São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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ÁFRICA

Texto ameaça regime de Cartum com sanções; para governo, decisão apenas atrapalha a negociação da paz em Darfur

Sudão diz que resolução da ONU é um erro

Antony Njuguna/Reuters
Mulher leva filho para ser atendido no campo de Kalma (Sudão)


DA REDAÇÃO

O governo do Sudão afirmou ter ficado desapontado com a resolução aprovada pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU, ameaçando o regime de Cartum com sanções caso não aja para encerrar a violência na região de Darfur. O texto foi apresentado pelos Estados Unidos.
Desde fevereiro de 2003, o conflito já deixou mais de 1,2 milhão de refugiados e provocou morte de cerca de 50 mil pessoas -a maior parte delas são vítimas de desnutrição e das péssimas condições dos campos de refugiados.
De acordo com autoridades de Cartum, a resolução aprovada no CS da ONU apenas prejudica os esforços para conter a violência e negociar a paz com os rebeldes tribais de Darfur. Porém o governo informou que vai aplicá-la.
"A resolução não faz o reconhecimento adequado dos esforços do governo sudanês. Ficamos desapontados", disse Ibrahim Ahmed Omar, líder do governista Partido do Congresso Nacional, após se reunir com o presidente Omar Hassan al Bashir.
O líder governista acrescentou: "Nós nos sentimos infelizes com a situação. A ONU não pode ser um lugar no qual os EUA ditem [a decisão]". Omar afirmou que, apesar de considerar injusta a resolução, "o governo sudanês é parte da comunidade internacional e com certeza adotará a resolução".
O texto foi aprovado no sábado por 11 votos a zero, entre eles o brasileiro. Quatro países se abstiveram: China, Rússia, Paquistão e Argélia. A resolução ameaça o regime de Cartum com sanções econômicas, principalmente na área do petróleo, caso nenhuma medida seja tomada.
Não é a primeira vez que o Sudão é ameaçado pelo CS. Uma resolução anterior, que obrigava o Sudão a desarmar as milícias árabes até o fim de agosto, não foi cumprida pelo regime de Cartum.
O governo sudanês é acusado de apoiar as milícias árabes conhecidas como Janjaweed, responsáveis pelas ações contra os rebeldes tribais. Cartum rejeita as ligações com os janjaweed, afirmando que os milicianos árabes "são uns marginais".
Segundo o Sudão, a pressão da ONU e declarações como a do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmando que um genocídio ocorre em Darfur, acaba por fortalecer a posição dos rebeldes na mesa de negociações, dificultando um acordo.
"A resolução é falha e envia uma mensagem errada para os rebeldes", disse o subsecretário das Relações Exteriores Mutrif Sideeq.

Comissão
O texto da resolução prevê que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aponte uma comissão para investigar os relatos de violação dos direitos humanos na região de Darfur e para determinar se atos de genocídio têm ocorrido, conforme acusam os EUA e outros países.
Habitantes de Darfur e grupos humanitários têm afirmado que a ONU não tem agido com dureza para conter a crise na região. Em conseqüência, o número de vítimas não pára de crescer. Segundo eles, a única coisa que o CS tem feito é dar mais tempo para o governo de Cartum.
Apesar de acatar a resolução, o presidente da Assembléia Nacional do Sudão, Ahmad Ibhrahim al Tahir, advertiu a comunidade internacional sobre o risco de uma intervenção armada no país. "Se o Iraque abriu um portão do inferno para o oeste, nós abriremos sete. Nós não nos renderemos."

Com agências internacionais


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