aproximar opiniões foi na semana passada.

Confrontos e impasse
Como em outras greves "cívicas" em Santa Cruz, houve confronto entre a União Juvenil Cruzenha (UJC), o braço mais radical da oposição, chancelado como força de segurança, e militantes pró-governo no Plano Três Mil, bairro pobre da capital, que agora reivindicam "autonomia" do departamento. A Polícia Nacional interveio lançando gás lacrimogêneo. Cinco pessoas ficaram feridas.
Desde a madrugada, a UJC "patrulhava" ruas e avenidas para garantir o sucesso da greve. Já simpatizantes do governo agrediram três repórteres de TVs tidas como opositoras.
Em Tarija, integrantes de uma réplica local da UJC ocupavam o edifício da Alfândega desde a noite anterior. Morales enviou soldados para reforçar a segurança em várias representações nacionais nas regiões.
"Foi uma paralisação pacífica", disse o empresário Branko Marinkovic, do poderoso Comitê Cívico de Santa Cruz, que reúne a elite econômica, que anunciou para hoje bloqueio de estradas. O governo respondeu chamando ao diálogo e dizendo que a greve, que em geral funciona como toque de recolher nas capitais, não teve adesão nas periferias e no campo, em mais um eixo de polarização.
"Está claro que houve uma votação cruzada no referendo e isso tem de ser debatido nas regiões", diz o analista Oscar Vega. Segundo ele, os oposicionistas estimulam a violência pontual para "dar idéia de caos e descontrole", mas sabem com isso que correm o risco de perder parte da simpatia da opinião pública.
(FLÁVIA MARREIRO)

Com agências internacionais



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