São Paulo, quinta-feira, 20 de agosto de 2009

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Pleito tem seções "escondidas" e ilustrações nas cédulas eleitorais

DO ENVIADO A CABUL

As peculiaridades da eleição afegã começam nos detalhes. Não há lista de locais de votação disponíveis para a população devido ao medo de que a divulgação antecipada atraia ataques do Taleban.
"Vamos ver amanhã na rua. Se não acharmos uma seção eleitoral facilmente, deve haver algum cartaz na mesquita do fim da rua", afirma o comerciante Haider Nazoor. O voto é facultativo no país.
Não existem seções eleitorais fixas entre as 7.000 pelo país. Quem for votar para presidente pode votar em qualquer local do Afeganistão. Já a votação para os Conselhos Provinciais, as Assembleias Legislativas locais, têm de ocorrer dentro da circunscrição territorial da Província em questão.
Como quem vota tem o dedo pintado com uma tinta considerada indelével, em tese ninguém pode votar para presidente em mais de uma Província. No pleito de 2004, a tinta não era tão indelével assim, e o próprio Nazoor conta que seu irmão votou três vezes em seções diferentes de Cabul. "Bastava passar detergente."
Os 15,6 milhões de eleitores registrados terão duas cédulas. Numa, 41 nomes de candidatos a presidente (embora cerca de 35 devam realmente concorrer), seus números, fotos e os símbolos por eles escolhidos para representá-los.
Como acontece no vizinho Paquistão, isso visa facilitar a escolha dos analfabetos -que no Afeganistão são estonteantes 72% do total da população. O presidente Hamid Karzai enverga uma balança, Abdullah Adbullah usa três potes de chá, e por aí vai.
Há símbolos curiosos. Dois candidatos escolheram aviões, e 1 das 2 mulheres no pleito usa uma maçã. Tentação? Não, no islã é o trigo o fruto proibido do Éden. Há uma picareta, naturalmente sem ironias.
Na outra cédula, que difere de Província para Província, estão os candidatos locais -3.000 em todo o país.

Resultados demorados
A logística é enorme, com 175 mil funcionários trabalhando no país, segundo a Comissão Eleitoral Independente. Seu porta-voz, Noor Muhammad Noor, afirma que os resultados primários deverão ser conhecidos em 3 de setembro, mas os finais, só no dia 17.
Caso nenhum candidato obtenha mais de 50% dos votos, haverá segundo turno em 1º de outubro.
Toda a apuração será feita localmente. Uma vez contados, os votos serão reembalados com seus resultados finais e mandados para Cabul.
O custo do pleito está na casa dos US$ 225 milhões, financiados pela ONU e pelos países presentes com tropas. Ainda que a ONU diga que o trabalho é todo da Comissão Eleitoral, a logística da eleição foi montada por seus funcionários.
Para tentar coibir fraudes, haverá cerca de 250 mil observadores. A grande maioria deles, mais de 220 mil, são ligados a candidatos e partidos. Há apenas 442 observadores internacionais e 255 jornalistas estrangeiros. A mídia local tem 497 registrados, e os observadores afegãos não partidários são 7.367.
"Temos 100 mil homens dos EUA e da Otan, quase 200 mil soldados para a segurança. Mas sabemos que o pleito será justo devido a esse outro exército", diz Noor.
Na eleição presidencial de 2004, 70% dos eleitores registrados compareceram às urnas. Qualquer número muito inferior a isso será considerado uma derrota para os EUA, os grandes patrocinadores do pleito, e o governo de Karzai. (IG)


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