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Crise anunciada reflete aumento da insatisfação com o ingresso na UE
PAULO REBÊLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
BUDAPESTE
A fita que mostra a confirmação de que o primeiro-ministro
da Hungria, Ferenc Gyurcsany,
mentiu sobre o orçamento do
país durante quatro anos é apenas a ponta do iceberg de problemas que os húngaros devem
enfrentar daqui para a frente.
Com o vazamento da gravação, confirmou-se o que analistas econômicos desconfiavam:
os números da economia na
Hungria estão sendo maquiados há bastante tempo -sobretudo por causa da pressão da
União Européia (UE) para que
o país acerte as contas em passo
acelerado, reduzindo o déficit
público (um dos maiores da
UE) e gerando dinheiro em caixa para reformas estruturais.
Com o conhecimento público da falácia política, a pressão
da Comissão Européia deve aumentar ainda mais, complicando a vida do governo e dos cidadãos, que devem esperar novos
aumentos de impostos nos próximos meses, além dos que já
haviam sido anunciados antes
de segunda-feira.
A Hungria entrou para a UE
em 2004 e, até agora, não tem
conseguido realizar as reformas prometidas. Um dos principais entraves se refere à adesão ao euro. Nos últimos dois
anos, o governo sustentou a tese de que o país teria condições
de aderir à moeda comum européia em 2008, após as reformas que, supostamente, seriam
colocadas em prática.
No final de agosto, um relatório interno do governo vazou
para a imprensa e mostrou o
que a Comissão Européia desconfiava, mas não podia admitir: o país está longe de aderir ao
euro. Enquanto mantinha a tese de 2008 para o público, internamente o governo trabalhava com a hipótese "provável" para o início da conversão
monetária entre 2011 e 2016.
Aumento de impostos
Com o vazamento do relatório, protestos isolados se seguiram. O primeiro-ministro tentou correr atrás do tempo e
uma das primeiras reformas
anunciadas não poderia ter sido pior recebida: um aumento
de 5% na taxa de valor agregado
(VAT), que passou de 15% (valor já considerado alto) para
20% desde 1º de setembro.
A medida atingiu em cheio
empresas e pessoas físicas que,
desde então, precisam pagar
mais caro por praticamente todo produto adquirido em território húngaro. Antes da medida, a gasolina havia subido 30%
em agosto, o que também causou protestos.
Os protestos da última segunda-feira refletem não apenas o momento de intensa instabilidade política na Hungria,
mas, sobretudo, a insatisfação
dos húngaros com o papel do
país na UE.
Enquanto isso, o governo
ainda precisa gerenciar uma série de problemas internos, como a falta de manutenção do
transporte público, a responsabilidade sobre a inoperância
durante tempestade de 20 de
agosto em que cinco pessoas
morreram e 300 ficaram feridas e a redução da expectativa
de crescimento do PIB. Em outubro, haverá eleições municipais, o que ajuda a acirrar ainda
mais os ânimos.
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